Por Joedson Telles
É visível, flagrante, palpável: com a precoce morte do ex-governador Marcelo Déda, o bloco que ele liderava está solto. Não surgiu um líder capaz de unificar discursos, estratégias e projetos voltados ao êxito nas eleições 2016. Há, evidente, o respeito do grupo (parte do grupo?) pelo governador Jackson Barreto. Mas a impressão que se tem é que bem mais pela cultura de aliado não ter o hábito de contrariar o que porta a caneta das nomeações e exonerações. Não pela liderança exercida.
Nos últimos dias, assistimos às alfinetadas – e até agressões – para todos os lados envolvendo membros de partidos do mesmo grupo. Seja na pauta das eleições 2016 ou do impeachment da presidenta Dilma, troca de palavras duras dão o tom. E onde está o líder do bloco para chamar o feito à ordem? Para se impor como comandante, preservando o projeto iniciado sob a batuta do saudoso Déda? Existe líder?
Não vemos nada parecido com o peso de Déda no grupo, em 2010, quando foi preciso abrir uma vaga na chapa majoritária para o então candidato e aliado Eduardo Amorim, sob pena de não fortalecer a candidatura de João Alves Filho, e colocar em xeque o chamado “projeto da mudança”. Ou mesmo, em 2012, quando mesmo sendo do PT, o saudoso liderou a opção pelo então candidato a prefeito de Aracaju, Valadares Filho, mesmo tendo o petista Rogério Carvalho na disputa. Enxergou o melhor para o grupo e não para o PT por motivos óbvios. Aliás, já havia sacrificado o mesmo PT quando trabalhou para reeleger Edvaldo Nogueira, em 2008, mesmo com a legenda querendo apresentar candidato próprio.
Com Déda vivo, Aracaju já saberia quem representaria o projeto do grupo, neste momento. O projeto era literalmente do grupo, não pessoal. Se houvesse um líder hoje, certamente, já teria feito o básico: reunido todos os pré-candidatos, analisado densidade eleitoral e pesquisas, acossando as chances de vitória, e usado o talento para unificar o time em torno do melhor nome para derrotar o verdadeiro adversário, o prefeito João Alves Filho.
Um líder em ação, ainda que não definisse um nome só para a disputa, no mínimo, trabalharia no sentido de persuadir da necessidade de se focar todas as forças em apenas duas pré-candidaturas, pelos critérios já citados aqui. Acordava a reunificação do bloco num eventual segundo turno, caso o candidato da situação obtivesse êxito. Mas assisti-se a praticamente o contrário: tudo solto, largado e invenção de candidatura. Sequelas sendo semeadas.
O resultado desta falta de liderança emerge hoje nas arrestas que vão sendo criadas entre aliados. Está na cobertura política feita pela imprensa. Nos bastidores. Nas rodas onde a política é a pauta. Nas redes sociais. Mas pode ficar ainda mais visível na fragmentação da força do grupo que pode favorecer adversários. Déda, infelizmente, morreu. A falta da sua liderança está mais viva do que nunca.