Por Joedson Telles
Merece o empenho pessoal do governador Jackson Barreto, que já chamou o Tribunal de Contas de Sergipe de “tribunal faz de conta”, e das demais autoridades sergipanas para que não fiquem impunes os atores deste filme em cujo enredo pessoas que não deram um prego numa barra de sabão colocaram no bolso em torno de R$ 2 milhões do suado dinheiro do contribuinte. A desfaçatez veio à tona pelas mãos do mesmo TCE “faz de conta”.
Coube ao conselheiro Clóvis Barbosa derrubar a casa com uma inspeção feita no Detran de Sergipe, entre junho do ano passado e agosto deste ano. O trabalho revelou a imoralidade: 33 servidores percebiam salários sem trabalhar, 128 recebiam diárias indevidas e 89 servidores, mesmo em férias, tinham direito a diárias. Sem falar que havia quem recebesse a gorda gratificação dos “abençoados Jetons” sem sequer comparecer às reuniões dos conselhos – estes, sim, que deveriam ser analisados a fundo para se atestar ou não se são “de faz de conta”.
Diante do novo escândalo envolvendo o Detran de Sergipe, Clóvis adiantou que foi posta em prática uma medida cautelar com o objetivo de acabar a farra. Disse também que processos estão sendo instaurados para que o dinheiro público seja restituído. Alguém acredita em 100% de restituição? Ho, ho,ho,ho. Adiantemos o Natal.
Evidente que a descoberta e as medidas seguintes propostas pelo TCE representam um passo grande para frear a safadeza. Contudo, sobretudo em se tratando de Brasil, cujo jornalismo sobrevive muito do oxigênio oriundo de divulgação da corrupção no setor público, seria imprescindível, medidas mais duras.
Que tal revelar nomes e expor imagens na televisão para a sociedade saber quem colocou sua grana no bolso sem trabalhar num cinismo indescritível? Ululante? Ou isso só vale para pobres e pretos quando erram, ao pegar no alheio? Muitas vezes, inclusive, quando são apenas suspeitos?
Se o Brasil é, de fato, um país de iguais, como vela a Constituição e ecoam algumas autoridades em discursos oportunistas, o que impede provar isso na prática? Evidente que há um erro gravíssimo quando se expõem diante da mínima suspeita. Não concordo. Mas, se as pessoas de bom senso que lutam para acabar com isso são sempre vencidas pela nociva cultura, pelo menos, ao expor também quem recebe dinheiro público sem trabalhar, usa-se da coerência. Madeira em Chico e Francisco.
Além da devolução do dinheiro, da exposição pública, seria bom também a exoneração do serviço público e, em alguns casos, até rolar cadeia. Isso mesmo: cana em quem não devolver cada centavo. Até como medida pedagógica, já que é muita ingenuidade acreditar que a turma do Detran inventou a roda. Que não há gente ganhando dinheiro no serviço público sem trabalhar – comparecendo ao “trabalho” para comentar a novela os Dez Mandamentos e mexer nas redes sociais como forma de passar o tempo ou, como flagrado pelo TCE no Detran, sem dar as caras mesmo.