Por Joedson Telles
Ao cobrar divulgação sobre uma suposta “caixa-preta” no Ipes, o vereador Agamenon Sobral (PP) ajuizou que toda a imprensa de Sergipe recebeu propina para ficar calada. “Para não falar na ‘caixa-preta’ do Ipes. A imprensa só fala o que quer, quando é interessante para ele (sic), fala. Agora quando alguém está pagando, quando está pagando, fica caladinho…”, ajuizou na tribuna da Câmara Municipal de Aracaju, na manhã da última quinta-feira 13.
Já, ao ser provocado pelo jornalista que assina este texto, minutos depois, o parlamentar tirou o pé do acelerador. “Não posso dizer se tem dinheiro porque não vi o dinheiro rolando, mas quando vai o pedido, geralmente é com contrapartida”, disse sem citar um só nome de jornalista ou radialista que recebe propina.
Já imaginou se o nobre vereador tivesse a coragem de abrir mão de sua imunidade parlamentar e fazer a mesma denúncia? Como um cidadão comum, se ajuizasse que toda a imprensa recebe propina? Creio que ele não tem coragem para tanto. Falou asneira e já deve estar arrependido. Até porque há jornalistas e radialistas que além de sérios, honestos têm (ou pelo menos tinham) uma ótima relação com o parlamentar. Não mereciam tamanha deselegância. Diria até irresponsabilidade.
Quaisquer denúncias sobre os mais variados assuntos e pessoas se perdem no lugar-comum, quando se parte para a generalização, furtando-se revelar nomes. Aí não tem meio termo: transita-se da seriedade para a anarquia. Estouvamento. Nomes e valores, por favor, vereador.
Ao desrespeitar profissionais sérios, até que provas irrefutáveis sejam apresentadas, agarrado a imunidade parlamentar, o vereador Agamenon Sobral abre um precedente perigoso. Já imaginou, por exemplo, algum político valer-se da imunidade para acusar outros políticos, sem apresentar provas ou dar nomes, de servirem a um terceiro político como vassalos, numa tremenda desfaçatez, envolvendo cargos e outros interesses escusos? Ajuizar que estes políticos são meras marionetes prontas a balançarem as cabeças para tudo que o terceiro político ordena, ainda que isso vá de encontro à população? Que servem ao sistema e não ao povo?
E se a imunidade lhe estimular a generalizar ainda mais? Ventilar na mídia, por exemplo, que todos os políticos – mais uma vez sem dar nomes – compram votos, mentem descaradamente, gostam de dinheiro sujo e são demagogos? E aí? Imunidade paramentar pode ser uma arma letal pronta a funcionar com munição da injustiça, da anarquia, da insensatez, de qualquer delírio?
Para colocar o ponto final, aguardo ansioso documentos para divulgar tudo sobre a tal “caixa-preta” do Ipes. Documentos. Ilação e jornalismo sério são como óleo e água. Como político sério e mentira. São líquidos imiscíveis. Aprendi com o professor de química Augusto Bezerra, há anos, no Unificado, que não se misturam.