Por Joedson Telles
O presidente do PT de Sergipe, o ex-deputado federal Rogério Carvalho, assegura que, mesmo contrariando o desejo da Articulação de Esquerda, o partido não deixará o bloco político comandado pelo governador Jackson Barreto (PMDB). Ele entende que a coerência de Jackson com o PT precisa ser levada em conta, mesmo PT x PMDB sendo adversários na esfera nacional. “O PT só descolará de Jackson Barreto se Jackson descolar do PT. Ele não descolou do PT no momento do impeachment da presidente Dilma, tem manifestado opinião em relação ao futuro da política brasileira e do presidente Lula e paga um preço por isso”, observa. Rogério Carvalho também vai de encontro ao discurso que Michel Temer está ajudando Sergipe e, em nome disso, se deve “fechar os olhos” para o que está acontecendo. “A mesma coisa de você defender que um crime compensa outro. Eu não posso para receber uma emenda trair toda a população. O malefício dessa traição é 100 vezes maior do que o benefício”, diz. O ex-deputado também reafirma sua pré-candidatura ao Senado, opina sobre o nome de Belivaldo Chagas e sugere ao eleitor avaliar o mandato da senadora Maria do Carmo. “A cadeira continua vazia? Qual o destaque da senadora eleita nas últimas eleições? Qual a performance dela? Ela ocupou a cadeira que a gente dizia que estava vazia?”, indaga. A entrevista:
Tudo pronto para receber o ex-presidente Lula em Sergipe?
A agenda do presidente já está definida. Ele chega dia 20 à tarde, dorme em Aracaju. Dia 21 tem compromisso em Lagarto, Itabaiana e Glória e dia 22 tem compromissos em Aracaju. Alguns detalhes estão sendo definidos: que tipo de evento será feito, particularmente, em Aracaju e em Estância, que é a chegada e a saída. Só precisa de uma definição da coordenação nacional para a programação ser totalmente definida.
É uma visita de cortesia, uma pré-campanha?
Eu acho que é a necessidade que toda liderança política tem de interagir com o povo. Lula fez isso em 94 e foi um sucesso extraordinário. Ele foi presidente da República e teve um papel decisivo na mudança de vida, principalmente da população mais pobre. Pessoas passaram a ter energia elétrica, a juventude passou a ter acesso à universidade, quem não tinha casa própria passou a ter, quem não tinha crédito passou a ter… De maneira geral, o governo de Lula trouxe muita prosperidade – e é importante interagir com as pessoas, agora, porque é quase impossível num período eleitoral interagir com as pessoas. Não é só uma necessidade do presidente Lula: mas é uma necessidade do partido voltar a ter uma relação direta com a população, com os movimentos sociais. Ele tem título de doutor, que não recebeu aprovado pela Universidade Federal de Sergipe. Ele tem título de cidadania, que as Câmaras Municipais concederam a ele. E é a oportunidade dele receber essas honrarias que são meritórias. Além da interação e aproximação do Brasil que ele ajudou a construir, num momento de muita dificuldade, as pessoas sentirem que podem fazer de novo, tem também essa agenda formal de receber honrarias que foram concedidas a ele.
Todos os partidos aliados do PT serão convidados?
O presidente Lula não é uma personalidade exclusiva de um partido. É uma liderança política que transcende uma ordem partidária. É óbvio que ele pertence ao Partido dos Trabalhadores, e isso é uma honra para todos nós. Mas ele é uma liderança do Brasil. De toda a sociedade que acredita num país mais justo. Quem quiser estar próximo, participar, será bem vindo. Vamos convidar todas as lideranças políticas independente de qualquer divergência momentânea que possa ter ocorrido. A gente tem que pensar no futuro, nos desafios que se colocam no país e ninguém isoladamente vai construir um país que cuide de todos. Para cuidar de todos os brasileiros, que foi o lema da campanha de Lula, a gente precisa do maior número possível de cérebros envolvidos nisso, porque a tarefa não é exclusiva. É de todos que têm um projeto para o Brasil.
Lula se sente preparado e ciente da responsabilidade de encarar mais uma campanha num momento tão complicado?
