O projeto Ilé-Iwé, desenvolvido pela rede municipal de ensino de Aracaju, em parceria com Ministério Público de Sergipe (MPSE), conquistou o Prêmio Innovare 2023, uma iniciativa nacional que reconhece e dissemina práticas transformadoras que se desenvolvem no interior do sistema de Justiça do Brasil. Para parabenizar as equipes responsáveis pelo projeto pela conquista, o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) se reuniu, nesta quarta-feira, dia 13, com o secretário municipal da Educação, Ricardo Abreu, e com o promotor de Justiça Luis Fausto Valois.
Durante o encontro, do qual também participaram o diretor de Educação Básica da Secretaria Municipal da Educação (Semed), Evilson Nunes, a idealizadora do Ilé-Iwé, Maíra Ielena, e a atual coordenadora do projeto, Analice Marinho, o prefeito agradeceu a todos os envolvidos pelo empenho e destacou a relevância deste trabalho, que é voltado à cultura negra e ao combate ao racismo.
“Estão de parabéns todos os que fazem o Ilé-Iwé, um projeto importantíssimo para a formação cultural dos nossos alunos e também dos nossos professores e da comunidade escolar de um modo geral. A conquista desse prêmio, pela primeira vez vencido por um projeto sergipano, representa o reconhecimento do trabalho desenvolvido pela nossa gestão na área da educação, mas também a importância de agirmos em parceria, seja com outras redes de ensino, seja com o Ministério Público que tanto contribuiu para tornar possível a concretização dessa iniciativa. É um momento de muita alegria para todos nós receber esse prêmio”, afirmou Edvaldo.
Os vencedores do Innovare 2023 foram conhecidos nesta terça-feira (12), durante a cerimônia de premiação realizada em Brasília pelo Instituto Innovare, uma associação sem fins lucrativos que busca premiar e divulgar ações do Poder Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública e de advogados que promovam a democratização do Sistema Judicial Brasileiro. O Ilé-Iwé venceu na categoria Ministério Público.
Conforme o secretário Ricardo Abreu, com o Ilé-Iwé, os alunos da rede municipal têm a oportunidade de compreender a própria história, “mas, principalmente, de se reconhecerem como membros de uma nação pluriétnica e pluricultural”. “Com esse projeto, nós percebemos um movimento de pertencimento, tanto dos professores que se engajam, quanto dos alunos. O Ilé-Iwé não é um projeto para cumprir uma exigência de uma lei, é uma iniciativa que, de fato, tem feito com que meninas e meninos pretos e pardos que estudam nas nossas escolas se vejam como cidadãos, e que tenham orgulho da sua própria existência, da existência da sua família, da sua cidade, da sua comunidade e da sua própria história”, enfatizou.
Coordenador de Promoção da Igualdade Étnico-racial do MPSE, o promotor de Justiça Luis Fausto Valois ressaltou que esse prêmio “representa o poder da união”. Para ele, a vontade política da Prefeitura de Aracaju de realizar o Ilé-Iwê foi fundamental “para que o projeto se concretizasse”.
“Seguiremos trabalhando para que a iniciativa possa continuar dando frutos para a nossa sociedade, dando ao aluno da rede pública a oportunidade de estudar sobre os conteúdos relacionados à história afrobrasileira e africana, para que ele se veja como sujeito de direitos, elevando a autoestima e vendo que os 56% da população negra do nosso país podem e devem ocupar lugares de destaque positivo na nossa sociedade, e o Ilé-Iwê faz isso, valoriza as iniciativas dos professores da rede pública, no sentido de desenvolver um trabalho em prol da nossa população negra, valorizando aqueles exemplos positivos da nossa sociedade”, pontuou o promotor.
Para a coordenadora de Políticas Educacionais para a Diversidade da Semed, que está à frente do projeto, Analice Marinho, “foi extremamente importante” a conquista desse prêmio “porque foi o primeiro projeto premiado pelo Prêmio Inovare em Sergipe e é um projeto que é um diferencial para nós, porque ele trabalha com o chão da escola”. “É um projeto que nos transforma enquanto educadores e esse prêmio é um resultado de todo um esforço desde o ano de 2019. Nós fizemos agora a terceira edição do Ilé-Iwé e foi a edição que teve o maior número de inscritos e o maior número de professores da rede municipal de Aracaju. E o prêmio Innovare é mais uma dessas conquistas que nós temos”, comemorou.
Ela destacou ainda que, para além de trabalhar com formação de professores, a equipe do projeto vai até as escolas para acompanhar de perto a formação dos alunos, “tanto os alunos da educação infantil, que é extremamente importante, quanto os do ensino fundamental”. “Este foi o ano que mais se inscreveram professores da Educação Infantil para o projeto, então, pra nós, isso foi um grande diferencial porque trabalhar na base com essas crianças mais novas é muito importante”, frisou.
Ilé-Iwé
Foi como coordenadora de Políticas Educacionais para a Diversidade da Semed que a professora Maíra Ielena – atualmente coordenadora de Educação Especial – idealizou o projeto. Ela conta que o Ilé-Iwé é um desdobramento do projeto Lápis de Cor, criado pela Semed em 2017 com a proposta de diagnosticar os impactos do racismo vividos pelos anos da rede municipal.
“Então, a partir desse diagnóstico, nós elaboramos, em 2019, o Ilé-Iwé, projeto que é voltado à formação de profissionais da educação. Daí então apresentamos ao Ministério Público e convidamos as redes de ensino de Nossa Senhora do Socorro e de São Cristovão e também a rede estadual de ensino, e o projeto se fez assim, a partir dessa união”, explicou ao ressaltar que o Ilé-Iwé conta também com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS), por meio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (Neabi), e do Movimento Negro Unificado (MNU).
Ao assegurar formação continuada sobre a cultura negra e fomentar debates sobre movimentos negros para coordenadores pedagógicos e professores das escolas municipais, o projeto ganhou destaque nacional. E desse modo, levando arte, história, cultura e costumes do povo negro para os alunos das redes municipais e estadual de ensino que, dentre as 773 práticas aprovadas para participação na premiação, o Ilé-Iwé se tornou finalista e vencedor da categoria Ministério Público. O Ilé-Iwé faz parte do projeto ‘Aracaju sem Racismo’, desenvolvido pela Prefeitura de Aracaju para promover a reflexão acerca da Lei nº 10.639/2003, que incluiu no currículo oficial das redes de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira”.
Durante a execução do projeto na rotina escolar, história e cultura afro-brasileira são inseridos nos planos de aulas das escolas da rede municipal. Ele abrange, ainda, professores e gestores das unidades de ensino públicas da capital, Nossa Senhora do Socorro, São Cristóvão e da rede estadual.
Prêmio Innovare
Há 20 anos, o Prêmio Innovare tem como objetivo o reconhecimento e a disseminação de práticas transformadoras que se desenvolvem no interior do sistema de Justiça do Brasil, independentemente de alterações legislativas. Mais do que reconhecer, o Innovare busca identificar ações concretas que signifiquem mudanças relevantes em antigas e consolidadas rotinas e que possam servir de exemplos a serem implantados em outros locais. As sete categorias desta edição tiveram como tema livre: Tribunal, CNJ, Juiz, Ministério Público, Defensoria Pública, Advocacia e Justiça e Cidadania.
Foto: Ana Lícia Menezes