Veja o que diz o deputado federal Rogério Carvalho ao site Sergipe 247 depois entro em campo. “Em Sergipe, não se engane: é Amorim querendo o Governo para os interesses particulares e João também com os interesses particulares”.
No gramado. Fantástico, deputado. Perfeito. Que frase de efeito. Digna de um prêmio de caráter internacional. Merecedor de uma cadeira na Academia Brasileira de Letras pela magnitude. Sem palavras… Este é o Rogério Carvalho. Acho que o PT está vacilando, quando aposta em Dilma sem observar os cursos. Deveria lançar Rogério para presidente da República. Sugiro até o slogan: “Rogério 2014, um gênio no poder”.
Mas ele teria, evidente, que provar, na prática, ser a exceção da regra: único político do mundo que almeja o governo, exclusivamente, para o coletivo. Que não pensa no umbigo. Uma vez eleito presidente, o cartão de visita, por certo, seria abrir mão do gordo salário, das diárias, dos cartões, dos carros e prédios públicos… enfim: de coisas que os pobres mortais, que só têm direito a votar, sequer sabem que existem.
Será que alguém que não tenha interesses individuais na política, que não deva a cabeça ao nobre parlamentar, que pense, de fato, no social, é capaz de se dar ao luxo de permitir-se persuadir pelas frases de efeito do deputado? Não creio.
O deputado Rogério Carvalho, na verdade, acaba de ajuizar ao vento. Ele cumpre seu papel de oposição, é certo. É da política. E não se deve esperar algo diferente. Mas se excede ao ponto de subestimar inteligências.
Pergunto aos botões, tendo o internauta como cúmplice: é só João e Amorim quem ambicionam o poder? Albano nunca quis? Déda, Valadares, e até os que sequer conseguiram ser líderes políticos, como é o caso do próprio Rogério Carvalho, não gostam do poder? Estão na política como voluntários, sem sequer terem vencimentos? Não sonham? Descartariam o filé em nome de algo não palpável aos olhos de quem vive a política? Como é bom fazer política num país onde pensar soa artigo de luxo, não deputado?
O problema, note-se, não é “A”, “B” ou “C”– João, Amorim ou o próprio Rogério – cogitar interesses particulares. Lógico que a política não deveria ser assim. Mas é da sua cultura e ponto final. Não assumir isso é usar da demagogia ou ser inocente ao extremo. A gravidade, dentro da realidade atingível, acredito estar mais no fato de querer o poder por interesses pessoais e esquecer que isso não pode inviabilizar um projeto coletivo. Trocando em miúdos, o político pode cuidar de si e do social. Sem para isso usar da desonestidade, claro. Sem entrar pobre na política e enriquecer nela numa desfaçatez ímpar. Aí é cadeia. Ou pelo menos deveria ser.
O brasileiro, e o sergipano incluso, óbvio, é pouco exigente. Quando vai às urnas não põe essa questão de interesses do político em primeiro lugar. Não quer saber se o candidato vai ter acesso a coisas que ele jamais terá. Humilde, quer apenas que o político melhore a sua vida. Em via de regra, tendo emprego, moradia e os serviços públicos funcionando, razoavelmente, bem, estão satisfeitos. Veja que Lula deixou muito a desejar aos olhos de quem tem ferramentas para julgar uma gestão, mas, como fez algo pelo coletivo, tem o reconhecimento público dos mais necessitados.
Portanto, nada contra a pessoa de Rogério Carvalho. Ao contrário, já disse neste espaço se tratar de um bom deputado. Também o acho um político corajoso. O grande nome do PT, se corrigir os excessos e se aproximar mais da militância do partido, para se revelar uma liderança. Precisa, no entanto, aprender a não subestimar a astúcia alheia. Até porque, cá para nós, quando assumiu o papel de gestor deixou coisas boas, como as chamadas clínicas de saúde, é fato. Entretanto deixou também mazelas até hoje incuráveis – como a Fundação Hospitalar de Saúde, que resume qualquer debate sobre quando o fracasso bate à porta de uma gestão.