Por Joedson Telles
Ao assinar uma nota de pesar por conta de Sergipe ter, lamentavelmente, ultrapassado o número de 100 mortes de vítimas da Covid-19, o governador Belivaldo Chagas se valeu, mais uma vez, de uma frase que já se tornou conhecida na boca das pessoas sensatas: “se puder, fique em casa”.
Pessimista ou realista – deixo a critério do internauta julgar -, não creio que o governador, o bom senso e a inteligência levem a melhor nessa aí. Aposto uma canela de pedreiro (pagar após a pandemia) que a frase, outra vez, entrará por um ouvido e sairá pelo outro da maioria dos que subestimam o vírus dando de ombros ao isolamento social.
O alerta de Belivaldo deveria encontrar eco em todos, mas quem já provou não ter educação, respeito e amor ao próximo não parece muito disposto a se redimir – ainda que por conta de uma pandemia.
Aliás, a forma como o vírus mexe na vida das pessoas, independente de posição social, cor, nacionalidade, idade…, obriga à reflexão sobre a própria vida, mas muitos se dão ao luxo de ignorar.
É fácil discernir que o descaso com um inimigo invisível e letal não nasceu no dia em que pela primeira vez alguém aconselhou a ficar em casa para evitar se contaminar e contaminar outras pessoas.
Levando a coisa para um lado filosófico, percebam que erros, vícios, atos irresponsáveis que não deveriam, mas fazem parte da vida de muitas pessoas não tiveram a atenção devida dos responsáveis pela correção e, assim, a cultura caótica foi criada. Vivemos a era do desrespeito. Do “e daí?”. A questão é saber se falharam os pais, os professores, as autoridades ou se falhamos todos nós.
E vendo por este ângulo, reforçamos a tese que o sergipano não inventou a roda. Tampouco o governador Belivaldo Chagas é o único a falar ao vento. Em São Paulo, por exemplo, onde a doença já levou a óbito, até as últimas horas, quase 7 mil pessoas, e contaminou mais de 83 mil, o governador João Doria vive drama idêntico: não consegue convencer a maioria da população da letalidade da doença, apesar de os números não deixarem dúvidas.
O que mais deixa as pessoas de bom senso indignadas, entretanto, é que, além de o vírus matar mais por ter essa cultura da irresponsabilidade como aliada, o sacrifício de muitos não está sendo valorizado.
Trabalhadores da saúde, da polícia, da imprensa e dos demais serviços essenciais, assim como os que fazem o comércio e estão impedidos de trabalhar, são completamente ignorados por uma gama de insensatos que podem ficar em casa, mas optam por bater pernas nas ruas, aumentando o número de infectados. Se a frase fosse “fique em casa ou na cadeia”, o que soaria radicalismo, certamente, jogaria contra a pandemia. A favor da vida.