Por Joedson Telles
O lugar comum reza que um ano eleitoral só se inicia depois do Carnaval. Para o PT, o ano 2020, contudo, parece atípico. A eleição de Aracaju começou, no final de 2019, quando o petista Silvio Santos não apenas colocou seu nome à disposição do partido para tentar derrotar o prefeito Edvaldo Nogueira como também prometeu, entre outras coisas, desprivatizar a máquina pública do município. Com que cara o PT apoiaria (apoiará?) Edvaldo depois dessa?
O desejo de colocar o PT diretamente na disputa com a promessa de reparar o que, em sendo provado, seria uma tremenda incoerência ao projeto iniciado pelo saudoso Marcelo Déda, em 2000, está registrado numa entrevista que o próprio Silvio Santos concedeu ao Universo, no dia 29 de dezembro.
De lá pra cá, curiosamente, não houve um só nome de peso do PT a se levantar contra os verbos de Silvio Santos. Nem o senador Rogério Carvalho, nem a vice-governadora Eliane Aquino, nem o deputado João Daniel… Até o ex-deputado federal Márcio Macedo, que já demonstrou ter interesse direto no pleito, optou pelo silêncio.
Evidente que em se tratando de PT, onde cada um diz, democraticamente, o que pensa e depois tudo é arrumado nas prévias, nenhum líder petista se apresentaria publicamente para reprovar os sentimentos ecoados por Silvio Santos. Criticá-lo muito menos.
Entretanto, fica evidente que, se o desejo de algum destes líderes fosse permanecer no palanque de Edvaldo, emergiria um discurso num tom conciliador de pronto. Silvio não seria sufocado, mas a entrevista, certamente, seria suavizada com palavras de conciliação.
O que parece é que o PT já sacou, há tempos, que não é mais o principal aliado do prefeito Edvaldo Nogueira. O agrupamento em torno do gestor cresceu vitaminado pela dinâmica da política, edificando acordos com outros partidos que, na prática, significam menos atenção e espaço para o PT. Edvaldo optou por não ser “o prefeito do PT”, mas “o prefeito de todos”. E política é luta por espaços, amigo internauta.
Edvaldo foi vice de Déda e teve como vice, nas duas eleições que disputou para prefeito, dois petistas: o próprio Silvio Santos e Eliane Aquino. Hoje, porém, está cristalino que, em Edvaldo sendo candidato, como tudo leva a crer, seria uma surpresa tremenda o PT estar na chapa.
Isso, evidentemente, incomoda o PT – pelo seu tamanho político, pela sua a história e, sobretudo, pela importância que teve para o êxito do prefeito Edvaldo Nogueira. Aliado de primeira hora, o PT sonhou sucedendo Edvaldo e terá que engolir outro projeto bem acordado. Cargos e outros benefícios ainda seguram parte do PT no grupo de Edvaldo, mas já não servem de cimento para o todo.
Se erra o PT ou Edvaldo é tema para outro texto. O fato é que petistas como Silvio Santos defendem, no fundo, que, se o partido não é visto e tratado por Edvaldo com a importância que acreditam ter, melhor o rompimento. Buscar construir um projeto diferente em outro palanque. E a vida segue…
P.S. Como estamos falando de política, e não de matemática, Edvaldo e PT podem se entender a qualquer momento e tudo ser harmonizado, estando ou não a PMA privatizada.