Em um ano, quase 5 mil escolas do campo foram fechadas nos municípios brasileiros. Em Sergipe, esse número ultrapassou 40 estabelecimentos localizados em cidades de várias regiões do Estado. Essa política adotada pelos gestores forçou os alunos a se deslocarem de suas comunidades para estudar em centros urbanos. Conter o fechamento de escolas do campo é o principal objetivo da Frente Parlamentar Mista pela Educação do Campo da Câmara dos Deputados, que foi lançada em Sergipe nessa segunda-feira, dia 13. O Estado foi o primeiro a receber a Frente nessa articulação que será feita em todo país.
O ato de lançamento aconteceu no plenário da Assembleia Legislativa e contou com a presença do seu coordenador nacional, o deputado federal Padre João (PT/MG), e também o coordenador da área NE 1 dessa Frente Parlamentar, o deputado federal João Daniel (PT/SE). A solenidade também teve a presença do secretário de Educação Continuada (Secadi) do Ministério da Educação,Paulo Gabriel Nacif; a superintendente Executiva da Secretaria de Estado da Educação (Seed), Marieta Barbosa Oliveira, representando o secretário Jorge Carvalho; a deputada estadual e presidente da Comissão de Educação da Assembleia Legislativa, deputada Ana Lúcia (PT); a coordenadora do Núcleo de Educação do Campo da Seed, Acácia Feitosa Daniel; o representante do Comitê Estadual de Educação no Campo, Lúcio Marcos; o coordenador da União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação (UNCME), Humberto Gonzaga; os prefeitos de Poço Redondo, Roberto Araújo, e de Nossa Senhora da Glória, Chico do Correio; secretário de Estado da Agricultura, Esmeraldo Leal; IFS, MST, Fetase, secretários municipais de Educação, vereadores e representantes de movimentos sociais, estudantil, centrais sindicais, e de entidades que militam na educação do campo, entre outros.
O deputado federal João Daniel destacou o objetivo da Frente em impedir que mais escolas rurais sejam fechadas e que, ao invés disso, os pequenos agricultores, assentamentos, comunidades quilombolas, tradicionais e indígenas, enfim, todas as comunidades rurais, possam ter sua escola funcionando. “Queremos as crianças, os jovens tendo sua educação perto da família. Não podemos admitir que uma criança do meio rural precise viajar horas de ônibus para um centro urbano para poder estudar. Isso é errado, nós precisamos garantir que as escolas rurais nas comunidades não fechem, mas funcionem e tenham professores”, afirmou.
Para ele, é preciso um grande projeto de educação que garanta às escolas do meio rural uma política pedagógica para o campo, com cursos não só de ensino básico, mas também superior. “Queremos universidades rurais, Institutos Federais para o interior para termos um grande projeto de educação para o campo”, disse, ao lamentar o número de fechamento dessas escolas no Brasil. João Daniel disse que se problema são recursos e pessoal, que todos juntos lutem para que se consiga essa estrutura. “É preciso que tenhamos uma política conjunta dos municípios, estados e União para a educação do campo”.
Solução
Para o coordenador Frente Parlamentar Mista pela Educação do Campo, deputado Padre João, é preciso o engajamento de todos nessa força-tarefa para articular a Frente em todo país e Sergipe deu o pontapé nessa missão. “Nenhuma ação no mundo avança sem educação. A educação é estruturante e a partir dela vêm outras demandas”, ressaltou. Para ele, é preciso uma política totalmente diferenciada para a educação no campo, pois ela é muito abrangente, e pensada a partir deles [os camponeses]. O parlamentar também ressaltou que é preciso pensar a educação do campo desde o infantil até os cursos superiores. Mas para que esse projeto tenha sucesso, observou Padre João, é necessário envolver os governos municipais. “Não vamos resolver esse problema sem envolver os prefeitos”, destacou, acrescentando que dois grandes desafios para essa questão é decisão política e a questão financeira.
Sobre o número elevado de escolas rurais fechadas apenas no ano passado, deputado Padre João classificou como um crime. Para ele, só o futuro vai dizer o prejuízo dessas medidas. “O que será do campo daqui a 15, 20 anos se isso permanecer assim? Eles preferem colocar uma criança, um adolescente num ônibus e levar para outra cidade estudar. Não entendem a importância do campo para formação dessa criança”, afirmou, ao avaliar que ao se fazer isso é como se estivesse arrebentando a raiz de uma planta e tirando a alegria do campo do coração dessa criança.
O coordenador nacional da Frente apontou alguns avanços obtidos nos últimos anos, mas que precisam ainda ser expandidos, a exemplo da ampliação do fornecimento de energia elétrica para a zona rural, a internet, o esporte, o lazer e a pedagogia da alternância que, onde já foi aplicada, tem dado resultado bastante positivo, tanto no ensino fundamental quanto médio e superior. No Brasil já são mais de 40 cursos dessa natureza. Em Sergipe, já existe uma escola nesse modelo.
Durante o lançamento da Frente, os participantes também puderam participar do debate, expondo as dificuldades vividas pelas comunidades e as demandas que chegam às entidades que trabalham com educação do campo. Todos lamentaram as políticas que têm levado ao fechamento de escolas do campo e propuseram alternativas para que isso seja revertido.
Por Edjane Oliveira