Por Joedson Telles
Para quem tem a sensibilidade de usar da empatia com quem vive um drama, poucas coisas revoltam mais que acordar às 6 horas e pescar num destes programas de rádio que há uma idosa, com câncer, dentro de uma ambulância impedida de chegar ao hospital onde precisa ser submetida a uma sessão de quimioterapia. Uma “manifestação” impede a passagem. Macabro. Sinistro. Supera a desumanidade, a falta de amor ao próximo. Beira a insanidade. Transborda a irresponsabilidade e, sobretudo, a falta de inteligência para discernir que a ideia que é nociva aos doentes, trabalhadores, pobres, inocentes, quando muito, faz um arranhão de leve nos políticos.
Lógico, evidente, trivial: qualquer pessoa neste Brasil democrático tem o direito de protestar (sem violência) contra atos políticos com os quais não concordem. Os políticos, via de regra, esquecem, mas não são donos de si. Dependem da vontade da própria sociedade para chegar e permanecer no poder. São empregados públicos. Todavia, espertos, se valem da falta de discernimento que a maioria do eleitor tem do poder que está no voto e abusam mesmo.
O problema, contudo, é que as cabeças pensantes destas manifestações já deveriam ter discernido que esta prática atinge em 1% ou menos os políticos, assim mesmo, indiretamente, mas prejudica muito as pessoas, que não têm culpa ou que têm a mesma parcela de culpa que os próprios manifestantes. Basta lembrarmos que o presidente Temer foi eleito na mesma chapa da petista Dilma, que teve o apoio de Lula, que, por sua vez, orienta o voto de praticamente 100% dos manifestantes.
Aliás, não falta quem enxergue as tais manifestações, que lascam o cidadão comum, mas não tiram um só segundo de sono dos políticos, como política partidária. Seriam “eleitores especiais” do Lula em campanha antecipada. Isso porque são praticamente as mesmas almas que organizam manifestações em defesa do Lula, e criticam o juiz Sérgio Moro. Também são flagrados nas redes sociais com postagens afins.
Até aí tudo bem. Nada mais democrático que abraçar um político, mesmo sendo um condenado em primeira instância e um acusado de participar do maior esquema de corrupção do Brasil. O problema é transferir a conta para quem não tem culpa, sacrificando pessoas inocentes em nome do projeto político.
Com todo o respeito que cada uma destas pessoas merecem, algumas inclusive com as quais tenho boa convivência nesta terra geograficamente pequena, é preciso defender a causa com mais inteligência. Pensar em formas que, de fato, atinjam políticos desafetos sem, contudo, prejudicar as demais pessoas.
Há algo mais irresponsável e egoísta que impedir a circulação de ônibus? Bolas! Quem se submete a ser passageiro em um ônibus, mais das vezes lotados, não tem como comprar um carro ainda que financiado. Não pode também andar de Uber ou táxi. Por ironia do destino, já é uma pessoa sacrificada. Aí vem uma manifestação e lhe tira, violentamente, este direito, indiretamente podendo tirar também o seu emprego e até mesmo a sua vida? Exagero? Nada. Pobre usa ônibus quando passa mal e precisa de um médico ou não?
As perguntas inevitáveis: os manifestantes percebem que não atingem os políticos, mas são nocivos à população? Ao meio ambiente quando tocam fogo em pneus? Sabem que esse negócio de manifestação, quando muito faz cócegas no poder, mas não mudam nada? Olha o Temer aí no poder. Manifestação atrás de manifestação. Esperneio do canso. Golpista pra lá e pra cá. Tiraram? Nada. Colocaram-no, mas não têm forças para tirá-lo. E querem – e jogam – a conta no colo de quem não tem culpa. É froid…
A cada nova manifestação, a cada discurso bonito e inflamado, argumentando defender o trabalhador, lembro do suado trabalho do ministro do TSE, Herman Benjamin, relator do processo de cassação da chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, no Tribunal Superior Eleitoral. Homem sério. Ali, se provou os métodos nada republicanos dos quais se valeram PT e PMDB para chegar ao poder. Apesar disso, não deu em nada. Aquela história lá de “couveiro de prova viva”. Alguém viu uma só manifestação dessa turma sobre o escândalo?