Por Joedson Telles
Dos comentários sobre o resultado da eleição para a Prefeitura de Aracaju, afirmar que Edvaldo Nogueira “é o grande derrotado” talvez seja o que menos se sustenta no contexto. Em época de viciantes redes sociais, há juízos para todos os gostos. Quase todo mundo se aventura a soltar verbos. Poucos, contudo, persuadem à luz da realidade.
Edvaldo, assim como o governador Fábio Mitidieri, não disputou diretamente a eleição. Não foram seus nomes e fotos que o eleitor fitou na solitária cabine de votação para decidir o pleito.
É evidente que vestiram a camisa do candidato Luiz Roberto e perderam com ele por tabela. Mas não vejo terra arrasada, como na ótica de muitos. Nem Lula, o maior líder político do Brasil, transfere 100% dos votos.
No caso de Edvaldo Nogueira, fica difícil vê-lo como um derrotado, olhando para o seu currículo e atestando os anos que administrou Aracaju pela vontade do eleitor e o número de obras realizadas. Deixará problemas para a nova gestão resolver? Óbvio. Ninguém faz tudo.
Como todos lembram, Edvaldo também tentou emplacar Valadares Filho, em outra eleição, como seu sucessor na PMA, mas não obteve êxito. Venceu o saudoso João Alves.
Na época, choveram comentários que Edvaldo não tinha mais densidade eleitoral na capital. Após quatro anos de gestão de um João Alves distante do ex-governador tocador de obras, das alternativas oferecidas ao eleitor, Edvaldo foi eleito e reeleito. Ou seja, o mesmo eleitor que consagra diz não. Cada eleição tem a sua história.
Evidente que eleger Luiz Roberto seria algo importantíssimo para as pretensões de Edvaldo, em 2026, a saber, uma cadeira no Senado. Mas desconhece a política quem sepulta precocemente tal projeto, e, sobretudo, o próprio Edvaldo eleitoralmente.
Por sua vez, o governador Fábio Mitidieri não terá, necessariamente, um prejuízo eleitoral com a derrota de Luiz Roberto que ponha em xeque o seu provável projeto de ser pré-candidato à reeleição.
Lógico que Emília Corrêa pode, já nos primeiros dois anos de sua gestão, fazer um trabalho de excelência, que, naturalmente, desperte no eleitor o sentimento de uma candidatura sua ao Governo do Estado, em 2026.
Mas, ainda assim, Fábio entraria no pleito com chances reais de vitória, se o seu governo tiver a aprovação popular. Fábio faz uma boa gestão e tem dois anos e dois meses para melhorar onde precisa. Depende mais dele próprio do que dos erros de adversários.
Não fazer esta leitura é mais que sonegar os lados positivos para Edvaldo e Fábio: é não reconhecer os méritos de Emília Corrêa. O eleitor não lhe fez prefeita, simplesmente, porque queria mudança. Basta pegarmos os votos que outras candidaturas que também propagaram a mudança obtiveram, no primeiro turno. Só Emília teve mais votos que o então candidato governista, Luiz Roberto.
Um olhar atento aos números mostra com clareza que venceu Emília, e não uma candidata que se apresentava como a mudança. Se Emília não tivesse sido candidata, arrisco registar que o nome apoiado por ela perderia a eleição para Luiz.
Portanto, falar em derrota de Edvaldo e Fábio, pautado apenas no sentimento de mudança, é mitigar a força eleitoral que Emília Corrêa construiu, ao longo dos anos, sobretudo, como defensora pública e vereadora. É não enxergar a sua coerência. O seu trabalho de oposição, na Câmara de Aracaju. É não levar em conta a escolha certa do vereador Ricardo Marques como vice, pelo fato de andar nos mesmos trilhos. É, por fim, desconhecer o bom trabalho do seu marketing, que possibilitou uma comunicação excelente entre ela e o eleitor.
Emília não é a primeira mulher eleita prefeita de Aracaju, hoje, por supostos erros de Edvaldo ou Fábio. Insisto. Emília tem os seus méritos. Ricardo idem. O marketing funcionou. O eleitor reconhece tanto o trabalho de Emília que, além de lhe assegurar espaço na Câmara de Aracaju, já lhe deu votos para chegar à Câmara Federal, apesar de as regras do jogo terem sufocado a eleição. Desta vez, nada impediu a vitória.