Dilma Rousseff, ainda na ressaca da vitória amealhada pelo assistencialismo escravizante, pelo terrorismo eleitoral, pela difamação de adversários e pelo uso de dinheiro roubado da moribunda Petrobras, não teve o mínimo pudor em rasgar seu mal-ajambrado programa eleitoral após a abertura das urnas e fazer tudo aquilo que dizia que os outros fariam se acaso fossem eleitos: aumento da taxa de juros, elevação dos preços dos combustíveis, supressão de direitos trabalhistas e corte brusco nos investimentos sociais.
A onda neoliberal petista, sob a batuta do banqueiro Joaquim Levy, foi o remédio amargo encontrado pelas vestais socialistas para corrigir doze anos de desmandos, corrupção desenfreada e estagnação econômica. Se desse resultado a curto prazo, seria apenas um mal necessário e temporário aplicado por um governo responsável e austero. Se não trouxesse nenhum benefício imediato, seria visto como a prova de que o ardil, a desfaçatez e o cinismo presidiram a campanha de uma candidata que fez da mentira sua plataforma de governo.
E não deu outra. Assim como o Vasco da Gama, a máscara da presidente insidiosa não demorou a cair, e com ela, sua aprovação, que já anda abaixo da inflação prevista para o ano.
Sim, Dilma Rousseff mentiu para 200 milhões de brasileiros. Vendeu um país rico, justo, promissor. Tirou da cartola e exibiu um gigante anabolizado por bilhões de litros de petróleo do pré-sal, povoado por milhões de jovens capacitados em escolas profissionalizantes de ponta, dessas capazes de revitalizar o currículo de economistas, advogados, engenheiros e toda gama de profissionais com mais de cinquenta anos e circunstancialmente fora do mercado de trabalho.
No Brasil de Dilma, os banqueiros auferem lucros pornográficos, enquanto a indústria quebra e milhares de postos de trabalho são fechados diariamente (e diuturnamente, diria a mandatária), criando um exército de desempregados e engrossando o caldo de uma crise que seria passageira, não fosse o fato de conter, a par dos fatores econômicos conhecidos, componentes éticos e políticos que atuam como barreira à recuperação da credibilidade do governo.
Meses atrás, em um discurso nos Estados Unidos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que por muitas vezes perdeu a popularidade, mas jamais perdeu a credibilidade. E sem o binômio popularidade-credibilidade, convenhamos, governo nenhum consegue adotar medidas tão drásticas e escapar ileso, sobretudo após um estelionato eleitoral sem precedentes.
Agora que, com uma ajudinha do procurador geral da República, Rodrigo Janot, cravou uma faca no coração do seu desafeto, o malvado favorito e presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB/RJ), afastando a possibilidade de instalação de um processo de impeachment, Dilma bem que poderia olhar o horizonte e perceber que, por mais que tente, não conseguirá superar a crise atual, mesmo porque é ela mesma parte indissociável do gigantesco problema que engolfa o país.
Se tiver grandeza, fará como seu colega Alexis Tsipras, primeiro-ministro da Grécia, que renunciou neste 20 de agosto após perder a confiança em razão da rejeição do pacote de austeridade imposto pela União Europeia. Poderá até sem homenageada e imortalizada pelo petista Chico Buarque.
Nem é preciso dizer que o Brasil está bem acima dos interesses de uma presidente que não mais governa e um partido que virou sinônimo de descrédito.
PAULO MÁRCIO é Delegado de Polícia Civil. Presidente da Associação dos Delegados de Polícia Civil de Sergipe – Adepol. Colunista do portal Universo Político.com.br desde 2009. Contato: [email protected]