Por Joedson Telles
No início do ano, postei neste espaço um comentário com o título “Valadares pavimenta saída do grupo governista. E quer pela porta da frente”, cujo primeiro parágrafo reproduzo a seguir. Depois entro em campo.
O senador Antônio Carlos Valadares (PSB), um dos homens mais inteligentes do Brasil, quando o assunto é política, pavimenta sua saída do grupo governista. Em se confirmando o desejo do seu coração, e o acordo com João Alves ir além das conversas (para alguns só falta ser oficializado), com o gesto de colocar os cargos que tem no Governo do Estado à disposição do governador, ele diz claramente que está a cogitar não pisar no palanque de Jackson Barreto. Vale lembrar que Eduardo Campos, pré-candidato a presidente da República pelo mesmo PSB de Valadares, fez o mesmo com a presidente Dilma Rousseff e aconselhou aliados a seguir a cartilha. O maior nome do PSB nacionalmente quer e precisa ter um palanque em Sergipe.
No gramado. Eis que, agora, vem a confirmação da notícia. Respeitando a inteligência do internauta, precipito-me: nem um mérito, entretanto, para o que assina este texto. Muito menos bola de cristal. Aliás, muita gente do povo cantou a previsível pedra, mas não teve espaço na mídia para ajuizar. Apenas houve coerência e inteligência por parte de Valadares. Se o presidenciável pelo PSB, Eduardo Campos, precisa de um palanque em Sergipe, e se Valadares sente que tem a chance de se aliar a quem lidera as pesquisas, no caso o Negão, qual a lei a proibir o desligamento do Governo do Estado? A política não deveria ser, mas é um jogo de interesses.
Creio que o problema está mais no fato de o senador Valadares não assumir isso. Como disse, ele quer deixar o governo pela porta da frente. Quer o bom discurso, após mudar de lado. Essa história de ser expulso do projeto não convence. Além do que já disse no parágrafo anterior, percebam que se ele quisesse (e pudesse?) ficar no grupo assim o faria. O governador Jackson Barreto em momento algum o expulsou – como ele tenta emplacar. Não optar pelo PSB na chapa majoritária não é sinônimo de expulsá-lo do agrupamento. Se fosse assim, PC do B e PSD, entre outros, teriam levado o cartão vermelho há tempos. Ou não?
O problema é que na chamada chapa majoritária só há três vagas: uma para o PMDB, outra para o PT e a terceira, que o grupo tenta ver preenchida tendo o DEM no palanque, assegurando, assim, uma suposta transferência de votos. Em isso dando certo, e em Valadares permanecendo no grupo, os quatro partidos estariam contemplados na majoritária, já que o PSB já tem vaga no Senado com o próprio Valadares até o ano de 2018. Detalhe: eleito no mesmo agrupamento.
Note-se que, uma vez esta seja a aliança, ao contrário do PSB, nem PMDB, nem DEM e nem PT tem qualquer garantia de vencer as eleições e morderem o filé, a partir de janeiro de 2015. Mesmo com a suposta chapa sendo suficientemente robusta para encarar as eleições, só uma pessoa muito ignorante no terreno da política teria a coragem de subestimar a força eleitoral do senador Eduardo Amorim. As eleições de 2010 persuadem melhor que qualquer imagem ou texto. Sem falar na densidade eleitoral do deputado estadual Adelson Barreto e na força do agrupamento…
…Acredito que a oficialização da saída do senador Antônio Carlos Valadares do grupo governista ratifica o código amarelo no projeto Jackson Barreto 2014. O governador pré-candidato, que tenta passar a ideia que seu foco está apenas da gestão, sabe mais que qualquer um que o relógio é inimigo. Sem Valadares e com um PT em baixa, JB parece depender muito mais do que pensava da aliança com João Alves para não ver seu sonho terminar em pesadelo. Uma candidatura de João Alves ou, sobretudo, a permanência da aliança João Alves e Eduardo Amorim, feita nas eleições municipais de 2012, tornaria seu projeto praticamente inviável. Não é preciso bola de cristal: qualquer um é capaz de enxergar.