Por Luiz Roberto Dantas de Santana
Nos sete anos em que presidi a Empresa Municipal de Serviços Urbanos (Emsurb), um dos objetivos que sempre estava posto no horizonte era o de conectar os cidadãos com o conceito de sustentabilidade que é nosso desafio, enquanto humanidade, para o futuro. Mais do que apenas comunicar, conectar é trazer a uma reflexão sobre práticas, hábitos e a relevância que cada um de nós, cidadãos, tem nesse processo.
Temos um cenário onde toda uma logística é desenvolvida para coletar cerca de 700 toneladas/dia em Aracaju. Há muitos pontos de descarte irregular que exigem um exercício suplementar na rotina cotidiana das equipes e que demonstram, na maioria das vezes, essa “colaboração” nada cidadã, sobretudo nas localidades que contam com a chamada coleta regular, onde o caminhão de lixo passa no horário previsto.
Para entender a complexidade desse cenário, tive que percorrer, na boleia de um caminhão de lixo, toda a cidade. Foi um aprendizado valioso ao lado dos servidores então conhecidos como “garis”, hoje, agentes de atividades operacionais, cujo plano de carreira e valorização também são fruto dessa minha passagem na empresa.
Conseguimos feitos relevantes como a instalação dos ecopontos, disponíveis hoje na Coroa do Meio, no bairro Industrial e no Santos Dumont, onde a população pode descartar, de maneira ambientalmente correta, diversos resíduos que são devidamente encaminhados para cadeias que geram trabalho e renda. Do mesmo modo, utilizando pneus reciclados, conseguimos transformar diversos pontos de descarte irregular de lixo em áreas revitalizadas onde foram cultivadas mudas com espécies arbóreas, frutíferas e ornamentais, criando, inclusive, áreas de convivência para a população que se apropriou desses espaços outrora degradados.
Conquistas como essas, ao lado de um cenário peculiar que a nossa capital apresenta, cercada de áreas verdes como o Morro do Urubu, onde está situado o Parque da Cidade, uma exuberante reserva da mata atlântica, o Parque dos Cajueiros, o Parque da Sementeira, o novo Parque Ecológico Poxim e as diversas áreas de manguezal, praças e áreas verdes, configuram um patrimônio da população aracajuana, na melhor acepção da palavra.
Assenhorar-se da melhor destinação e preservação desses espaços deve ser fruto de uma reflexão coletiva entre o poder público, através dos organismos de gestão ambiental, as universidades, as entidades da sociedade civil e das comunidades de entorno.
Precisamos ampliar a discussão sobre o conceito de “Cinturão Verde”, incluindo os municípios da Grande Aracaju, notadamente, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão, cujos limites são permeados por áreas verdes. É uma questão estratégica para os desafios ambientais que o futuro nos reserva.
Experiências nesse sentido mostram impactos altamente positivos. Onde há os “cinturões verdes” são registradas até temperaturas mais baixas, de até dois graus celsius, em relação à outras regiões adjacentes. É um conceito inovador e que exige ampla discussão e participação da sociedade e das instituições que tratam da causa ambiental, abordando os desafios a serem enfrentados. A adoção desse conceito tem promovido, inclusive, a geração de postos de trabalho na agricultura familiar, com produção orgânica de hortaliças e outros produtos.
Onde há essa possibilidade, diversas cadeias produtivas conectadas com esse novo conceito estão se desenvolvendo, a exemplo de São Paulo, Curitiba, Belo Horizonte, Porto Alegre e a região serrana do Rio de Janeiro. Por séculos, os desafios são os “motores” do desenvolvimento da humanidade nos mais variados aspectos. Temos mais um grande desafio a encarar.
É imperativo refletir sobre o que já estamos constatando no cenário de mudanças climáticas. Precisamos pensar e repensar os marcos na questão ambiental, interagindo com os desafios da mobilidade urbana e das políticas habitacionais, buscando alternativas que não conflitem com o necessário desenvolvimento, ao contrário, potencializando convergências de relevância social e econômica.
Esse é um gigantesco desafio imposto à nossa geração. A nossa motivação está ligada ao que queremos oferecer às futuras gerações. A “ferramenta” do planejamento e o diálogo são nossos grandes trunfos. Vamos conversar?
Luiz Roberto Dantas de Santana é advogado