Aos 45 anos, Alcir Lopes se lembra bem dos momentos difíceis que viveu nas ruas. De Recife, em Pernambuco, ele veio a Aracaju, capital sergipana, para tentar mudar de vida. Sem recursos, não tinha onde morar. “Passei dois anos vivendo na rua. Tudo era muito difícil. Depois, comecei a vender bala nos ônibus e trabalhar como flanelinha”, contou.
Foi assim, diante das incertezas, de bico em bico, que Alcir conseguiu, mesmo morando nas ruas, realizar o sonho de se tornar técnico em petróleo e gás. Hoje, já tem uma casa para morar, mas lamenta não conseguir uma oportunidade de trabalho na área que escolheu. “Tenho um cantinho que dá para pagar, porque sou vendedor ambulante. Vou me virando como posso, mas o que eu queria mesmo era trabalhar como técnico em petróleo e gás”, disse Alcir.
A dificuldade enfrentada por ele é a mesma de milhares de brasileiros. E para as pessoas que vivem nas ruas, tudo se torna mais difícil. Alcir falou sobre o tema nesta segunda-feira (16), em reunião no Ministério Público do Trabalho em Sergipe (MPT-SE), com o procurador do Trabalho Adroaldo Bispo, que conversou, também, com o coordenador da Pastoral do Povo da Rua, Marcos Corrêa, e com a voluntária do Projeto Banho para Todos, que atende a pessoas em situação vulnerável, Evânia Andrade.
O objetivo, segundo o procurador, é encontrar meios de capacitar e oferecer oportunidades dignas de trabalho a essa população, que não tem, sequer, onde morar. “Uma das funções do MPT é o combate ao tráfico de pessoas e ao trabalho escravo. Sem sombra de dúvida, os migrantes e a população de rua estão mais suscetíveis a serem cooptados para o trabalho escravo ou para o tráfico, razão pela qual o Ministério Público pretende, ao invés de resgatar, como medida reparadora, prevenir, impedindo que essas pessoas sejam, no futuro, vítimas desses dois crimes que ainda envergonham a sociedade brasileira”, ressaltou o procurador Adroaldo Bispo, coordenador Regional da Coordenadoria Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo e Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (Conaete).
O coordenador da Pastoral do Povo da Rua, Marcos Corrêa, afirma que muitas pessoas qualificadas profissionalmente estão nas ruas e só precisam de uma oportunidade. “É muito importante esse diálogo e esse olhar humanizado do MPT-SE, para oferecer dignidade e uma retomada de vida para essas pessoas. Sabemos que a moradia é importante, mas não adianta ter um lugar para viver e não ter trabalho. Temos professores, enfermeiras, técnicos que, infelizmente, estão nessa condição, e acreditamos que a parceria entre as instituições pode mudar essa realidade”, destacou.
A voluntária do Projeto Banho para Todos, Evânia Andrade, acredita que só a união de forças pode trazer resultados efetivos. “Aqui, vemos uma porta se abrir. O que os moradores de rua precisam é de dignidade e qualidade de vida. E isso começa a partir de um curso, de uma qualificação, que não temos condições financeiras para proporcionar. Com a união de todos, muitas pessoas poderão ser beneficiadas”, disse a voluntária.
Migrantes
Outro ponto discutido na reunião foi a realidade dos migrantes que vivem em Aracaju. Atualmente, segundo os representantes, existem venezuelanos, colombianos, cubanos, um refugiado político da Polônia e migrantes de outras nacionalidades que estão em Sergipe. O número varia de 90 a 120 pessoas que já não vivem nas ruas, mas ainda enfrentam dificuldades para conseguir um trabalho digno.
A ideia é firmar parcerias com outras instituições, para possibilitar oportunidades de capacitação e inserção no mercado de trabalho. Nesta quarta-feira (18), o assunto vai ser discutido pelo procurador do Trabalho Adroaldo Bispo com o secretário de Estado do Trabalho, Emprego e Empreendedorismo (Seteem), Jorge Teles. Também ficou definido que será realizada uma reunião com os migrantes na sede do MPT-SE, para que eles possam falar sobre os seus desafios e como as instituições podem ajudá-los.
Enviado pela assessoria/Foto: Lays Millena Rocha