Por Joedson Telles
Indago aos meus botões se Mark Zuckerberg cogitou, ao criar o Facebook, que estaria dando margem também ao lado abjeto das pessoas que se aventuram na rede social. A mesma ferramenta que serve para noticiar em primeira mão fatos de interesses da sociedade, para prestar bons serviços, expor ensinamentos, dinamizar a comunicação entre amigos e revelar pessoas inteligentes – além de outros tantos benefícios que chegam com rapidez ímpar à humanidade – serve também para revelar mentecaptos, irresponsáveis, fracos, pessoas sem caráter e outras tantas com pouca intimidade com a língua portuguesa.
Há muita gente postando coisas fantásticas na rede. Útil além da conta. Mas sobra material descartável. Conteúdo que, por certo, agrediria o vaso sanitário. São pessoas desprovidas de inteligência a escrever asneiras, gente covarde a ofender e a culpar os outros pelos seus problemas – sem ter a coragem de citar nomes. Verdadeiros viciados em publicizar frustrações. O mais curioso, contudo, é que, provavelmente inconsciente, para expelir besteirol ou criticar, há quem propague também erros ululantes que nem convocando todos os gramáticos do mundo daria para passar um pente fino na rede. Não se está aqui a exigir perfeição. Quem não tropeça? Errar é humano. Mas no face há verdadeiros analfabetos se aventurando na escrita.
Aliás, é lamentável, mas, muitas vezes, o simples fato de fitar a tela azul e branca transforma-se em sucedâneo de assistir a um show de um magnífico palhaço em um circo renomado tamanho é o acervo de asneiras postas ali. Os erros grotescos. Curiosamente, muitas vezes, até por pessoas que deixam seus afazeres em nome do vício. Não é difícil encontrar pessoas – inclusive em locais sociais como a mesa de um bar – se isolando. Jogando horas e horas no lixo apenas lendo e escrevendo besteiras. Há gosto para tudo neste mundo de Deus. Por questões éticas, não entremos no terreno pensamento. Haja besteirol. Mas observe-se como a nossa língua é mal-tratada na rede. Veja cópia de postagens ímpares no face. Depois volto ao gramado.
Vose é bonita para beis.
Ser moça é facio deficio e se vige
Frango bovino
Ferro fudido
responsabililidade
Hordem e progresso
Entrada de casanba
Tapioca fazida na hora quem não pediu pida
Quando ajente ama é claro que ajente cuiday
… olhando pra sua façe me cinto viajando pelo oniverso, sendo guiado pro duas estrelas que são seu olhos.
No gramado. Evidente que o problema é sério e precisa ser encarado como tal. Mas somos humanos. É praticamente impossível ler este tipo de coisa e, a primeira reação, não ser a mesma que temos diante de um bom filme de comédia. De preferência com Adam Sandler. Mas, ao contrário do cinema, não podemos ficar no aguardo da próxima graça saboreando pipoca quente. Estamos num país onde escrever – e às vezes até pensar – são artigos de luxo. E isso é sério. Preocupante. Pergunte a estas pessoas que vivem penduradas num celular endeusando o face quantos livros elas já leram este ano? Ano passado? Durante toda a vida? O percentual a espelhar a pouca intimidade com a literatura é assustador. É preciso medidas urgentes. Está mais do que na hora de os nossos políticos que, na maioria dos casos, só pensam em voto, poder e nas benesses que uma eleição emana, pensarem em projetos educacionais eficientes. Cabe a pais e mães, obviamente, uma intervenção no vício – sobretudo quando se trata de um jovem.
Soa paradoxo, e bem mais absurdo, mas para se ter uma ideia do abismo, há jornalista, para resumir a história, incapaz de citar um só livro que tenha lido em 2012. Imagine nestes primeiros meses de 2013? Isso mesmo sabendo que ler e escrever são atitudes inseparáveis. Essa turma, entretanto, geralmente não consegue passar meia hora longe do face. Que meia hora? Cinco ou dez minutos. Se quem por ofício tem a obrigação de ler e estar informado se permite ao luxo da distância, imagine outros profissionais ou gente que sequer se graduou?
No tocante às baixarias, as nossas leis são frouxas para quem usa das críticas e agressões sem fundamento no Facebook. Escrevem o que bem entendem, atentam contra a honra e fica tudo por isso mesmo. Ainda quando usam um veículo de comunicação para ecoar baixaria, ficam impunes. Cínicos, conseguem persuadir pessoas bem intencionadas que estão exercendo o direito à chamada livre manifestação, quando, na verdade, estão a nivelar por baixo uma ferramenta importante. Como o ônus da prova cabe a quem acusa, bastava observar isso e acossar quem não mede as palavras – ou mede as pessoas pela sua própria régua – e puni-los na forma da lei. Os nossos políticos, que em certos casos, também espelham o lixo jogado no face, bem que deveriam elaborar leis duras neste sentido.
Quanto às besteiras e frustrações, os políticos devem ser poupados. Não dá para cobrar de um parlamentar um Projeto de Lei contra um cidadão em perfeita sanidade mental que tem a coragem de postar em seu face que o sol está quente, que acaba de saborear um pedaço de torta de chocolate, que viajou com a família de carro ou que revela seu caráter, culpando terceiros pelos seus próprios erros. Isso quase sempre sem sequer ter a coragem de identificar claramente qual o seu alvo. Covarde.
O face, assim como outras redes sociais, é uma invenção maravilhosa. Tão magnífica que quando não serve para as coisas boas citadas neste texto e para outras tantas serve, no mínimo, como um documento pessoal a revelar quem tem inteligência e quem nasceu desprovido dela.
Para encerrar, reproduzo mais uma joia que encontrei no face: “Já destruiram o funk e o sertanejo… oq mais noiz vamos estragar?”