Eduardo Lima observa que Aracaju tem mais de 38 mil famílias abaixo da linha da pobreza
Por Joedson Telles
Pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, o vereador Eduardo Lima (Republicanos) analisa, nesta entrevista que concede ao Universo, neste domingo, dia 5, a sua relação com o prefeito Edvaldo Nogueira (PDT) e seus secretários, rechaça críticas feitas à teoria da prosperidade, analisa o cenário político de Sergipe na pré-campanha pelo Governo do Estado e, entre outros temas, comenta as dificuldades frente à demanda social que bate à porta do seu mandato. “Quando você está na linha de frente do social, e você trabalha com a pobreza extrema, você vê que Aracaju possui, hoje, mais de 38 mil famílias que estão abaixo da linha da pobreza, e você vai trabalhar com estas famílias; a gente não consegue fazer tudo. Então, tem hora que nos sentimos até impotentes diante de pedidos que chegam à Câmara de Aracaju, pessoas que nos procuram… Não é fácil”, desabafa o parlamentar.
Como está sendo a experiência de exercer um mandato de vereador por Aracaju? Está dentro das suas expectativas?
Ser pastor é a vocação, ter o mandato de vereador é algo momentâneo. A vocação pastoral já nos remete às pessoas em vulnerabilidade social, vulnerabilidade espiritual. Você unir o homem público ao papel vocacional do pastor nos traz uma certa tranquilidade para exercer um mandato. Quando você lida com a pobreza – seja ela física, seja ela espiritual -, quando você lida com o sofrimento in loco já lhe dá um certo manejo para você se envolver com essa causa. Saber entrar na periferia, saber sair da periferia. Quando comecei o mandato, estava em campanha para conquistar o mandato, eu sempre dizia para as pessoas que a nossa intenção era levar um olhar mais humano da Câmara Municipal de Aracaju às periferias aracajuanas, e isto nós temos feito. Nós temos um projeto chamado “Educando Para Libertar”, que tem chegado a jovens que estão em busca do primeiro emprego. Nós temos atuado muito em bairros como o Santa Maria, Lamarão e Soledade, bairros da periferia, seja zona norte, zona oeste, zona sul… não importa, temos trabalhado muito. Unir o mandato ao lado pastor nos traz mais força para lutar pelo povo aracajuano.
Está sendo possível cumprir as promessas de campanha?
As promessas de vereador são muito complexas. Por quê? Porque o vereador está no (Poder) Legislativo, o vereador propõe ao (Poder) Executivo. Nós estamos fazendo muitas propostas ao Executivo dentro daquilo que nós queremos ver de diferente na cidade. Recentemente nós propusemos ao Poder Executivo que criasse uma subprefeitura, ou prefeitura-bairro no complexo do Santa Maria. 70% das pessoas que moram lá são pessoas que participam dos projetos sociais do Município, do Estado ou do Governo Federal, e isto nos mostra que a maioria das famílias que moram lá são famílias que vivem em vulnerabilidade social. Proposta do fortalecimento dos Cras, dos Caps dos Creas e dos Conselhos Tutelares, e nós estamos incluídos nisso. Mas repito: o vereador, o legislativo, não pode criar projetos de lei para onerar o município; então as nossas propostas, sejam indicações ou projetos de lei, dentro do que nós trabalhamos, no que diz (respeito) à proposta estão sendo feitas. Psicólogos e assistentes sociais nas escolas trabalhando e fortalecendo o Serviço Único de Assistência Social em Aracaju. Estivemos em Brasília, no ano passado, visitamos o ministro (da Cidadania) atual, que era o deputado federal João Roma (PL-BA), levamos pleitos daqui de Aracaju em relação ao aumento do número de cestas básicas nos Cras. Nós vamos trabalhando dentro disto, mas como disse: o papel do vereador é solicitar ao executivo. E o que nós estivemos de propostas estamos cumprindo dentro daquilo que o executivo pode trazer de realização aos nossos pedidos.
O que o senhor destaca do seu trabalho, até o momento?
O trabalho social. O meu mandato é voltado em cima do social, em cima do lado social. Nós temos um trabalho social muito grande. Nós temos um gabinete que fica na Rua Lagarto, que nós atendemos em um trabalho social muita gente dos diversos bairros de Aracaju. Nós estamos na periferia, seja na Zona Sul ou Norte, o nosso mandato, ele é aplicado dentro da pauta do trabalho social, haja vista os atendimentos que fazemos unidos aos projetos sociais da instituição na qual eu como pastor procuro fortalecer este trabalho, até porque este trabalho religioso e espiritual somado ao trabalho das ferramentas públicas faz com que o ser humano que está em vulnerabilidade se sinta mais acolhido. O nosso mandato está 100% voltado ao social.
