Por Joedson Telles
As declarações do governador em exercício Jackson Barreto sobre utilizar críticas da imprensa para cobrar soluções aos seus secretários de Estado em benefício, não da mídia, mas da sociedade deveriam servir de bússolas para o exercício do jornalismo em harmonia com o que, de fato, interessa a Sergipe. Evidente que o governador não se referiu a quem usa da crítica pela crítica com outros interesses, mas, nas entrelinhas, não deixa de dizer que o jornalismo que faz vistas grossas para os erros do governo é descartável – exceto, evidente, para quem teima em sobreviver do ambíguo.
Há um ano das eleições de outubro de 2014, à medida em que o tempo passa fica mais latente a intenção de setores isolados da mídia dos cajueiros e papagaios de corromperem a consciência do eleitor menos atento. São análises longas ou comentários curtos dos mais variados, mas todos com o mesmo pano de fundo: desgastar políticos que, em tese, sejam adversários de aliados dos que se prestam a tal papel tortuoso. Jornalismo voltado para os interesses plurais só tem sentido quando vela a verdade factual, dando o mesmo espaço a todos os lados da história. Escondeu fatos, usou de sensacionalismo com outros, censurou, acabou. Pode se batizar a ação com qualquer palavra menos jornalismo.
Nesta cultura acentuada a cada eleição, a bola da vez, ou as bolas principais do momento são o governador em exercício Jackson Barreto e o senador Eduardo Amorim – que já anunciaram pré-candidaturas ao Governo do Estado. Talvez o fato de, inteligentemente, o prefeito João Alves deixar no ar se entra ou não na disputa, os agentes deste “jornalismo” de interesse próprio não partam com tanta obrigação para desgastá-lo. Mas no tocante a JB e Eduardo Amorim a impressão que se tem é que vale o que a imaginação mandar para jogá-los na vala comum. É como se houvesse uma disputa para ver quem consegue destruir primeiro a imagem adversária.
As campanhas negativas não escolhem meio de comunicação. Qualquer brecha é bem vinda. Paira “muito bem” também nas redes sociais. Aliás com bem menos escrúpulos e bem mais desrespeito à inteligência alheia. A tese é sonegar de forma descarada trabalhos e ações de inimigos e exaltar até o que os aliados não fizeram para tentar persuadir o eleitor. Neste contexto, o contraditório poucas vezes faz parte do dicionário. Acaba sendo um verbete nulo. E, cinicamente, como se todos fossem desprovidos da mínima inteligência, há os que achando pouco o trabalho tendencioso, às vezes asqueroso, ainda fazem publicidade do erro como se tivesse uma notícia excelente para o social.
Evidente que o governo Jackson Barreto tem seus erros. Da mesma forma, não existe perfeição no senador Eduardo Amorim. E a mídia, por sua vez, cumpre seu papel quando mostra isso à sociedade para que, no momento certo, faça seu julgamento. Seja analisando os fatos ou abrindo espaço para que os próprios políticos delatem adversários, a mídia tem a obrigação de dar transparência.
O problema, a realidade sergipana, é que além de fazer isso, há quem não apenas censure um dos lados como também use os fatos de forma sensacionalista para desgastar adversários. É como se um político com os interesses de praxe e não o comunicador com a obrigação do ofício estivesse em ação.
Seria interessante o Ministério Público Eleitoral, assim como faz muito bem em outras esferas políticas, passar a fiscalizar a mídia e orientar alguns setores sobre a importância de buscar a imparcialidade no processo eleitoral. Evidente que é algo difícil, sobretudo em se tratando da política, cujos atores são astutos e tentam a todo momento aliciar consciências das mais variadas formas.
Entretanto, como ações descabidas acabam sempre em campanha eleitoral antecipada – algo proibido pela lei eleitoral -, creio que algo pode e precisa ser feito. Apresso-me, contudo, a explicar aos que adoram distorcer juízos por má fé ou mera auto-defesa: não se trata de o MPF controlar a mídia, mas orientá-la sobre a necessidade de velar a imparcialidade.
Uma análise da linha editorial de um veículo de comunicação, o acompanhamento do seu conteúdo atesta facilmente se há ou não o jornalismo viciado para favorecer um e prejudicar outro. Os pré-candidatos declarados Jackson Barreto e Eduardo Amorim aparecem flagrantemente de forma muito diferente no cenário a depender do veículo que os expõem? Em se confirmando trata-se de despreparo para o jornalismo sério ou de uma prova irrefutável que o jogo está sendo jogado a favor um político e contra o outro? Quem perde, perde sozinho ou arrasta consigo a faixa do eleitorado para o qual pensar soa artigo de luxo? Tais indagações precisam de respostas e posteriores medidas adequadas ao bem comum.