Por Joedson Telles
Acesso algumas páginas sergipanas na web e tomo ciência que o programa “Fantástico”, da Globo, exibiu, ontem à noite, uma reportagem sobre a denúncia do Ministério Público Federal contra os deputados estaduais de Sergipe, por conta do uso da chamada verba de subvenção. Os detalhes já foram fartamente noticiados aqui e em outros espaços.
Exceto jogos do Flamengo, quando não são exibidos em outro lugar, a emissora dos Marinhos figura como um zero à esquerda na minha modesta escolha. Descarto mesmo. Ao usar o meu curto tempo para fitar a tela da TV, opto por canais de jornalismo, esportes e filmes na TV fechada.
Mas voltando à reportagem do tal “Fantástico”, a julgar pelo que li, cato com uma lupa a novidade a justificar a imprensa sergipana reproduzir com destaque o que todos já sabem: há graves denúncias envolvendo deputados e o dinheiro do contribuinte, e aguarda-se o Tribunal Regional Eleitoral agir de forma séria. Em se confirmando as notícias, os pecadores precisam pagar pelos seus pecados. Eis o resumo da ópera. O que passar disso deve ser jogado na conta do sensacionalismo. Da psicose de tentar assumir o lugar dos magistrados.
Além de a reportagem representar uma pedra de gelo para os sergipanos minimamente informados, portanto, descartando de pronto a necessidade de reprodução da “novidade” por veículos sergipanos, indago aos botões: quem é a Globo para colocar o dedo na ferida? A emissora que historicamente, sem nenhum constrangimento, sobrevive à custa do embrutecimento da maioria dos brasileiros. Sempre atrelada ao sistema. Uma TV que nunca exibe Sergipe para o resto do Brasil de forma positiva. Mas quando é para expor negativamente, tentar humilhar, se permite ao luxo de até utilizar seu último “Fantástico” do ano com uma notícia sergipana. Lógico que exibiu para o Brasil, mas chegar ao ponto de pautar a mídia sergipana… Lamentável.
Na verdade, se a Globo quisesse, de fato, fechar o ano dando um choque nos telespectadores, com uma notícia de impacto, bastava abrir a porta de casa. Dar transparência, por exemplo, sobre quanto do dinheiro do contribuinte o governo do PT, o mesminho partido que ela tanto trabalhou para evitar que chegasse ao poder, colocou em suas contas bancárias via publicidades. Só este ano bastava. É possível imaginar, internauta? Quanto gastou e gasta a sangrada Petrobras com mídia na Globo?
Anotem: a Rede Globo e o seu “Fantástico” – e gosto não se discute – não terão a hombridade de fazer uma reportagem com igual destaque sobre a atuação positiva dos deputados que forem inocentados – sabe lá se todos, parte ou pelo menos unzinho. Aliás, vou mais longe: o jornalismo dos cajueiros e papagaios, que já condenou os 24 parlamentares antes mesmo de os magistrados do TRE vestirem as togas para iniciar os trabalhos, também dará o silêncio como resposta.
Longe, um oceano de distância, de velar aqui que um político que faz malversação do dinheiro público, ou no português comum, passa a mão cinicamente, seja blindado. Defender que não pague pelo erro? Jamais. Mas a fase de acusação, e já deixei o óbvio neste espaço, não pode ser o desfecho. Cabe a defesa. Há honras em xeque. O TRE ainda não julgou. Repito o que já externei outro dia, também aqui no Universo: várias foram as denúncias feitas pelo MPF que não encontraram eco no TRE. O MPF sempre faz a sua parte com seriedade, óbvio. Mas a ciência jurídica é assim. Não é matemática.
Há toda uma análise sobre as provas materiais e testemunhais apresentadas e ainda o chamado bom senso. Só depois vem a condenação ou absolvição. Até este dia, a notícia ética e imparcial é mostrar ao público que há ações lastreadas em graves denúncias, mas os acusados apresentarão suas defesas e o TRE julgará. Por enquanto é só isso. O que passar é sensacionalismo. Ou como diz o lugar comum: “é para vender jornal”. No caso da TV e sites, audiência e acessos, respectivamente.
