Por Joedson Telles
Outro dia, trouxe para este espaço um diálogo que pesquei na barbearia sobre a política genuína. O assunto girava em torno de os políticos terem como único objetivo passar a mão no dinheiro que de público só tem mesmo o epíteto. Dormem, sonham e acordam pensando em “mamar”, diziam com suas palavras.
Barbearia parece o lugar perfeito para este tipo de prosa. Creio, inclusive, que um assessor político, ao se infiltrar entre os clientes, colhe informações mais fieis à realidade do eleitor que uma qualitativa bem feita. É só estar bem pautado. O problema é filtrar as asneiras. Algumas maldosas. Outras espelham ignorância. Nenhuma contribui com a boa política.
A última vez que estive na barbaria, a conversa girou em torno de o senador Antônio Carlos Valadares não abrir mão de usar um belo chapéu durante as sessões plenárias do Senado. Desceram o sarrafo por conta de uma bobagem desta. É mole?
Como das outras vezes, optei por me fazer de desentendido enquanto o barbeiro fazia o seu trabalho embalado pelas críticas ao senador. Imitei aqueles três macaquinhos espertos que “não enxergam, não escutam e não falam nada”. Do jeito que o stress domina as pessoas, atualmente, qualquer gentileza é motivo para briga. Imagine uma argumentação consistente? Melhor o silêncio.
Todavia, com os confidentes botões não tive segredo e pensei enquanto a tesoura abria e fechava decepando pedaços de fios descartáveis: é deprimente ratificar o despreparo de certos eleitores para julgar os políticos. E tenha certeza: uma pesquisa revela facilmente que os comentaristas das barbearias não estão isolados no equívoco.
Longe de querer ser advogado do senador, o máximo que se pode dizer é que o tal chapéu deixou de ser obrigatório no chamado passeio completo há décadas. Valadares estaria, digamos, fora de moda. Mas julgar um parlamentar pelo traje, sobretudo em época de revelações no atacado de como a política tem servido para corruptos comprovarem a falta de limites?
Já estava naquela parte do corte em que a navalha acerta a costeleta sem misericórdia dando um ar jovial quando o termômetro subiu. Senti vontade de indagar: e quantos dos que não usam chapéu têm a moral do senador sergipano? Pegue os anos de vida pública de Valadares, a mega lista dos políticos envolvidos em corrupção no Brasil e procure o nome dele na lama? Não consta. O sergipano é uma reserva moral até que se prove o contrário.
Mas me contive. Guardei o juízo para externar aqui em terreno apropriado. Não estou julgando o trabalho de Valadares ao longo do tempo. Podemos fazer isso em outra oportunidade. Mas o fato de assistirmos, sobretudo nos últimos anos, a tanta revelação de gatunos incontroláveis e, mesmo estando há anos e anos na vida pública, tendo as mesmas chances, Valadares nunca foi sequer acusado de qualquer ato de corrupção.
Talvez, diante do meu argumento para refutar a asneira de se pegar no pé do senador por conta de um chapéu fosse a velha e correta frase “o homem público tem obrigação de ser honesto”. Perfeito. Mas num país onde a corrupção existe até numa fila de se marcar exame médico, e cujos políticos estão sempre em xeque, por dever de justiça, devemos sublinhar o caráter ilibado do senador Valadares.
A propósito, antes de deixar a barbearia, lembrei que, enquanto aqueles comentaristas de moda detonam o senador, a maioria do eleitorado – e os dados são de pesquisas – o coloca como o primeiro colocado não apenas para o Senado Federal, mas também para o Governo do Estado. Valorizam o ficha limpa Valadares. Com ou sem chapéu.
Por outro lado, políticos quando acusados de praticar atos corruptos despencam. Lideram, mas a lista dos rejeitados. Ainda que preguem serviços prestados. Parece que ladrão, mesmo quando trabalha, acaba abdicado. E se este é o juízo popular, cá pra nós, Valadares vai tirar o chapéu? Óbvio que não. Poderia ter dito isto, mas preferir dar a última conferida no cabelo, pagar a conta e me mandar.