Eu diria que, pelo compromisso histórico, ele se abala menos do que outras pessoas que não têm esse compromisso. O presidente Lula faz uma luta política histórica. Ele sabe o que é fazer mudança. Não se faz mudança com passe de magia, mas com lutas, com ação objetiva, e a luta política, às vezes, é desleal. Quem está construindo história sabe que pode ser agredido, perseguido. É só ver a última sentença que foi proferida ao presidente Lula sem nenhuma prova. Uma coisa absurda para nossa legislação, para quem opera nosso direito e para fora do país. O povo está vendo o quanto desleal tem sido algumas sentenças contra o presidente Lula. Ele tem compreensão do papel histórico dele e isso o conforta e fortalece. Quando você conversa com ele percebe uma fortaleza porque ele está preparado com um compromisso que é a construção da história. É visível a força que ele tem. A determinação, a disposição. Ele quer fazer de ônibus a caravana de Salvador até São Luís.
A última votação na Câmara Federal, que acabou rejeitando o prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer o fez ter saudade daquela Casa? Sentiu vontade de estar presente?
Deu vontade de estar ali para poder votar não (não parar a denúncia), mas não me deu vontade de ver aquele momento porque foi um momento constrangedor para nós brasileiros. Ver o comportamento massivo de representantes do povo que vendem a delegação que o povo lhe deu por algumas emendas para fazer qualquer tipo de atrocidade contra o próprio povo que os elegeu. É deplorável o que foi visto. Diante daquela grotesca cena de desrespeito à vontade popular, eu não queria estar ali. Eu acho que nenhum brasileiro gostaria de ter presenciado aquela cena deplorável. Centenas de parlamentares são vendidos e se colocam contra o pensamento e a vontade da maioria do povo.
Se dependesse de Sergipe, a denúncia seria investigada. Dos oito deputados, apenas dois votaram favorável ao presidente…
Como é um estado pequeno geograficamente, a pressão, o apelo da população levou mais fortemente aos parlamentares. Eu acho isso muito positivo. Em São Paulo, são mais de 35 milhões de pessoas, são 65 deputados e as pessoas se perdem. Aqui em Sergipe, todo mundo se conhece. Você interage o tempo todo com a população, o contato físico é muito próximo, além das redes sociais. É difícil você votar contra a maioria do povo sair às ruas. O povo vai dizer que traiu. Você acha que o povo não diz isso para gente nas ruas? Essa pressão é muito importante e eu acho que isso pesou bastante.
Como presidente do PT, como avalia o discurso que Michel Temer está ajudando Sergipe e, em nome disso, se deve “fechar os olhos” para o que está acontecendo?
A mesma coisa de você defender que um crime compensa outro. Eu não posso para receber uma emenda trair toda a população. O malefício dessa traição é 100 vezes maior do que o benefício que alguns milhões em emendas podem gerar. Quem está vendendo sua representação para apoiar a manutenção de um presidente que claramente foi pego com a mão na botija precisaria refletir sobre isso. Sem contar os tipos de projetos que são aprovados neste governo, que vai disseminar um rastro de morte muito grande. Vai ter menos dinheiro para saúde, educação, menos para assistência social depois que a PEC 95 foi sancionada pelo presidente da República, que é a PEC dos gastos públicos. Isso vai trazer um rastro de morte que ninguém tem a menor noção.
Acredita que há setores na oposição que até gostam do que está acontecendo, para disputar a eleição contra aliados de um Michel Temer desgastado?
O bom mesmo era que os direitos tivessem sendo preservados, que a gente tivesse com a economia crescendo. Eu acredito que ninguém está feliz e nem torcendo por isso, mas o fato de ter toda essa confusão gera uma expectativa de alternância de poder. É muito triste a retirada de direitos conquistados depois de séculos. Têm conquistas que levaram cem anos. As primeiras greves dos trabalhadores são cem anos de lutas e veio a CLT e todas as mudanças na lei. Eu acredito que ninguém fica feliz com a retirada de uma série de conquistas. Não acredito que as pessoas estejam torcendo que fique pior.
As pesquisas mostram o presidente Temer desgastado junto à população. Isso é explicado também pela ideia de o “golpe” estar na cabeça do eleitor? O PT conseguiu isso?
