Por Joedson Telles
Umas das publicidades mais reais que vi, nos últimos anos, é aquela que toca uma musiquinha cuja letra diz que “todo bom começo tem um bom professor”. Uma verdade tão factual que nem o vereador ranzinza Agamenon Sobral seria capaz de colocá-la em xeque. Acredito que nós jornalistas merecíamos uma publicidade parecida, cuja letra seria mais ou menos assim: “Toda denúncia que beneficia a sociedade tem um bom jornalista”. Evidente que um publicitário razoável faria uma frase bem melhor. Todavia, contento-me não só com o conteúdo, mas, sobretudo, com o trato diária das notícias e suas modestas análises. Amo ser jornalista.
O importante, note-se internauta, é entender a importância do profissional jornalista, e, óbvio, dos colegas radialistas. A corrupção que sangrou o dinheiro suado do contribuinte foi denunciada pela imprensa escrita, falada e televisada. O escândalo levou à Polícia Federal a algemar os ladrões e trancá-los. Se foram soltos, é outra história. A falta de médicos e medicamentos nos postos de saúde e hospitais públicos foi manchete em todos os sites, blogs e portais, e os gestores são obrigados a resolver o problema. A força da informação massificada prejudicará, por certo, a próxima campanha eleitoral. A mídia conscientiza o eleitor. Pelo menos parte dela e dele. O rádio entregou de bandeja o filhinho de papai que colocou o carro por cima de um jovem e o deixou paraplégico. Também denunciou o estuprador de menor que deu no pé. A mídia vive a denunciar e cobra da polícia a elucidação para os diversos crimes. Ecoa a dor das vítimas e familiares delas.
A falta de um transporte digno, o alto preço da tarifa do ônibus, a falta de professor na escola pública, a necessidade de haver reformas nos prédios, a evasão escolar, o grande número de reprovação, os ladrões que roubam a merenda escolar, o déficit habitacional, as inúmeras crianças que morrem de fome, o grande número de pessoas desempregadas, a casa do pobre que não resistiu à chuva e caiu, mas o poder público fez pouco caso, o político que saqueou os cofres da saúde para ser eleito, o cara que matou a mulher e ainda recebe a pensão dela em liberdade, as greves, o mensalão do PT, o mensalão do DEM, as manifestações com policiais e jornalistas agredidos…
Estes fatos e outros tantos não mencionados gritam de forma persuasiva: “Toda denúncia que beneficia a sociedade tem um bom jornalista”. Já imaginou se não houvesse jornalista nestes momentos? O país já é um caos, imagine sem jornalistas? Haja roubalheira e injustiça, mesmo com as constantes denúncias. Já imaginou se não houvesse jornalista? Evidente que, sem muito esforço, o internauta sabe que o mundo – sobretudo locais como o Brasil – estariam de cabeça para baixo (mais ainda) não fosse a vocação dos jornalistas para dar transparência aos fatos à sociedade cuja força do voto assusta os maus políticos. E, muitas vezes, o jornalista paga caro por isso. Às vezes com a própria vida.
O que talvez seja desconhecido da maioria das pessoas é que para cumprir essa importante missão social, os jornalistas sergipanos, em sua grande maioria, sobrevivem com um mísero salário que o mantém longe da dignidade inerente à sua responsabilidade. Um dos mais baixos pisos do Brasil. R$ 1.181,28 para ser preciso. Não paga uma garrafa do vinho ou wisk consumido por certos políticos numa sentada. Entre eles alguns que entraram na vida pública puxando a cachorrinha. Vergonhoso, mas verdadeiro.
Na manhã desta quinta-feira, dia 27, os amigos jornalistas estarão nas ruas do centro de Aracaju protestando pacificamente contra esta vergonha. Reivindicarão o reconhecimento da intelectualizada e importante profissão. O pleito é modesto: um reajuste de 15%. Vejam só: 15%. Nada que deixe o piso do jornalista onde merece a categoria. Mas nem assim os patrões aceitaram: ofereceram apenas 7%. Uma desfaçatez – sobretudo quando levamos em conta o faturamento das empresas de comunicação.
Ao lado dos companheiros radialistas, os jornalistas rejeitaram de pronto o desaforo. E estão nas ruas hoje denunciando. Só que, agora, cabe à sociedade a missão de apoiar e se indignar com tamanha injustiça com profissionais que vivem para o social. Mesmo quem não é jornalista ou radialista precisa comparecer. Uma imprensa fraca só interessa aos que têm compromisso com o erro. E, lógico, que uma imprensa forte com profissionais de qualidade só se faz com o reconhecimento desta importante e, mesmo injustiçada apaixonante, profissão.
P.S. O ato é a partir das 8 horas, no calçadão da rua João Pessoa, em frente à Caixa Econômica Federal.