Por Joedson Telles
Esta quarta-feira 29, inesquecível para o ex-deputado Mundinho da Comase, que acordou com a polícia na sua casa, passou o dia se explicando numa delegacia e “dorme” numa cela, perpassa a agonia a, pelo menos, seis deputados e outros dois ex-deputados citados na delação premiada feita pelo próprio Mundinho e pelos irmãos Augifranco Patrick de Vasconcelos e Ygor Henrique Batista de Vasconcelos, responsáveis pela Associação Ala Jovem de Lagarto, segundo a polícia a lavanderia da grana preta. A conta sobre o número de deputados e ex-deputados envolvidos no esquema de corrupção é do promotor Henrique Cardoso.
Promotor, delegada ninguém quis revelar nomes. A bola foi passada ao Ministério Público do Estado, que, nesta quinta-feira 30, escutará o mesmo depoimento dos três acusados e dará o tom dos próximos dias. Ao que tudo indica, peixes grandes serão fisgados.
Mesmo sem identidades reveladas, é evidente que deputados e ex-deputados que participaram do esquema perderam a tranquilidade tão logo souberam que os três presos haviam assinado a delação premiada. Principalmente porque, segundo a delegada Daniela Garcia, há provas irrefutáveis.
Não é difícil imaginar que, além da angústia, do medo, o sentimento de raiva, diria até de ódio, por parte de quem está sendo dedurado por Mundinho também une ex-colegas neste momento contra os delatores.
Mas não tinha como ser diferente. Se Mundinho já entrou em pânico e caiu no choro, precisando ser medicado, no momento da prisão, imagine quando o seu advogado derrubou a ficha? Detalhou para ele o tamanho do problema e as consequências mediante as provas, segundo a polícia, inquestionáveis?
Nesta hora, entra o talento do poeta Zé, paradoxalmente, na canção Vila do Sossego: “nas torturas toda carne se trai”. E Mundinho abriu a boca sim, senhor.
Dirão advogados do diabo: mas ele não apanhou da polícia. Sequer foi algemado. Como tem nível superior, não ficou onde os presos chamam de ‘peda’. Poderia segurar a bronca. Mas e precisa tudo isso? Para uma pessoa que até então nunca foi presa e está acostumada com o conforto da própria casa e gozar da liberdade, há tortura psicológica maior que estar preso sob a ameaça de permanecer anos na grade? Evidente que não…
… Desde que o assunto verbas de subvenções da Assembleia Legislativa ganhou as páginas da web, e, posteriormente, ocupou espaço nas demais mídias, velo pelo equilíbrio. Pelo respeito às pessoas supostamente envolvidas e, inclusive, às autoridades que têm o papel de julgar. Tratamos suspeito como suspeito. Jamais embarcamos no sensacionalismo de condenar deputado ou quem quer que seja, avocando um papel que não cabe a imprensa séria. Apelamos para a frase que já virou lugar comum aqui no Universo: “todos são inocentes, até que se prove o contrário”.
No dia de hoje, os fatos emergentes, contudo, espelham por si só fazerem o papel de magistrado. No momento em que a delegada Daniela Garcia afirma e reafirma ter provas que o dinheirão saia do deputado, transitava na tal associação e era depositado na conta do próprio deputado – e o advogado de defesa se diz voz vencida pela vontade do cliente em assumir o crime e assinar a delação premiada para aliviar seu lado – creio que sequer é preciso ajuizar sobre os fatos. Ir além de narrar é até subestimar a inteligência do internauta frente ao que o próprio advogado batizou de “Lava Jato de Sergipe”. Como reza a gíria do crime, “a casa caiu”.