Por Joedson Telles
“Saulo, Saulo, por que me persegues? ” – Atos 9: 4 (ARA).
As poucas palavras de Jesus dirigidas ao cruel fariseu Saulo de Tarso dariam 10 Bíblias, dada à carga teológica que carregam. Mas foquemos, por ora, apenas no amor com o qual o Salvador fala ao seu perseguidor, ao carrasco do seu povo.
A Bíblia não diz que Jesus agiu com a cólera que os olhos mundanos enxergariam o encontro, mas deixa evidente o amor, a misericórdia, a paciência, o perdão e, por fim, a graça que permeiam o tratamento dado pelo filho de Deus a um pecador dos “bons”.
Apesar da irretocável pedagogia dirigida a quem quer seguir Jesus, infelizmente, nem todos assimilam e colocam em prática a divina lição. Há tropeços…
… O mundo cristão recebeu com surpresa a notícia do afastamento do pastor reformado Paulo Júnior do púlpito da Igreja Aliança do Calvário, por decisão do conselho, em harmonia com a Bíblia. “Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensível como despenseiro de Deus, não arrogante…” (Tito 1: 7).
Segundo o teólogo reformador João Calvino (1509-1564), no citado texto, o apóstolo Paulo “uma vez mais reitera que aqueles que aspiram o ofício episcopal devem possuir uma reputação imaculada, e confirma isso afirmando que, já que a igreja é a casa de Deus, então que cada um que governe seja, por assim dizer, despenseiro de Deus”.
Nas palavras do próprio Paulo Júnior, ele levava a dureza dos seus sermões para a sua relação com irmãos da igreja e com a sua própria família.
“Muitas vezes, a dureza que vocês viam no púlpito era manifestada nos meus relacionamentos; na maneira como eu conduzia a igreja, ferindo, magoando pessoas, membros, sendo exigente, duro. Assim também com minha família”, confessa Paulo Jr, em um vídeo que postou em suas redes sociais.
Visivelmente abalado, Paulo Jr recorre a 1 Timóteo 3, onde o apóstolo Paulo também aborda as qualificações que um pastor precisa ter, e admite a falta de coerência com “princípios ali colocados”, o pecado e pede perdão aos irmãos.
O episódio oferece a todos nós – e não apenas a outros pastores – lições. Primeiro que não devemos detectar um pecado e tentar ofuscá-lo. Paulo Jr resistiu, a princípio. Mas, quando o conselho tomou a decisão, demostrou arrependimento, ao confessar publicamente seu erro e pedir perdão.
Ao comentar o assunto, o pastor batista reformado, Yago Martins, observa, oportunamente, que Paulo Jr não é a vítima, mas sua retratação talvez seja o seu melhor sermão.
Aliás, não é difícil imaginar que existem casos idênticos – ou piores – sendo asfixiados, neste momento. Isso nos leva a valorizar igrejas que, como também observa Yago, não têm um proprietário, mas um atuante conselho, tomando as decisões em sintonia com a Escritura.
Da mesma forma, assim como a Bíblia, o caso Paulo Jr grita para que todos nós estejamos vigilantes para não pecar. A carne é fraca. Paulo Jr é um homem de Deus. Conhece a palavra. Já edificou muitos com suas pregações, mas tropeçou.
Ao botar o rosto nas rasteiras redes sociais e detalhar seu pecado e pedir perdão, o irmão Paulo Jr, evidentemente, não está recebendo apenas misericórdia, acolhimento, amor. Há, infelizmente, quem pule as páginas das Escrituras que ensinam o amor ao próximo e transborde críticas. Peca. Precisa orar e também pedir perdão.
Com base no vídeo postado por Paulo Jr, ele aplicou o remédio indicado pelas Escrituras. Resolveu ou está resolvendo a sua situação com Deus. E quem está criticando? Será que acredita estar vivendo em comunhão com Deus?
Como crentes, a nossa oração precisa ser para que, pela graça do Pai, o irmão Paulo Jr volte a pregar a Palavra de Deus. Volte quebrantado e vigilante. Volte para combater o bom combate. Volte seguindo o exemplo do Senhor Jesus.