Por Joedson Telles
O deputado federal Laércio Oliveira (SD), ao ratificar seu apoio antecipado a uma suposta candidatura do prefeito João Alves (DEM) à reeleição, mantendo na chapa o vice-prefeito José Carlos Machado (PSDB), deixa evidente que, se a ideia do seu grupo é barrar Machado pensando em impedir uma suposta candidatura de João Alves ao Governo do Estado, em 2018, trata-se de um equívoco. “Se João resolver ser candidato a governador, ele vai de qualquer jeito. Ele vai se for prefeito, se não for, se o vice for Machado, se não for. Dentro de qualquer cenário, se ele resolver ser candidato será. Basta ele pensar que tem chance de vencer, ele vai. Então, se o protesto for este, se a ideia é traçar uma estratégia para que ele não queira ser candidato a governador basta ele pensar em ser, ele vai. Se o pensamento for este é equivocado. É não conhecer João Alves”, afirma Laércio Oliveira. A entrevista:
Como o senhor avalia esta crise econômica, que, aliás, há quem diga ser mais política, ética que propriamente econômica?
Vejo com muita apreensão. Os atores envolvidos no processo não pensam no Brasil. Não entendem que o Brasil é maior que todos nós. E a nação deve ser vista num momento como este. Falta equilíbrio, serenidade, compromisso com o País. Precisamos serenar os ânimos, harmonizar ações para não agravar o sofrimento da sociedade.
Observando os fatos que cercam a política, sobretudo nos últimos tempos, como o ‘mesalão’, ‘petrolão’ e etc, temos a convicção que o individual é posto em primeiro lugar a qualquer custo. O senhor não concorda?
Por isso que a política fica tão maculada. A gente precisa pensar no que está passando pela cabeça do cidadão brasileiro, que assiste a tudo isso. As cifras desviadas são astronômicas. Às vezes, não conseguimos nem imaginar como se tirou tanto da Petrobras, por exemplo, que é o foco da última investigação. E aí encontramos empresários e políticos envolvidos em troca de alguma vantagem. É muito preocupante. Temos que exercer uma política diferente. Somos humanos, falhos, passíveis de erros, mas, acima de tudo, a gente precisa buscar práticas que representem com legitimidade as pessoas que acreditaram na gente com o seu voto, pensando em nossa capacidade de fazer a coisa correta.
Tem-se dito muito, e não apenas a oposição, que a presidente Dilma Roussef perdeu o comando. O senhor sente isso, sobretudo lá em Brasília, mais próximo?
Em determinados momentos, eu penso que sim. Mas em outros penso que a presidente da República é vítima de uma armação de grupos que procuram levantar fatos, tentando achar uma nova Elba (veículo marcado no processo de impeachment do ex-presidente Fernando Collor). Claro que a economia passa por um momento delicado, mas existe um esforço do governo de querer consertar. Não sou da base política do governo. Sou da oposição. Mas enxergo pontos positivos. Vejo vontade de querer acertar. Montar uma equipe econômica que aponte quais os caminhos para tirar o País da crise. Muitas vezes, o parlamento age como se fosse um duelo, colocando projetos que inviabilizam o País como um todo. Qualquer projeto que a gente aprove, transferindo para o governo uma conta difícil de cumprir, a sociedade pagará isso com uma carga de impostos maior. Com aumento nos preços. A conta precisa fechar. Eu sei que existe um clamor, mas temos que entender o que é possível fazer. Mas, neste momento, não se pensa nisso. Querem ver o caos para ver que vantagem se tira. Não defendo isso. Precisamos de bandeiras que promovam dias melhores para o Brasil. Por isso que sou contra governo de coalizão. Todo mundo acha que pode levar alguma vantagem. Uma participação. E nisso de alguma forma procura não deixar a presidente conduzir o País para onde deve ir. Então, existe essa “necessidade” de se manter tantos ministérios, quando precisamos de cortes nos gastos públicos para se equilibrar as contas, mas isso não e feito e passa-se a conta à sociedade.
O senhor já defendeu abertamente que, em João Alves sendo candidato a reeleição, estará com ele. Da mesma forma, defende a permanência de José Carlos Machado na suposta chapa. Agora, o próprio João Alves declara que o candidato a vice não pode “ser empurrado de goela a abaixo”. Mas o agrupamento do qual o senhor faz parte fala em candidatura própria. Falta maturidade entre aliados para afinar o discurso, evitando o rompimento da aliança?
