“Interesses revelados não passam de especulações, coisa pessoal. O PCdoB não discutiu projeto eleitoral”, diz militante histórica
Por Joedson Telles
A ideia do ex-prefeito de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PC do B), se lançar pré-candidato ao Senado Federal parece não ser unanimidade dentro do seu próprio partido. No mínimo, pode-se dizer que não houve uma discussão do assunto, e se obteve o aval de todos. Militante histórica do Partido Comunista do Brasil em Sergipe, Ivânia Pereira, sindicalista e ex-secretária do governo Marcelo Déda, por exemplo, não parece muito satisfeita com o fato de o presidente do partido, Antônio Bittencourt, digamos, se arvorar, e lançar o boss na disputa, sem que o coletivo da legenda fosse consultado. Aliás, o próprio Nogueira endossou o cheque, ao ignorar também os “companheiros”. Veja o que diz Ivânia Pereira sobre o assunto. Depois entro em campo.
“Muito se anda falando em nome de reivindicações e de candidaturas do PCdoB. Na verdade, não aconteceu nenhum fórum partidário que tenha discutido o que falam em nome do PC do B. Creio ser um direito de todos terem posições individuais, mas não podem, a despeito de defenderem interesses privados, falar em nome de um coletivo que não lhes autorizou ou sequer deliberou tais resoluções. Os partidos são fóruns formados por homens e mulheres com interesses individuais. Entretanto esses interesses não podem sufocar os fóruns coletivos de decisões. Isto posto, no momento os interesses até agora revelados não passam de especulações, coisa pessoal, de verdade é que o PCdoB/Sergipe, ainda não discutiu nenhum projeto eleitoral. Quem mesmo está reivindicando o quê?”, indagou Ivânia Pereira.
No gramado. Se estivesse no lugar o ex-prefeito Edvaldo Nogueira teria vergonha. No lugar do senhor Bittencourt idem. Lúcida, Ivânia, para quem não conhece uma histórica militante do PC do B, está certíssima. Coerente por demais. Não que Edvaldo não tenha o direito de pleitear algum cargo em 2014. Muito pelo contrário. Particularmente, não vejo nele densidade eleitoral nem para tentar voltar a ser vereador, que dirá pisar o tapete azul. Mas a democracia permite as pessoas se lançarem em voos sonhadores – ainda que seja contra a vontade de outras. Edvaldo 2014 é democrático.
O problema é que um partido de esquerda (ou o PC do B perdeu a identidade?) tem, como explicou didaticamente muito bem Ivânia, como regra o debate. Esgotar as discussões em busca do melhor caminho. O coletivo tem voz. O crachá levantado para as decisões é marca da esquerda. Literalmente, a decisão sempre vem pelas mãos da maioria.
Não há a figura do cacique – como é praxe em outros partidos. Lógico que um ou outro militante acaba exercendo o papel de líder – como o falecido governador Marcelo Déda fez no PT, e, posteriormente, no grupo. Mas o assunto é sempre esgotado. O histórico auditório do Sindicato dos Bancários é uma testemunha do calor coletivo.
Desta vez, não. Pelo que coloca Ivânia, Edvaldo e seu ex-auxiliar Bittencourt tentam passar por cima da cultura do PC do B. Da esquerda. E querem empurrar candidatura goela abaixo, como se diz no jargão político. É como se quisessem aproveitar o que demonstram enxergar como momento frágil do governador Jackson Barreto, por conta da animosidade Valadares x “novo PT”, para impor candidatura sem sequer discuti-la internamente.
A política tem suas ironias. Tem seus caprichos incomparáveis. Edvaldo parece ter se acostumado com o poder… Danou-se. Se no PC do B uma possível candidatura sua ao Senado Federal não soa unanimidade, até causa mal estar comunista, imagine na gama externa da sociedade? Sei não, mas pressinto que Edvaldo Nogueira terá muito trabalho para levar seu sonho adiante. Deve ser acordado antes mesmo de a chapa majoritária do seu grupo ser montada. Bem antes.