Eu acho que a denúncia do golpe feita pelo PT, com o impedimento da presidente Dilma, foi porque não tinha um motivo, um crime de responsabilidade cometido por ela. O golpe vem daí. Como você organiza um processo de uma presidente eleita democraticamente sem uma causa real. Aí está a gênese do golpe, sem contar o que foi tramado anteriormente, que foi não deixar aprovar nenhuma medida de estímulo e reorganização da economia, para deteriorar o cenário econômico do país e criar as condições para forjar um crime não cometido e tirar a presidente. Isso é um golpe claramente, que é diferente do que estamos vendo com o Temer. Não é porque ele está com baixa popularidade. Porque a popularidade pode ser alta e baixa dentro do governo. Isso não é motivo para tirar presidente da República. O motivo é se teve ou não teve crime. Estamos pagando o preço da imprudência de setores da sociedade brasileira que não sabem o que é democracia e não têm respeito pela democracia, porque se houvesse respeito pela democracia jamais parte da sociedade teria conspirado contra a democracia e patrocinado um golpe. Parte da crise é porque não tem liderança legítima para juntar os pedaços do país, porque feriram de morte a democracia do país. Não se mexe com coisas tão sérias com a leviandade que se conduziu a acusação da presidente Dilma e sua derrubada. É uma irresponsabilidade contra a democracia, um desrespeito ao país muito grande. A sociedade precisa refletir sobre isso. Como inventar um crime para tirar uma presidente eleita? A gente não compreende o valor da democracia. Quando tirou uma presidente que tinha compromissos mais largos com a sociedade, abre espaço para fazer qualquer tipo de reforma e a gente ver políticos eleitos agirem e darem as costas aos seus eleitores porque aquele público que está no governo e no Congresso hoje se sente dono do país. O interesse público é um detalhe secundário. Antes os negócios, as emendas, a manutenção no espaço de poder e depois, num plano secundário, o futuro e a esperança do povo brasileiro.
Mas concorda que outros governos agiram parecido com o governo Temer, neste aspecto de deixar o coletivo em segundo plano, não é?
Nesse momento, você tem uma gravidade porque se parece com regime militar. Quando você não tem a quem prestar contas e faz isso a um grupo pequeno que lhe colocou no poder, você vira de costas para a população e para o interesse público. Estamos diante de um grupo que está no poder que não tem compromisso. Não foi escolhido pelo povo para estar ali. O interesse público secundário. Estão ali para atender um grupo específico de setores da sociedade e para atender interesses muito particulares, como ficou demonstrado na iniciativa do próprio presidente na relação com a JBS.
O presidente escapou dessa, mas virão outras denúncias. Ele vai resistir?
Daqui pra frente, eu não sei se ele vai resistir. Eu não consigo imaginar do que esse parlamento é capaz. Um parlamento que consegue tirar direitos com a velocidade que esse parlamento fez e produzir efeitos devastadores na sociedade como um todo, é capaz de salvar Temer várias vezes. Talvez esse seja o menor dos males, porque o maior é o que eles estão aprovando no Congresso Nacional contra o interesse da maioria do povo brasileiro. É difícil imaginar do que esse Congresso é capaz. Ainda que as denúncias sejam futuramente apresentadas mais cabeludas, um Congresso que vota como votou é capaz de livrar a cara de Temer porque estará livrando sua própria cara.
Rogério Carvalho bateu na trave, nas últimas eleições para o Senado. E agora: é pré-candidato ao Senado Federal outra vez ou pensa no Governo do Estado?
Eu fui candidato a senador, mas puxaram a trave. Vários meios de comunicação colocaram pesquisas que não refletiam o pensamento do eleitor. Eu bati na trave, mas o que importa é que tive uma votação expressiva, não tenho mágoa, tenho gratidão por ter tido aquela votação e tenho o desejo de me apresentar novamente. O partido definiu meu nome para as disputas majoritárias em 2018, e obviamente que a disputa do Senado é o ponto que nos interessa, até porque eu venho de uma disputa e gostaria de representar meu partido, e ele me deu essa condição.
Já convenceu a Articulação de Esquerda?
A gente tinha um consenso que foi aprovado no congresso do PT. Definiu-se que, na primeira reunião do diretório, tiraríamos indicativo de voto e isto foi feito a partir de um consenso estabelecido por todas as forças. Não vejo e não sinto restrição ao meu nome. É mais uma questão de como fazer o debate, mas o partido sempre caminha junto. Desta vez, como a eleição se antecipou, até pra que a gente possa circular e o partido possa estar presente nas discussões, precisava de uma indicação prévia nesse sentido e o partido fez isso, que é muito importante para a gente participar do debate com alguma noção de como o partido vai caminhar em 2018.
