Por Joedson Telles
Partiu do prefeito João Alves a denúncia que há médicos no município de Aracaju recebendo dinheiro para atender pacientes durante quatro horas, mas que “só querem trabalhar uma hora”. Dito de outra forma: há médico querendo (botando mesmo?) o dinheiro suado do trabalhador no bolso sem justificar com o ofício. O prefeito denunciou ainda o que conhecemos como “greve branca” dos médicos por se oporem às Organizações Sociais (OSs) na Saúde Pública de Aracaju.
Aí eu pergunto: e os pacientes? Mesmo custeando os salários dos médicos não têm direito aos serviços? Não merecem respeito? Eu mesmo respondo: na cabeça de quem tem coragem de queimar um plantão, mesmo sabendo que há uma vida em xeque, e não tem ninguém para salvá-la, não. Friamente, não. A menos que o paciente em questão seja um parente ou amigo do insensato.
Dada a gravidade da denúncia, num país ajuizado haveria uma investigação rigorosa e séria. Em se comprovando o absurdo, o cinismo de quem fez juramento pela vida, pessoas pagas com o dinheiro do contribuinte para devolver à saúde dos pacientes, mas que, ao contrário, estariam usando da irresponsabilidade para ajudar, indiretamente, nas mortes seriam jogadas na cadeia. Sem meio termo.
Mas isso num país sério. Num país onde também não existisse homem público corrupto surfando na impunidade e no conformismo de uma sociedade embrutecida, que ainda se permite ao luxo de ir às urnas elegê-lo.
No Brasil, somos obrigados a assistir a escândalos como o denunciado pelo prefeito João Alves e ter que aturar a desfaçatez de quem ainda sai em defesa do erro. No Brasil é assim mesmo. Não deveria ser, mas é. Absurdos ficam impunes e caem em blecaute com facilidade ímpar. As denúncias, às vezes, sequer são apuradas. E os artistas da cinca sempre zombam do contraditório.