Quais as principais demandas que chegam ao seu mandato? Está sendo possível atender?
Quando você trabalha voltado ao lado social as demandas são de linha de frente: é um gás que falta, é um talão de luz e de água que a pessoa fica sem pagar, é um aluguel… Quando você trabalha com famílias de vulnerabilidade as demandas são estas: é a fome, miséria, é a dificuldade de colocar o pão na mesa, uma luz ligada, uma água na torneira, é a falta de água e de transporte, é a falta de atenção no que diz respeito ao tapa-buraco, a lâmpada acesa no poste, ao médico na UBS. Quando você está na linha de frente do social, e você trabalha com a pobreza extrema, você vê que Aracaju possui, hoje, mais de 38 mil famílias que estão abaixo da linha da pobreza e você vai trabalhar com estas famílias; você vai conviver com a pobreza extrema, vulnerabilidade extrema, a gente não consegue fazer tudo. Então, tem hora que nos sentimos até impotentes diante de pedidos que chegam à Câmara de Aracaju, pessoas que nos procuram… Não é fácil.
Como está a sua relação com o prefeito Edvaldo Nogueira e os secretários da PMA?
O meu partido é da base do prefeito. Eu faço parte da base que sustenta o mandato do prefeito Edvaldo Nogueira, na Câmara de Vereadores. O meu mandato tem uma relação boa com o prefeito Edvaldo Nogueira. Nos recebem bem, nos atende, sempre que solicita audiência com o prefeito ele nos recebe. Recentemente, solicitamos a ele um paliativo nas ruas, principalmente nas ruas do Bairro São José, no Robalo, e nos atendeu. Recentemente, solicitamos um paliativo em uma rua no Manoel Preto, no Bairro Industrial e ele nos atendeu e outras solicitações que ele nos atende. Eu considero que a relação com o prefeito Edvaldo Nogueira é boa, porém, nem todos os pedidos que fizemos a ele conseguimos realizar, mas o prefeito tem sido sempre simpático em nos receber e nos atender.
Recentemente, o senhor afirmou, na Câmara de Aracaju, que o Republicanos, seu partido, “não está aqui para ser coadjuvante”. O que o senhor quis dizer? A quem o senhor dirigiu seus verbos?
O partido ao qual eu sou vereador e filiado, há mais de 10 anos, partido conservador, de princípios cristãos que luta pela família tradicional, ele sempre teve o histórico de eleger um vereador em Aracaju. Nesta legislatura, nós temos dois vereadores: um vereador com 4 mil votos e outro com quase 2 mil votos, e isto mostra o crescimento do Republicanos. Isto mostra que o Republicanos está com uma nova roupagem. O Republicanos é um partido que no auge do seu crescimento mudou seu nome de PRB para Republicanos. A gente percebe que têm partidos aí que fazem estas mudanças para se livrar de algum escândalo de corrupção, de algum problema, e o Republicanos não, saiu de um alinhamento de centro-esquerda e foi para um alinhamento de centro-direita. O Republicanos vem crescendo nessas pautas conservadoras, e o nosso discurso é o discurso para ecoar em todo o estado de Sergipe. Não foi um recado para uma pessoa ou líder político, ou para algum ocupante de um cargo do executivo. Nosso recado foi para que os aracajuanos e sergipanos entendam que o Republicanos tem força, tem grupo, conjunto e nomes, o Republicanos é um partido grande, não é um partido pequeno e o Republicanos tem que sentar-se à mesa para discutir tudo aquilo que for de bom para a população aracajuana e sergipana.
Líderes da legenda, como os ex-deputados Heleno Silva e Jonny Marcos, comungam com este seu juízo de valor? Como é sua relação com eles?
O ex-deputado federal Jonny Marcos é presidente estadual do partido Republicanos em Sergipe. O ex-deputado federal Heleno Silva ele é presidente de honra do Republicanos. Os dois têm uma história no partido; os dois já possuíram o mandato de deputado federal. Jonny foi vereador por três mandatos. Heleno federal duas vezes, estadual uma vez, foi prefeito de Canindé. Eles têm uma história política. Politicamente são nomes fortes do Republicanos, nomes que representam política no Republicanos, por isto, a nossa relação com eles é partidária, é a relação de correligionário para que o partido cresça e para que o partido sempre avance.
Assim como Heleno e Jonny, o senhor é oriundo da IURD. Os três deixaram o altar para disputar um mandato. Como é essa relação com a igreja, hoje?
