Por Joedson Telles
Lembra que ao resumir o que sentiu quando viveu na pele aquela polêmica história do lixo de Aracaju (os detalhes são de conhecimentos de todos), o ex-deputado federal Mendonça Prado externou que o prefeito Edvaldo Nogueira o tratou como um acometido pela hanseníase? Distância total. Sequer um telefonema… Sentimento idêntico nutre, hoje, o senador Antônio Carlos Valadares pelo deputado federal André Moura. Está cristalino. Valadares só não consegue ser cirúrgico como Mendonça nos verbos, mas quem acompanha a política sergipana, com o mínimo de percepção, já sacou: Valadares vê André Moura como um leproso.
Não há cimento de primeira qualidade que conserte a rompida aliança política. Cada um para o seu lado e ponto final. O resto é resíduo. Até os políticos têm limites. Vergonha na cara. E não há mais clima para um pedir voto para outro. E nem acredito que isso passe pela cabeça dos dois. Ou dos três, incluindo aí o deputado federal Valadares Filho.
A única possibilidade imaginável de reatar a aliança Valadares/André Moura (embora Valadares, o pai, já disse que a aliança era com o senador Eduardo Amorim) seria o projeto de reeleição do senador do PSB e uma candidatura ao Governo do Estado por parte do líder de Temer.
A julgar pelas notícias – e, sobretudo, pelos bastidores – jogar o senador Eduardo Amorim para escanteio não seria problema para André Moura, que espelha ditar as regras no grupo como um trator. O Rogério Carvalho da oposição, digamos.
O problema para a construção da suposta chapa é que, além de as pesquisas colocarem Valadares Filho bem posicionado para a disputa do governo, e o senador em primeiro para o Senado, estimulando, assim, uma majoritária partindo de pai e filho, Valadares não quer ter seu nome associado ao de André Moura. Como já externei aqui, o vê como um leproso.
A bactéria a transmitir a lepra, pelo que disse o presidente do PSB de Aracaju, o vereador Elber Batalha Filho, seria não apenas os problemas que André tem com a Justiça, mas também a sua ligação com um presidente com fama de golpista e distante da simpatia popular.
“É o líder do governo mais impopular da história do Brasil. André Moura é uma pessoa que está no foco de varias investigações. São inúmeros processos, além da citação dele na denúncia apresentada contra o presidente Temer como um dos principais articulador de Eduardo Cunha”, afirmou Elber numa entrevista que concedeu ao Universo, há duas semanas, e em sintonia com o que o próprio Valadares, registraria, ao ser provocado pelo radialista Gilmar Carvalho, na Mix FM, esta semana.
O anúncio de uma pré-candidatura do presidente Michel Temer a suceder a si mesmo, feito pelo próprio, esta semana, só agrava a doença. Aliás, Elber Batalha também antecipou a possibilidade aqui no Universo, e alertou o que soa óbvio. “… Essa chapa vai caminhar com Temer no interior de Sergipe, se ele for candidato a presidente? Ou vai ser líder e depois abandonar? Aí as emendas não saem…”, disse.
De fato, André trairia Temer ou a si mesmo, ao avocar mais desgaste para o seu projeto pessoal, ao desfilar com o rejeitado Temer em solo sergipano? Prato cheio para o PT, aliás…
Os caminhos dos ex-aliados estão traçados e são opostos. Valadares continuará construindo a terceira via. Busca mais dois nomes de peso que possam se juntar a ele, que é pré-candidato a reeleição, e ao deputado federal Valadares Filho, pré-candidato ao Governo do Estado. Nomes estes obrigatoriamente ficha limpa e sem avocar desgaste de governos rejeitados. Valadares, percebam, quer mesclar o novo com o experiente sem manchas.
Por sua vez, André Moura vive a dúvida: joga tudo numa candidatura ao Governo do Estado, pra mim um suicídio político, oficializa uma pré-candidatura ao Senado, muito difícil, mas não impossível ou tenta a reeleição, que teoricamente é um projeto mais fácil e lhe garante também o foro privilegiado que soa oxigênio.
Seja qual for sua decisão, André tem a seu favor o que já conseguiu para Sergipe e o que ainda espera conseguir via essa amizade perigosa que tem com Temer. Em cumprindo a agenda, mesmo descartando a traição de praxe neste meio, terá prefeitos à disposição do seu projeto. Não terá a garantia dos votos dos respectivos eleitores destes municípios é evidente, mas palanque sim. Uma musculatura, ao menos na teoria, invejável.
Por outro lado, o líder do governo rejeitado precisa trabalhar mais a sua imagem. Asneiras postadas em redes sociais se mostram falidas. As pesquisas continuam favoráveis aos Valadares, espelhando que estes, sim, ocupam as redes e a própria imprensa de forma mais atrativa. Inteligente.
Já disse neste espaço, se a política é profissional o marketing também tem que ser. Se o pré-candidato André Moura quer ter chance real de vitória, o André Moura trabalhador incansável, o que viabiliza recursos para Sergipe, inclusive para adversários políticos, precisa superar, e muito, o André Moura dependente de uma assessoria jurídica perene para lidar com o que o adversário Elber Batalha define como “vários processos”. Julgando pelas pesquisas ventiladas, não tem meio termo: ou o produto ou o marqueteiro não serve.
“Ah, mas André está melhorando nas pesquisas…”, desculpam-se sem outra opção. O problema é saber: se, de fato, a tal melhora for real, é o suficiente para o líder encarar uma disputa majoritária, sabendo que os adversários já estão apostos para explorar o óbvio?
Do outro lado da rua não tem amador. Tem Carlos Cauê, por exemplo. Profissional que dispensa apresentação. Esperto, permuta o tempo que desperdiçaria postando besteiras em redes sociais em construir a derrota adversária. Os últimos pleitos resumem bem. Aliás, na mais recente campanha eleitoral, com a influência de Cauê, Edvaldo Nogueira tratou André Moura como um leproso pronto a contaminar uma possível gestão de Valadares Filho na Prefeitura de Aracaju. Parece que colou.