“Não fará com que mudemos o que acreditamos e o que fazemos.”, diz o deputado
Por Joedson Telles
O deputado estadual Georgeo Passos (Cidadania) assegura, nesta entrevista que concede ao Universo, neste domingo, dia 8, que seguirá fazendo oposição ao Governo do Estado e não será intimidado pelo governador Fábio Mitidieri (PSD). “O governador pode se pronunciar da forma que ele entender pertinente. Uma coisa é fato: ele não nos intimida. Não fará com que mudemos o que acreditamos e o que fazemos.”, diz o parlamentar. “O importante é que haja sempre o respeito.”
Como analisa o juízo do governador Fábio Mitidieri; no sentido de o senhor estar fazendo do seu mandato de deputado um “palanque político”, visando fortalecer uma pré-candidatura sua a prefeito de Ribeirópolis?
Quem acompanha o meu mandato sabe que, desde o dia que chegamos à (Assembleia Legislativa) que fazemos uma oposição com responsabilidade, fiscalizando, propondo com o objetivo de melhorar a vida dos sergipanos – e não apenas por uma questão de eleição municipal, como citada pelo governador. Até porque, estando no meu terceiro mandato, eu sempre fiz o papel de lutar, de debater, de mostrar os equívocos dos governos. Então, o que me move é a obrigação que eu tenho enquanto parlamentar eleito; e não farei diferente.
O senhor disse ao Universo que espera que a estrutura do Estado não seja usada nas eleições. Há algum sinal de ser este o perfil do governador Fábio Mitidieri?
Espero que o governador Fábio saiba separar as coisas. Que ele não use a estrutura do Estado para intimidação, com o intuito de ajudar o seu candidato em Ribeirópolis. Afinal de contas, com a manifestação dele, na semana passada, afirmando que pretende derrotar o deputado Georgeo Passos, é lógico que acende uma luz amarela – para que todos tenham atenção neste contexto. Se a eleição transcorrer, no ano que vem, com tranquilidade, será muito bom. Caso contrário, se houver uso da máquina pública na eleição, lógico que iremos buscar na via judicial os caminhos pertinentes.
O senhor faz a chamada “meia culpa”, no sentido de estar fazendo uma oposição dura e, portanto, o governador tem razão, ao se pronunciar no mesmo tom ou acredita que falta ao chefe do Poder Executivo entender o seu papel como deputado da oposição?
O governador pode se pronunciar da forma que ele entender pertinente. Uma coisa é fato: ele não nos intimida. Não fará com que mudemos o que acreditamos e o que fazemos. O importante é que haja sempre o respeito, tanto da minha parte para com a dele e da dele para com a minha pessoa. Lógico que sempre vamos respeitar determinados limites. Mas quando encontrarmos algo como vimos, por exemplo, na fiscalização que fizemos no Hospital de Urgência de Sergipe (Huse) governador João Alves Filho, onde pacientes esperam há vários dias por uma cirurgia por falta de materiais, não temos como não subir à Tribuna da Assembleia e denunciar. Tenho certeza de que dessa forma vamos contribuir, inclusive com o Governo dele, que terá a oportunidade de corrigir as suas falhas.
O senhor enxerga esforço por parte do governador, tentando fazer o melhor em prol de Sergipe?
Apesar de ser um Governo que se iniciou esse ano, é preciso lembrar que é um projeto de um agrupamento político que já domina Sergipe há décadas. Não podemos esquecer de que Fábio Mitidieri é a continuidade do Governo Belivaldo Chagas, que foi a continuidade do Governo Jackson Barreto, que por vez foi a continuidade do saudoso Marcelo Déda. Esse histórico precisa ser lembrado. Então, esperamos, sim, que o governador dê o seu melhor, que consiga realizar o que planejou, até porque, não faço oposição do “quanto pior, melhor”. Se o Governo acerta, quem ganha são as pessoas que mais precisam do Poder Público. Aquelas que não têm a condição de ir para um hospital particular ou colocar, por exemplo, seu filho numa escola privada. É muito importante que o Governo acerte e o governador Fábio tenha esse tempo para provar que ele deu conta do recado.
Apesar deste clima, o senhor não se furta votar a favor dos Projetos de Lei do Poder Executivo, quando entende serem importantes para o coletivo. Não é mesmo?
Com certeza. Todo Projeto de Lei que chegar à Assembleia, que for bom para a população, sempre terá o meu voto a favor. Não vou estar ali votando contra somente porque foi o governador que enviou para Alese. Não fazemos política dessa forma. Sergipe já nos conhece. Já temos quase nove anos no Parlamento e a minha postura vem sempre sendo mantida nessa linha, principalmente através da coerência. Projeto bom, voto a favor. Projetos ruins, como por exemplo o aumento de impostos, sempre votaremos contra.
O senhor afirmou, na semana passada, que, se o governo Fábio Mitidieri está preocupado com as pessoas que passam necessidade, “essa preocupação só fica no discurso”. Isso seria de uma gravidade assustadora, já que no contexto está o combate à fome. Foi isso mesmo que o senhor quis enfatizar?