Olha, eu sou pastor da Universal, pastor da ativa. Não estou no altar físico, literalmente falando, mas estou no altar. Sou pastor e estou vereador, digo: ser pastor é vocação, estar vereador é algo momentâneo. Se acabar o mandato e eu não for reconduzido, voltarei para o altar físico, estarei no altar com aquilo que fui chamado como vocação. Em relação a Heleno Silva e Jonny Marcos, na instituição a qual estou pastor eles não são mais pastores, eles não fazem mais parte do quadro eclesiástico da Igreja Universal do Reino de Deus, mas frequentam a igreja, assistem aos cultos quando podem, e, também, frequentam outras denominações. Essa questão da liturgia, da fé, da crença de Heleno e Jonny é algo muito pessoal deles, eu posso falar por mim, eu sei que eles, do quadro eclesiástico da Igreja Universal do Reino de Deus eles não fazem mais parte por opção deles, mais do que isto só eles podem responder.
Como o senhor avalia as críticas que as igrejas neopentecostais recebem, inclusive por parte de outros evangélicos, por conta da teologia da prosperidade?
Isto é muito peculiar, isto é muito propício às igrejas que entendem que Deus, ele é Deus, e pode abençoar a pessoa em tudo, e a pessoa diz se aceita ou não. A nossa vida é nossa, e se nós queremos pautar a nossa vida dentro da lei que a nossa vida ensina; ele diz que na palavra dele que Deus é dono do ouro e da prata, ele diz no Salmo 23, eu sou o seu pastor e nada me faltará, versículos que todos nós conhecemos, e que às vezes colocamos em paredes através de molduras. Porém, isto tem que ser visto na vida das pessoas que creem nesta palavra. A palavra do senhor diz: creia na palavra do senhor seu Deus e estareis seguros. Creia nos seus profetas e prosperarei; por isto, nós entendemos que: os profetas, pastores, os bispos e as pessoas que trabalham têm que se vestir da unção que foi dada e levar ao povo a prosperar. É errado levar o povo a crescer? É errado levar a pessoa a ter uma vida de prosperidade? Eu creio que não. Eu costumo dizer que onde abre uma porta da Igreja Universal do Reino de Deus vidas são transformadas, porque a pessoa chega com seus dogmas e paradigmas e seus bloqueios e esses bloqueios colocam sobre elas pesos: eu não posso, eu não consigo, o pobre vem a Deus… Mais vale um pássaro na mão do que dois voando… E assim por diante, afirmações que levam a pessoa a se ver pequena, como minoria, e quando ela ouvi a palavra de que tudo é possível ao que crer, e se ela consegue romper as barreiras do seus próprios pensamentos, ela passa a se libertar das suas próprias limitações, e passa a acreditar que ela pode, ela passa a acreditar que ela crer. Então, as críticas sempre vão existir, mas eu garanto que esses que criticam, se forem a uma pessoa que chegou na igreja mendiga e hoje tem uma empresa, o que ela vai responder sobre isto? Então, eu acho que os críticos têm que ir em busca das pessoas que mudaram de vida.
Como avalia o atual momento político de Sergipe? A pré-campanha para governador?
Essa eleição é uma eleição em que nós temos três pré-candidatos fortes: o Rogério Carvalho do PT, o Fábio Mitidieri do PSD, que é o pré-candidato apoiado pelo governo que aí está, e o Valmir de Francisquinho que é uma revelação na política do estado. Foi prefeito de Itabaiana por duas vezes, cresceu em Itabaiana. Nós temos o Fábio Mitidieri que é deputado federal de mandato e o Rogério Carvalho que é senador. Fazer, confabular, criar pensamentos em cima disso hoje é algo muito prematuro, a campanha é ainda daqui a dois meses, muita coisa vai acontecer, muita coisa pode acontecer. Nós estamos aí com o julgamento de Valmir de Francisquinho, que ele pode ou não ser candidato, dependendo do resultado do julgamento do TSE. Então, da mesma forma que muitas coisas podem acontecer, nada pode acontecer, então temos que esperar, esperar para poder citar ou criar alguma especulação.
Na sua opinião, o Republicanos deve pleitear ser protagonista ou se contentar em ser coadjuvante?
Essa resposta virá nas eleições de outubro. O Republicanos tem, hoje, pré-candidatos competitivos para deputado estadual e federal. Se o resultado dessa eleição for o que nós imaginamos, o Republicanos fazer dois federais, ou, possivelmente, fazer dois ou três estaduais, nós nos sentaremos à mesa como protagonistas.