Eu acho que não haverá rompimento. Acho também ser legítimo qualquer grupo discutir o cenário. Juntar o bloco e discutir qual a Aracaju que queremos. O modelo de gestão para nossa cidade. A posição do partido Solidariedade em relação ao apoio a possível pré-candidatura de João Alves, tendo Machado como vice, é pessoal. Uma posição do Solidariedade, não do grupo todo. Eu falo pelo Solidariedade. E fico feliz. Nunca vi ninguém criticar João e nem Machado. Então, se o grupo não tem críticas em relação ao desempenho de João e Machado é porque são nomes bons. Se não, seria o contrário. São políticos de referência. Homens com vida pública respeitável. Qualquer pessoa pode ser candidato, mas a gente precisa reconhecer a experiência, a capacidade de gestão. Conduzir uma cidade como Aracaju não é uma tarefa fácil. A experiência pesa muito nestes momentos. Este comentário meu não vai de encontro a nenhum outro candidato, diga-se. Analiso pela necessidade de capitação de recursos, de dinamismo na própria gestão, perspectivas de futuro da nossa cidade… pessoas do perfil de João e Machado se encaixam nesta realidade. E volto a dizer: não vou de encontro a nenhum candidato: minha analise está restrita apenas a imagem de João e Machado.
Quando o senhor fala que não acredita em rompimento está mais para João Alves abrir mão de Machado ou o grupo do senador Eduardo Amorim aceitar a manutenção da chapa vitoriosa, em 2012, justamente com João e Machado?
O grupo apoiou João e Machado no primeiro mandato, e não vejo porque mudar. Pode não ter sido um governo excelente. Todo aracajuano esperava uma gestão melhor. Mas porque isso não aconteceu? A sociedade entende que por mais que se faça, poderia se fazer mais. Nunca existiu e nunca irá existir uma satisfação plena. Para se fazer qualquer coisa numa gestão é preciso recursos, e os recursos nem sempre existem. Precisam ser buscados. Não é esperar os recursos que caem nos cofres com impostos. Ainda mais com o País em crise. Os recursos precisam ser construídos com empréstimos, emendas. Eu sou testemunha e a bancada federal do esforço que João Alves tem feito de gabinete em gabinete buscando emendas para Aracaju. Ou seja, João não fez mais por falta de recursos, mas ainda temos um ano e seis meses de governo, e sei que ele continuará trabalhando. Então, apostamos nestes dois nomes, e tenho certeza que eles fizeram e farão o que foi possível. Então, por que mudar? Não é o momento de pensar em rompimento. O bloco do governo terá candidato. Acho que, se o nosso bloco apresentar um candidato e o bloco do DEM outro, vai fragilizar a gente contra o nome do governo. Podemos serenar. Sentar à mesa e trocar ideias.
Quando o senhor fala em fragilizar leva em conta também, evidentemente, a eleição de 2018, não é isso?
Eu acho que 2016 é a fotografia para 2018. Se agente sair do processo de 2016 fragilizado, a probabilidade do insucesso, em 2018, é bastante transparente. Visível. Precisamos fortalecer 2016. E Aracaju é a menina dos olhos. Precisamos focar Aracaju. Sair do processo de uma forma organizada para pensar depois em 2018. É uma eleição difícil.
Até porque terá do outro lado um adversário forte, como já se cogita o ex-prefeito Edvaldo Nogueira e o deputado federal Valadares Filho, entre outros nomes ligados ao governador Jackson Barreto…
Nomes fortes e capazes. Outros nomes falados também são fortes. O governador não sinalizou ainda quem será seu candidato, mas vão aparecer nomes fortes. Fala-se também em Ana Lúcia, uma deputada que tem serviços prestados em Aracaju. Eliane Aquino. Muita gente comenta Mendonça Prado. Todos com capacidade. Então veja: se o bloco que o Solidariedade faz parte tem condições de construir um alinhamento com João Alves para sairmos unidos juntando todos os partidos do bloco por que não fazer isso? Temos que analisar pensando no todo. Quem pensa no eu, acho que não tem muito futuro.
E essa tese colocada por alguns analistas políticos que o grupo liderado pelo senador Eduardo Amorim quer indicar o vice de João Alves para dificultar que ele, em sendo candidato e vencendo a eleição, se desincompatibilize do cargo para disputar o Governo do Estado, em 2018. Pelo juízo, sendo o vice José Carlos Machado, João Alves disputaria o governo tranquilo, tendo o prefeito de Aracaju como aliado, e isso criaria dificuldades para o possível candidato ao governo do grupo liderado pelo senador Eduardo Amorim?