Isso; até porque a fome não espera. Quem tem fome tem pressa de receber a atenção por parte do Estado. O governador, desde o início do ano, propaga o Programa Prato do Povo como uma ação importante na sua gestão. No entanto, a gente vê que fica só no discurso, ao analisar que o Projeto de Lei que criou o programa foi aprovado em junho e, até o momento, até este mês de outubro, nenhuma refeição foi fornecida. Inclusive, estive, na última sexta-feira, conversando com o secretário-chefe do Gabinete de Gestão das Contratações, Licitações e Logística, Walter Pereira Lima, que cuida das licitações do Estado. Ele me relatou como está o processo para esse programa e garantiu que ainda essa semana o edital seria lançado. Ou seja, possivelmente o prato do povo continuará vazio. Uma notícia triste, principalmente para aqueles que mais necessitam. E se brincar, poderemos ter aí um Natal com fome para essas pessoas. Por isso, fizemos o alerta para que o Governo possa acelerar, dentro da legalidade, esse processo e para que não fique apenas nas fotos, nos discursos, que não enchem a barriga de ninguém.
Em relação à gestão de Fábio Mitidieri, qual ponto o senhor considera mais negativo?
Primeiro, que ainda não conseguimos ver mudanças substanciais, de melhorias para a população comparando esse Governo com o passado. Não temos algo substancial até agora que diga que houve uma grande evolução. Sem contar que o Governo só vive de propaganda, fotos, mas que, na prática, pouca coisa mudou ou sequer efetivamente começou – a exemplo do Programa Prato do Povo. Nós vemos dificuldades na Saúde, como ficou constatado na fiscalização que fizemos no Huse. Rodovias que foram deixadas para serem concluídas pelo último Governo, mas que até agora não foram inauguradas. Podemos citar também a questão de que a educação em Sergipe não alcançou outro nível como se espera. Enfim, é como eu venho sempre dizendo, o Governo Fábio é muita espuma e pouco chopp.
Políticos como, por exemplo, o senador Alessandro Vieira, que caminhou com o senhor, no pleito passado, têm, hoje, uma boa relação com o governador. Podemos ver Georgeo Passos e Fábio Mitidieri no mesmo palanque político um dia?
Já respondi isso algumas vezes: só serei Governo no dia em que o candidato que eu apoiar ao Governo vencer o pleito. Contudo, enquanto o povo preferir me eleger para um projeto da oposição, elegendo outros nomes, assim permanecerei. Respeito quem faz o movimento em outro sentido, mas a minha linha será essa. Então, não há a possibilidade de que o governador e eu estejamos em um mesmo palanque. Com certeza, estarei apoiando outro nome diferente do de Fábio e, se o meu candidato, na próxima eleição, vier a vencer, aí sim eu serei parte de um bloco governista. Caso contrário, se o povo permitir, estarei fazendo oposição com responsabilidade.
A sua pré-candidatura à Prefeitura de Ribeirópolis é irreversível? Como nasceu este projeto?
O meu nome está à disposição como pré-candidato a prefeito de Ribeirópolis, no entanto, ninguém é candidato de si só. Coloquei o meu nome para avaliação do agrupamento em nossa cidade. No momento oportuno, o coletivo irá decidir se o meu nome é o melhor para a disputa ou se porventura surgirá outro indicado. E irei compreender e respeitar o que for decidido pois, para mim, o importante é que o nosso grupo esteja unido com o mesmo objetivo, que é vencer as próximas eleições… Esse projeto nosso nasce disso – da ideia de trazer uma nova forma de administrar a cidade. Durante meus mandatos na Assembleia, fui adquirindo cada vez mais experiência. Busquei ações e projetos positivos em vários lugares do Brasil com o objetivo de implementar em nossa cidade, buscando alavancar o desenvolvimento de Ribeirópolis.
O senhor sente muita diferença entre o modelo de gestão do atual presidente da Assembleia Legislativa, Jeferson Andrade, e o do anterior, Luciano Bispo?
São dois colegas deputados com perfis diferentes. Cada um tem uma forma peculiar de agir, tendo o seu jeito de presidir a Assembleia. Para mim, o mais importante é que as nossas prerrogativas de parlamentar sejam respeitadas. Que a gente possa usar a Tribuna, fazer o debate e que os nossos Projetos de Lei sejam pautados. Tive uma dificuldade muito grande nas legislaturas passadas, não por culpa dos presidentes da Alese, mas sim por culpa dos presidentes das CCJs, que não pautavam nossos projetos. Com isso, eles não iam para o Plenário. Nesta legislatura, felizmente, alguns já foram pautados. Então, o que importa é que o presidente entenda que a missão dele não é fazer do Legislativo um puxadinho do Executivo, e sim que o Poder Legislativo deve ter a sua independência, a sua autonomia. É isso que a gente espera de todos aqueles que foram eleitos para presidir o Poder Legislativo
Foto: Joel Luiz – Agência de Notícias Alese