Ex-deputado entende que não delatou ninguém. “O MPE sabe de tudo”, diz
Por Joedson Telles
O ex-deputado estadual Raimundo Vieira, o Mundinho da Comase (PSL), resolveu romper o silêncio e comentar a sua prisão no polêmico episódio do repasse das verbas de subvenção social da Assembleia Legislativa de Sergipe. No mesmo apartamento onde foi preso, na manhã da quarta-feira, dia 29 de julho, por volta das 6 horas, ele recebeu o jornalista que assina este texto, na tarde desta terça-feira 4. Sereno, mas, visivelmente, ainda atônito, Mundinho até hoje tenta entender a prisão. “Sinto não ter tido o direito de ser ouvido, antes de quererem me desmoralizar”, diz. O ex-parlamentar rechaça a fama de delator de deputados, que conseguiu nas manchetes da mídia após prestar depoimento. Segundo ele, o Ministério Público Estadual tem todas as informações do o repasse das verbas de subvenção. Todos os deputados, entidades e valores destinados. Tudo detalhado. “Não tem o que citar. O Ministério Público já tem tudo. Sabe quem colocou as emendas. Além disso, um deputado não sabe onde o outro coloca todas as suas emendas. A emenda é sigilosa”, disse, confirmando o que Sergipe já suspeitava: a prisão foi o pior momento da sua vida. “Na minha vida, nem quando jovem, fui detido. Nunca roubei. Nunca tive nem cheque devolvido. Mas fui escoltado com armas pesadas da minha casa na frente da minha família”, diz.
Quando tomaram conhecimento do seu depoimento, deputados negaram envolvimento em lavagem de dinheiro. Alguns até emitiram nota de repúdio. O senhor trouxe algo que o Ministério Público não tinha conhecimento ainda?
Quando da minha detenção, o que a delegada (Daniele Garcia) alegou foi que eu andava dizendo que, se eu fosse pego (preso), contaria tudo. Eu sempre me coloquei à disposição do Ministério Público para qualquer informação. Mas sempre tive a consciência tranquila. A minha subvenção, o que destinei, em 2014, que está em pauta, eu diluir em 40 entidades. Então, eu tinha segurança. Não tinha porque ter receio de falar sobre a minha subvenção. Não sei falar dos colegas. Mas a esta altura, o Ministério Público, que vem investigando há meses e meses, tem informação sobre todas as emendas de todos os 24 parlamentares. Cada centavo que foi repassado. Tem a relação de emendas e entidades. Valores. Tudo. Este caso não foi estourado por mim. Este caso já tem mais de seis meses.
Então, quando a imprensa noticia que Mundinho citou cinco deputados, nem era preciso porque o próprio Ministério Público já tinha conhecimento?
Não tem o que citar. O Ministério Público já tinha tudo. Sabe quem colocou as emendas.
Mas se falou muito no seu depoimento…
Além disso, um deputado não sabe onde o outro coloca todas as suas emendas. A emenda é sigilosa. Ninguém manda cópia para ninguém. Cada deputado tem suas entidades. Não tenho nada a ver com emenda de A ou B. Sei das minhas 40.
Das emendas destinadas pelo senhor, parece que uma entidade de Itabaianinha foi a que recebeu mais recursos, apesar de toda a polêmica em torno da Associação Ala Jovem de Lagarto. Não é isso?
Exatamente. Aí é onde existe a minha surpresa. Eu resido em Itabaianinha. Tenho o maior número de eleitores lá na região. A emenda que foi colocada naquela entidade foi diluída mensalmente, de acordo com as necessidades da entidade. Em momento algum, houve retirada total da emenda que foi colocada. E cada mês era prestado conta daquilo que retirava. Aí estava a minha segurança. Fazer como o controle interno da Assembleia Legislativa recomenda.
Mas isso deixou ex-colegas de parlamento chateados. Eles não entenderam?
Os colegas que ficaram chateados não entenderam que eu não citei nome de ninguém. O MPE já sabia de tudo. Quem me conhece na Assembleia sabe que lá eu posso ter um adversário político e não citei o nome dele (Zezinho Guimarães) vou citar dos demais? Eu não tenho conhecimento do destino das emendas dos demais deputados. Não precisa dizer: o MPE sabe de tudo.
Mas se falou muito em delação premiada. Não houve?
Delação premiada para eu citar quem, se o MPE tem tudo? Fui preso sem ter sido chamado (antes) para dar um só depoimento. Nunca dei um depoimento. Eu nunca fui convocado pelo Ministério Público ou pela polícia para prestar depoimento. Já fui levado preso como um marginal. É isso que Deus vai me dar força espiritual e moral para superar. Acho que eu deveria ser convidado para ser ouvido. Tenho residência própria. Eu não merecia. Se me convocassem iria qualquer hora. Estou sempre à disposição. E outra coisa: quem fez o habeas corpus para a minha soltura foram os próprios promotores que pediram a minha prisão.
E hoje? O que o seu advogado orienta?
Estamos analisando friamente. Ainda estou abalado sem entender. As investigações já duram seis meses meu nome foi citado, em setembro, antes das eleições. O presidente da Associação foi ouvido, mas eu nunca fui chamado para ser ouvido. Mas tive a surpresa de ver a polícia em minha porta 6 horas da manhã. Mas confio na Justiça e no Ministério Público. A verdade vai aparecer.
Houve lavagem de dinheiro?
Lavar o quê? Isso é muito complexo. Muitas vezes você tira uma nota para pagar todo o evento. Você tira uma nota só e sai pagando empresas que não tem certidões negativas ou prestadores de serviços que não têm empresas. Mas o trabalho foi feito. A entidade tem que pagar. Uma segurança, um palanque, tudo tem que ser pago. É aí que muita gente não entende e pensa que o dinheiro retorna para o parlamentar. Há um volume de despesa muito grande. São notas pequenas de R$ 3 mil. Mas acho que o decorrer do processo vai mostrar. Vai amadurecer. Mas falo por mim. Nunca denunciei adversário político. É só buscar nos arquivos. Vou entregar a Deus.
A prisão foi o pior momento da sua vida?
Na minha vida, nem quando jovem, fui detido. Nunca roubei. Nunca tive nem cheque devolvido. Mas fui escoltado com armas pesadas da minha casa na frente da minha família como um marginal. Tenho o maior respeito pelas Polícias Civil e Militar. E agradeço o tratamento que recebi da Polícia Civil. Fui tratado como ser humano. Tanto o pessoal que me pegou em casa quanto o pessoal da delegacia. Ainda estou me refazendo, mas estou bem espiritualmente. Entrego tudo a Deus. O maior juiz. Estou à disposição da Justiça. Quero dar continuidade a minha vida de trabalhador. Nunca vivi apenas de política. Sinto não ter tido o direito de ser ouvido, antes de quererem me desmoralizar. Mas entrego a Deus.
O senhor deixará a vida pública, não disputará mais eleição?
Itabaianinha está me esperando, mas vou analisar. Primeiro é preciso esclarecer bem estes fatos.