Por Elder Santos
O grande dramaturgo Nelson Rodrigues, que se autodenominava um “anjo pornográfico”, foi também um grande frasista. E um apaixonado pelo futebol. Frases como “Em futebol, o pior cego é o que só vê a bola” e “Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, ou ainda “O futebol é passional porque é jogado pelo pobre ser humano”, são antológicas.
Mas aqui outra de suas frases nos interessa em particular: “Amar é ser fiel a quem nos trai” (Rodrigues, 1997).
O amor tolera a traição. A fidelidade é um sinal de amor.
Como transpor essa relação entre amor, fidelidade e traição para o futebol?
O sentimento que um torcedor tem por seu time, seu clube, é forte. É amor? Por que o torcedor exige dos jogadores “amor à camiseta”?
Porque ele sente isso e exige que aqueles que representam o seu time sintam o mesmo. O que é ser fiel ao clube? É estar ali, presente, nas horas boas e ruins, indo ao estádio, com sua bandeira, sua camiseta, pagando a mensalidade de sócio.
Não é de hoje que, volta e meia, torcedores acabam perseguindo e até agredindo jogadores de seus times por atuações e resultados ruins. E, trazendo ao futebol sergipano, vivenciamos uma crise de relacionamento (Amor e ódio), entre o “ídolo proletário” Leandro Kível e a torcida azulina. Em suas três temporadas no Confiança, o jogador conquistou dois títulos, um acesso e foi duas vezes artilheiro do campeonato sergipano. Ao todo, Leandro fez 36 gols pelo clube.
Amor: semana passada, Kível foi homenageado com placa por completar centésimo jogo com a camisa do time do Bairro Industrial. E alguns meses atrás, o artilheiro foi homenageado com a camisa 80 em comemoração ao aniversário do clube no mês de maio.
Ódio: Ira de parte da torcida com oportunidades desperdiçadas pelo artilheiro. Na partida deste domingo, (15.08), na Arena Batistão, o atacante desperdiçou duas oportunidades claras de gol e foi substituído na volta do intervalo. Na saída do campo, foi alvo de vaias e que foram estendidas para parte externa do estádio.
Quase chegando ao contato físico, com torcedores descontentes com sua atuação.
Teria Leandro desaprendido? A verdade é que desde 2014, o jogador tem tido alto e baixos no seu rendimento. Outrora, era a falta de jogadores de criação, em outra parte, instabilidade emocional do atleta.
É necessário alguém chegar e dizer que o tempo do ex- ídolo chegou ao fim no Bairro Industrial. Reconhecendo sua importância na história do clube e seu amor ao vestir o manto proletário.
Foto: Osmar Rios