Por Joedson Telles
Cresci ouvindo o lugar comum “pimenta nos olhos dos outros é refresco”. Há quem diga em outro lugar. De qualquer modo, só um insano arriscaria usar o diferencial do acarajé como colírio. Ou mesmo… Também não seria preciso se chegar a tanto para entender o sentido da dilapidada frase, que usaria se fosse professor do município de Aracaju para devolver a provocação infeliz feita pelo vereador Agamenon Sobral.
Após ouvir o professor e vereador Iran Barbosa, na sessão da última quinta-feira 25, na CMA, afirmar que estava se somando à causa dos educadores, mais uma vez, inclusive denunciando a vergonha de ter 12 anos de sala de aula, mas perceber apenas R$ 1.800,00, Agamenon Sobral teve a coragem de prometer, de pronto, cobrar ao prefeito João Alves cortar o ponto dos educadores. O “motivo”? O fato de educadores promoverem manifestação em busca de melhores salários. Dá para acreditar?
Aí eu pergunto? Será que se a pimenta estivesse a provocar ardência no nobre parlamentar do PP ele teria a mesma atitude? Dito de outra forma: será que se ele, enquanto ocupante do cargo passageiro de vereador, percebesse R$ 1.800,00 seria contra uma manifestação para rever a desfaçatez? Ou de forma coerente com sua atitude acredita que um parlamentar com as importantes atribuições que a sociedade lhe confia quando o elege estaria bem remunerado com a mesma mixaria? Hoje somando tudo, os vereadores têm em mãos todos os meses bem mais que 10 vezes o que ganha um professor. Aliás, talvez isto explique a facilidade com que Agamenon abriu a boca para sugerir a asneira.
É preciso informar ao vereador do PP que o Brasil, mesmo recheado de vergonhosos problemas, é um país onde o trabalhador tem o direito constitucional de manifestar sua insatisfação – sobretudo contra uma acinte tão grande à educação de qualidade, como não reconhecer o valor do professor. A greve é um direito do trabalhador. Mesmo afrontado, vez por outra, mas é um direito de quem trabalha. E é bom lembrar que os professores sempre repõem as aulas que deixam de dar nos períodos de greve.
É lógico que não estou aqui pregando que o Poder Executivo assuma um compromisso que não pode cumprir. Entretanto, uma negociação é sempre salutar. O diálogo e a transparência dos números devem ser sempre prioridades para se buscar o chamado denominador comum. Não é simplesmente cortar o ponto, e pronto – como sugere Agamenon.
O prefeito João Alves, creio, seria pouco inteligente, para escrever o mínimo, se colocasse em prática o conselho dado pelo “aliado”, que, aliás, mostrou seu cartão de visita assim que assumiu o mandato, ao não votar em Vinícius Porto, candidato de João e Machado, para presidir a Mesa da CMA. Faca no pescoço? O que houve?
O vereador Agamenon, que, acredito, já foi aluno um dia, precisa entender que os professores no Brasil, e não apenas em Aracaju, são injustiçados. Formam uma classe intelectualizada, guerreira e sempre pronta a engrossar movimentos pelo que acredita, mas injustiçada.
Pelo serviço que presta, já prestou e prestará, os professores nem precisavam protestar por melhores salários. Deveriam ter o reconhecimento de todos no automático. Quem chegou ao topo se dando ao luxo de não precisar de um professor? Quem? Gostaria de dar a palavra ao nobre Agamenon. É como diz aquela musiquinha: “a base de toda conquista é o professor… todo bom começo tem um bom professor”.
Adianto que se há poltrões escondidos no argumento que existem professores ruins, professores que não merecem defesa, não se encaixam na musiquinha, isso é uma outra história. Estamos falando da classe, e não de casos isolados. Até porque nem líderes religiosos, cujo ofício é falar do amor de Deus, são exemplos de 100% de perfeição. Há os desvios.
Os professores merecem apoio e respeito. Não podem ter seus sonhos e lutas asfixiados, seja lá qual for o pretexto para se propor o absurdo. Quem não consegue enxergar a importância dos professores para a evolução da sociedade dará valor a qual profissional, se a educação é a chave que abre o progresso?
O professor precisa e deve ser bem remunerado. Isso não apenas para ter uma vida digna e confortável – assim com ajudou a construir vida idêntica para inúmeras pessoas -, mas também para ter acesso a livros, mídia impressa, artes, teatro, cinema e outras formas de aumentar a bagagem cultural que levará à sala de aula para dar conhecimento aos alunos – ainda que alguns, de forma ingrata, retribuam o bem revelando-se cruéis algozes.
P.S. O falecido antropólogo Darcy Ribeiro cunhou a histórica frase que fracassou, ao lutar por uma educação séria, mas que detestaria estar no lugar de quem o venceu. Assino embaixo, Darcy.