Nunca discutimos isso dentro do grupo. Mas quem faz este comentário não conhece João Alves. Não tenho muita experiência e nem sou um analista político competente. Mas quem conhece João Alves ou procurou conhecer a sua história (eu procurei quando resolvi ser político, estudei a política de Sergipe) sabe: se João resolver ser candidato a governador ele vai de qualquer jeito. Ele vai se for prefeito, se não for, se o vice for Machado, se não for. Dentro de qualquer cenário, se ele resolver ser candidato será. Basta ele pensar que tem chance de vencer, ele vai. Nas eleições municipais, ninguém dava nada por João Alves. Essa é a verdade. Eu assistir a João Alves, no 7 de Setembro, na avenida Barão de Maruim. Ele ia de um lado para outro da avenida. Caminhando com Machado e um grupo pequeno prá lá e prá cá. E as pessoas olhavam aquela cena: um homem que já foi governador três vezes do Estado de Sergipe estava atravessando a Barão de Maruim correndo de um lado para outro para cumprimentar as pessoas, e as pessoas queriam abraçá-lo. Muito carinho e carisma. Muita vontade dele de querer vencer a eleição. E venceu. Todos os fatores eram adversos, mas ele venceu. Então, se o protesto for este, se a ideia é traçar uma estratégia para que ele não queira ser candidato a governador basta ele pensar em ser, ele vai. Se o pensamento for este é equivocado. É não conhecer João Alves. Mas, como disse, não discutir isso com ninguém. Você fez a pergunta e eu fiz a análise pela história de João. João é capaz de qualquer coisa.
Essa sua posição criou algum tipo de problema para o senhor dentro do bloco?
A minha relação com o meu bloco é a melhor possível. Ninguém nunca chegou para mim para dizer: “Laércio, você anda dizendo que vai votar em João e Machado, mas temos um nome, rapaz. Fulano de Tal será o nosso candidato e Sicrano o vice”. Ninguém nunca chegou par mim e fez este tipo de colocação. E dentro de um bloco político não deve ser cerceado o pensamento de ninguém. É natural as pessoas terem as suas preferências. Na vida é natural. O Solidariedade é um partido que faz parte do bloco comandado pelo senador Eduardo Amorim. Mas o comando do Solidariedade em Sergipe é meu. Estou lá por vontade própria. Gosto do bloco. Foi lá que venci as eleições em 2010, me reelegi em 2014, as minhas ações políticas sempre foram construídas com o bloco, desfruto de um excelente relacionamento com todo mundo e não tenho pretensão de sair. Agora, só permaneço num lugar onde eu tenha como manifestar a minha opinião. Expressar as minhas vontades. Faço política com lealdade com todos – independente de oposição ou situação. Precisamos pensar uma política assim. Não faço crítica a ninguém, mas o Brasil precisa de política com lealdade.
O senhor já antecipou apoio a uma possível pré-candidatura de Maria da Taiçoca a prefeita de Socorro. Por quê?
Vamos trabalha por este projeto, sim. Tentar unir o maior número possível de pessoas. É um momento novo que o município vai viver e ela tem qualidades para representar bem a população.
Não acaba sendo mais uma divergência dentro do seu bloco, já que existe o sentimento de alguns membros por uma candidatura do ex-deputado estadual e ex-prefeito de Socorro Zé Franco naquele município?
Zé Franco é uma pessoa muito querida. Nada contra ele. É a política fácil: analisar o contexto e concluir que o melhor para Socorro, hoje, seria uma pré-candidatura de Maria da Taiçoca. Zé Franco tem serviços prestados em Socorro e ninguém tira. Eu assistir a momentos que me emocionaram. Pessoas saírem de suas casas, ao saberem que Zé Franco estava passando, e chorarem de emoção por tudo que ele fez por Socorro. Mas a vida se renova a cada dia. Zé Franco tem todas as condições de exercer qualquer mandato neste estado, mas, na minha opinião pessoal, acho que ele já fechou com chave de ouro o tempo em que ele serviu ao município. Precisamos dar oportunidade a outras pessoas. Se a gente conseguisse fazer política com serenidade, acho que Zé Franco, Fábio Henrique, a deputada Silvia Fontes, o Padre Inaldo… Se todos se unissem em torno de uma pré-candidatura de Maria da Taiçoca Socorro ganharia.