Por Joedson Telles
Em política, os mais experientes não têm um segundo de dúvida: poucos gestos valem mais que mil palavras. Com base nesta realidade, ainda que o prefeito de Aracaju, João Alves Filho (DEM), desconverse, e o senador Antônio Carlos Valadares (PSB), seu adversário nas últimas eleições, adote a mesma postura, o estreitamente dos limites geográficos entre os dois políticos rodados vitaminam a frase que abre este texto. Entre almoços e jantares, Valadares se aproxima, quer dizer, se reaproxima do prefeito de Aracaju, e, para os mais atentos, a possibilidade de aliança para 2014 já é real.
Evidente que, hoje, Valadares não apenas é aliado do governador em exercício Jackson Barreto (PMDB), mas também aposta em sua pré-candidatura ao governo. Até porque um rompimento neste momento significaria abrir mão de inúmeros cargos comissionados no governo Déda/JB. Aliás, segundo o deputado estadual Augusto Bezerra (DEM), são mais de 600 cargos. E não seria um político esperto e experiente como Valadares que descartaria o “filé”.
Entretanto, à medida que o relógio faz seu eterno cooper, e a indefinição quanto ao afastamento definitivo do governador Marcelo Déda, facilitando o projeto de JB suceder a si mesmo é o regime, Valadares começa a analisar a possibilidade de o navio naufragar antes mesmo de deixar o porto. E, astuto, já amadurece o plano ‘B’. Hoje Valadares projeta emplacar o deputado federal Valadares Filho – uma das poucas revelações da política sergipana – como candidato a vice-governador numa chapa, óbvio, que tenha condições reais de vencer as eleições. Não quer queimar o “garoto”, que já perdeu a virgindade em 2012. Valadares não deixa de ter razão. A política é dinâmica e aquela história do cavalo que se oferece passando é verídica.
O problema, creio, é que a indefinição não soa exclusividade do grupo de JB. João Alves, como parece ser cultural na sua forma de fazer política, deixa para externar seu papel nas eleições só nos descontos. Quando está bem próximo de o juiz apitar o final do jogo. E 2014, note-se, o suspense tende a ser ainda maior.
Primeiro porque João Alves não pode decidir sozinho. O mandato da senadora Maria do Carmo termina em dezembro de 2014. E, obviamente, ela se posicionará dentro do DEM: ou disputa a reeleição ou abre mão com o objetivo de facilitar uma composição em prol de uma candidatura de João ao governo – o que, em obtendo o aval do eleitor, possibilitaria a senadora voltar à Secretaria de Ação Social para desempenhar um trabalho o qual gosta muito. Nesta conjuntura, João teria ainda a tranquilidade de ter no fiel amigo José Carlos Machado um prefeito comprometido em dar sequência ao seu trabalho sem prejuízos para a população.
Por outro lado, Maria pode querer continuar em Brasília. Neste caso, as chances de uma candidatura de João ao governo diminuiriam. Mas longe de zerar. Já tivemos eleições com a dobradinha João para governador e Maria para o Senado. Todavia, como o contexto é outro, acredito que João não ousaria o chamado puro sangue, principalmente se tiver como adversários Eduardo Amorim e JB – este último com o peso da máquina. E aí aquela conversa de bastidores que Maria pode disputar o Senado numa chapa que Eduardo Amorim disputaria o governo ganha força…
Mas, voltando à indefinição de João Alves, outro motivo que não possibilita ele anunciar agora qual será seu papel nas eleições de 2014 é o fato de, como prefeito de Aracaju, não poder se dar ao luxo de contrariar o governador – seja Déda ou Jackson –, já que o município carece do Estado para suprir suas demandas. Sem falar no Governo Federal da presidente Dilma Rousseff, aliada de Déda e JB. João governou Sergipe sendo inimigo do presidente Lula e sentiu na pele o que isso significa. Escaldado, e com mais cabelos brancos, não deve pensar em repetir a dose. E, por fim, é evidente que pesa também o sentimento dos aliados do senador Eduardo Amorim por uma candidatura sua ao governo. João, ao ventilar suas pretensões, caso não seja apoio ao PSC, lógico que terá como oposição a bancada do próprio PSC. O que também não seria nada bom para um prefeito que precisa ter forças em Brasília.
P.S. Uma aliança entre João e Valadares deixaria conhecidos servis do senador de calças nas mãos. O discurso contra João, tentando humilhá-lo, sobretudo em 2012, seria engolido seco.