A Articulação de Esquerda quer o PT descolado do governador Jackson Barreto. Como o presidente do PT avalia isso?
O PT só descolará de Jackson Barreto se Jackson descolar do PT. Ele não descolou do PT no momento do impeachment da presidente Dilma, tem manifestado opinião em relação ao futuro da política brasileira e do presidente Lula e paga um preço por isso. O PT não pode achar que tem a verdade e a fórmula mágica para resolver os problemas do nosso Estado e do nosso país. A gente pode liderar a frente em momentos históricos, como a gente liderou com Marcelo Déda, e é legítimo que a gente sonhe em liderar o futuro, mas liderar não é ter a exclusividade e a condição de que só nós podemos fazer. É preciso reunir o maior número possível de partidos, o maior número de setores da sociedade. Eu particularmente, e acho que é majoritário isso no PT, tenho a crença que para a gente reconstruir nosso país e melhorar a vida das pessoas que moram em nosso estado, é fundamental que a gente governe olhando para todos os setores da sociedade e envolva o máximo possível de organizações políticas partidárias e não partidárias que se articulem em torno de um projeto de governo. Óbvio que a gente precisa ter um projeto de governo que tenha essa disposição de melhorar a vida das pessoas, porque em última instância as pessoas querem plenitude, querem o céu aqui e agora, e o céu está na melhoria da vida das pessoas.
Há aliados do governador ameaçando deixar o bloco, caso não tenham espaço na chapa majoritária. E o PT?
Eu respeito a manifestação. A gente tem que manter o respeito e garantir que todas as forças tenham capacidade de movimentar-se. É preciso ser hábil para que o máximo possível de visões seja contemplado na formação de uma aliança política. Qualquer partido que se sentir excluído tem o direito de procurar outra alternativa. Mas eu não acredito que o PT vá se excluir porque eu acho que temos uma construção que não foi feita na troca. A relação que a gente tem com Jackson Barreto é desde 94. Algumas pessoas têm mais do que isso, e a construção desse campo político tem quase 50 anos de história, que vem depois da criação do PT e outros partidos. Não acredito nem na auto-exclusão do PT e nem do PT ser excluído. Eu trabalho com a hipótese de que este bloco vai se manter unido e que a gente vai ter espaço para que todas as forças sejam contempladas, e que a gente possa se somar a todo um programa de governo.
Seu pré-candidato a governador é Belivaldo Chagas?
Essa é uma discussão que ainda não foi iniciada. Mas de todos os quadros que estão nos partidos, eu acho que é legítimo apresentar Belivaldo. É uma pessoa que tem todos os requisitos exigidos para uma pessoa se posicionar. Agora, ter os requisitos não quer dizer que tem a preferência da sociedade e que vai ser o escolhido. Isso vai depender da construção política nesses últimos dias.
Rogério Carvalho para governador está descartado?
Nenhuma discussão está descartada, mas é mais dependente da construção do que da vontade individual das pessoas. O PT vai ter candidato majoritário e vai trabalhar para manter o bloco unido nesta disputa de 2018. Essa caminhada vai clareando e definindo de forma muito tranquila que posições cada partido vai ocupar nesta eleição de 2018. Eu acredito que as pessoas já amadureceram, não cabe chantagem. Nesse bloco tem manifestação de vontade, o que é legítimo e esperado e fundamental para política.
O então candidato a senador Rogério Carvalho fez duras críticas a então candidata Maria do Carmo, em 2014. Qual a avaliação que faz, hoje, do mandato dela?
Eu queria perguntar isso ao seu leitor. A cadeira continua vazia? Qual o destaque da senadora eleita nas últimas eleições? Qual a performance dela? Ela ocupou a cadeira que a gente dizia que estava vazia? Eu acho que o eleitor que votou nela e o que votou em mim já devem ter condição de fazer essa reflexão neste momento. Ás vezes a gente puxa pra gente essa reflexão que é responsabilidade dos eleitores. Vamos deixar que eles respondam pra si e para seus amigos o que pensam.