Por Joedson Telles
A exemplo de outros brasileiros, não nutro um pouquinho sequer de ódio pelo ex-presidente Lula, como tentam passar aqueles que nunca aceitam o contraditório, e jogam todo mundo na vala comum. Aliás, ao mesquinho sentimento não permito a vez seja lá por quem for. Além disso, nunca fico feliz com a desgraça alheia. Coisa de quem tem a Bíblia como manual de vida, apesar de não ter religião. E, assim, soa obviedade detalhar que não vibrei com a prisão do maior nome do PT, neste sábado inesquecível. Vibrar com a prisão de Lula é uma atitude pequena. Nada cristã.
Nem por isso, contudo, sou obrigado a acreditar na inocência velada pelo próprio ex-presidente, quando o Judiciário o condenou, dizendo justamente o contrário.
Entendo a comoção de pessoas que se beneficiaram com Lula no poder de alguma forma. De outras que gostam dele de graça, e se permitem ao luxo de acreditar na sua inocência e numa suposta engenharia para derrubá-lo do palanque das eleições presidenciais 2018 sem sequer refletir sobre o pressuposto. Paixão não se explica.
Entendo e respeito tudo e todos. Democracia. Mas nem por isso sou obrigado a concordar. Aliás, quando escrevo que entendo tudo ressalvo que excessos, agressões e violência formam a exceção da regra.
O fato é que Lula, antes de ser condenado e preso, teve todas as chances e uma estrutura jurídica que poucos têm no Brasil para se defender. Não conseguiu fazer isso nos autos, e levou adiante essa história de “golpe” que perpassa adversários políticos do petista e coloca qualquer um que não aceite sua versão em xeque.
Bolas! Saber que o governo Lula teve corrupção, que ele se cercou de pessoas, hoje, comprovadamente corruptas, algumas em cana, mas ele é inocente e vítima de mentiras do Ministério Público Federal, da Polícia Federal e do Poder Judiciário, inclusive do Supremo Tribunal Federal, é complicado. Tão complicado que o próprio Lula tenta jogar a conta no colo da imprensa, como fez, neste sábado, no seu último discurso antes de se entregar à Polícia Federal, à porta do no Sindicato dos Metalúrgicos.
Aliás, por falar no discurso, Lula, após passar pito no Judiciário e na imprensa, disse que já não é um ser humano, mas “uma ideia”. Foi cirúrgico. Concordei de pronto. Todavia, o ex-presidente não sublinhou que a democracia faculta a inteligência decidir se aprova e segue ou não uma ideia.
A prisão de Lula, que, como já dito aqui, não motiva alegria, precisa servir, para, entre outras coisas, que ele e seus seguidores aprendam a separar quem tem ódio ao ex-presidente e quem não tem nada contra ele, mas não é obrigado a defendê-lo sem ter a certeza da sua inocência. Aprendam a conviver e respeitar o contraditório.