Por Joedson Telles
Sexta-feira, dia 6 de abril de 2018. Data a ser sublinhada no calendário como um dia histórico: o maior líder político do Brasil será encarcerado. Terá o direito de ir e vir cassado – como é praxe no desfecho da rotina miserável a permear aqueles que se aventuram no mundo do crime. Numa hipótese ainda mais gritante, se transformaria num foragido e, como tal, seria caçado pela polícia. A decretação da prisão de Luiz Inácio Lula da Silva é, paradoxalmente, sorumbática e equitativa. O lugar comum é apropriado: acima da lei, ninguém.
Não abordaremos aqui se os governos Lula corresponderam ou não às expectativas da população brasileira. Resumo, entretanto, que Lula foi bom para os pobres. Tampouco entraremos no mérito perspicaz do julgamento do ex-presidente. Cabeças infinitamente mais preparadas e bem pagas com o dinheiro do contribuinte para lidar com o direito e fazer justiça de forma imparcial já se debruçaram sobre os fatos. Todas legitimadas. Respeitando a Constituição, o direito a ampla defesa sempre esteve garantido, e, tecnicamente, Lula é hoje um condenado pela Justiça a mais de 12 anos de prisão.
O intrínseco aspecto político que envolve os passos de Lula, desde que resolveu entrar em contradição com a inteireza que sempre esteve velada em sua retórica, e, sobretudo, na sua dura crítica aos adversários, no entanto, nos pauta. E, neste ponto, talvez o que mais chame a atenção seja a irresponsabilidade de o PT colocar em xeque o judiciário brasileiro, vislumbrando a tática como sobrevivência política.
É nocivo ao coletivo o PT verbalizar politicamente, tentando perpassar a ideia errônea que houve e há um engajamento imoral e nada republicano de promotores, juízes e policiais numa macabra e criminosa engenharia pronta para encarcerar um inocente sob a lógica estrábica de atender aos seus adversários políticos o eliminando do pleito vindouro. Como se desligassem a tomada da acuidade que tais importantes e imprescindíveis agentes do Estado brasileiro não podem jamais resignar. É discutível, sim, se caberia a prisão neste momento. E isso foi arrazoado horas e horas no STF, esta semana, quando do julgamento do habeas corpus preventivo. Mas sobre a condenação em si, parece não haver dúvidas.
O ponto fora da curva é que o PT e o Lula trazem no DNA – e carregam no sangue – a repulsa ao contraditório. Sempre agiram com dureza contra quem tentou apontar seus erros. Abriram mão do discernimento primário de aceitar que exato só Deus. E se esta é a cultura petista, seria uma contradição violentíssima rompê-la justamente no momento em que sua maior estrela é despida de forma tão paradoxal ao discurso histórico e predominante da chamada militância esquerda.
Admitir que, a exemplo de Antônio Palocci, Zé Dirceu, João Vaccari entre outros petistas presos por corrupção, a referência, o líder, o ídolo Lula falhou, atropelou o que prega o partido e cometeu os crimes pelos quais foi condenado exige uma grandeza que o PT demonstra não estar preparado para entregar. O PT nasceu para combater o erro. Ou pelo menos este sempre foi o discurso. Mas…
O PT, percebam, poderia ter feito a opção por tentar salvar a sua coerência. Sua história. Todavia, Lula sempre foi maior que a legenda. E o PT, flagrantemente, age a espelhar sua total dependência dele solto e candidato a presidente da República, para sobrevier politicamente como um partido com densidade eleitoral.
Os lúcidos não fitam o PT, neste momento, como um partido exclusivamente solidário a um membro (eles gostam companheiro) que, ainda que tenha cometido lá seus erros, não pode jamais ser abandonado, mas que nem por isso a história do partido terá que ser posta em xeque. Errou pague? Só vale para adversários. O PT pensa também em voltar ao poder.
O PT, blefe ou não, sempre tratou o caso Lula como “golpe” e jurou na cruz que não haveria o plano B. Lula seria inocentado e candidato. Na essência, sempre estive a arrogância petista de sentar nas pesquisas e subestimar o Poder do Judiciário e uma possível decisão pela condenação. Os fatos, contudo, frustraram o PT. Com Lula inelegível e preso (foragido?), o sonho de o PT voltar ao poder, passar uma borracha nos erros e, quem sabe, até “se vingar” de quem os trouxe à tona se torna longínquo. O PT não tem escolha: terá que reaprender a sobreviver sem o poder – e, agora, sem contar com Lula para disputar a eleição. “Nunca antes na história deste país”, façamos a homenagem, o PT precisou tanto do “descartado” plano B.
P.S. Claramente, o PT sentiu a prisão de Lula, mas aposta na comoção. Mais uma vez é com a sociedade.