Por Joedson Telles
Esbarro no JC, edição do último domingo 4, numa entrevista que o presidente do PT de Sergipe, o deputado federal Rogério Carvalho, concedeu ao jornalista Max Augusto cujo título é tão óbvio quanto revelador da anemia que toma conta do partido que tinha tudo para ser a maior legenda de Sergipe, depois de chegar ao poder em outubro de 2006, com o saudoso Marcelo Déda Chagas: “É mais do que justo que o PT esteja na chapa majoritária”, disse Rogério ao matutino.
Mal tenho tempo de ajuizar sobre a frase, sou surpreendido com os impacientes botões a roubar a cena com uma indagação perspicaz e juízo idem: “Quem foi o PT? Como este partido outrora referência nas lutas sociais que cunharam como armas retórica, faixas, camisetas vermelhas e uma massa nas ruas à caça de mentes e corações desavisados, praticamente, se humilha pelo sopro de vida dentro de uma coligação que num passado não tão remoto liderava via o saudoso Marcelo Déda Chagas”.
Sem tanto trabalho, assim, viajo no tempo e encontro a resposta plausível a confortar os lúcidos: das duas uma: ou o PT nunca teve um projeto de governo para equacionar mazelas para quais prometeu soluções, após crucificar adversários a portar a caneta, ou o pior: o projeto o PT até tinha, mas, miseravelmente, sucumbiu diante da sedução ímpar que o poder costuma deslumbrar sem piedade aqueles cujo caráter é revelado facilmente frente ao que certos cargos públicos proporcionam de praxe.
O PT, ao chegar lá, não apenas jogou o sonho de milhares de pessoas pela janela. E, neste caso, ou por prometer o que não tinha condições de prover ou por se deixar igualar aos que tiveram a mesma chance, mas desperdiçaram também. Mais que isso, distraído com o poder, o PT dissipou (com coisas fúteis?) o tempo precioso que lhe permitiria manter-se como o maior partido de Sergipe. Hoje, sua militância carrega o pecado de ter deixado o seu então líder (por méritos, diga-se) crescer mais que a legenda. Que o coletivo. Fraqueza, demência, acomodação, falta de aptidão para pensar ou a dificuldade de bater de frente com quem tinha a caneta que nomeava e exonerava dos inúmeros cargos (alguns obesos demais) que o poder confere naturalmente? O PT tem que fazer este debate. Aliás, petista que é petista adora debate.
Não para jogar a culpa no saudoso Déda. Nada disso. Primeiro porque seria um ato covarde dada a sua impossibilidade de se defender. Segundo porque, como todos os líderes partidários, e até todos os mortais, ele teve acertos e erros. E, por fim, o mais curioso não consta que Déda tenha sacado uma arma e apontado na direção da militância obrigando-a a interpretação do papel omisso. A coisa, chamemos assim, foi acontecendo sem que alguma providência fosse tomada, e hoje, a poucos meses da eleição, o seu presidente precisa apelar para justiça para estar na chapa majoritária que sucederá seu próprio governo. O PT, pasmem, está sendo descartado ‘do filé’ até pelo “aliado”, o ex-prefeito Edvaldo Nogueira – cuja densidade eleitoral jamais lhe permitiria chegar à Prefeitura de Aracaju não fosse o líder petista Déda bater o pé…
…No dia 12 de junho, há praticamente um ano, escrevi neste mesmo espaço um artigo cujo título, lembro bem, é “O PT definha em Sergipe. Agoniza. A pá de cal pode ser 2014”. Nada contra o PT. Torcer pelo caos? Jamais. Tem petista sério. Amigos pelos quais tenho admiração. Evidente que há também o oposto. É da política… Mas mostrava ali que o PT não tinha cadeira cativa no melhor camarote – como seria natural não fosse erros grotescos na própria cozinha. Relembremos um só parágrafo do artigo.
“Sem candidato ao governo do Estado, e duas eleições seguidas sem disputar a Prefeitura de Aracaju, o PT luta para tentar, pelo menos, emplacar um nome na chapa majoritária que tem o vice-governador (na época) Jackson Barreto (PMDB) como pré-candidato ao governo do Estado. Pleiteia indicar o candidato a senador ou a vice-governador. Mas pode ser descartado. Para isso, basta o DEM barganhar a exclusão petista pela sua presença no palanque do PMDB. Duvidam?”
A indagação permanece a mesma. Entretanto, se os apelos de “justiça” feitos pelo presidente Rogério Carvalho não vingar as dúvidas se esfacelarão mais rápido que um traque de massa, ao ser atirado ao chão por qualquer criança inocente.