Por Joedson Telles
Ainda procuro o sentido de o prefeito João Alves Filho merecer tanto destaque na mídia por ter externado o óbvio: o candidato a prefeito escolhe seu vice. Nada de “goela abaixo”. E seria diferente? Sobretudo em se tratando de um líder, ex-governador por três vezes, sentado na cadeira de prefeito e ainda liderando as pesquisas? Talvez o recesso na Assembleia e na Câmara de Aracaju, as férias do governador Jackson Barreto e o fato de o próprio João Alves nem sempre estar disposto a falar em política explique a demissão que o óbvio está a tomar…
…Bem ao seu estilo, o prefeito sequer confirma a trivial pré-candidatura a reeleição. Coloca sempre na condicional. Mas joga nas entrelinhas outra obviedade: não abre mão do seu amigo José Carlos Machado, ao dizer que já tem na cabeça o nome do vice. João, lá na frente, quando admitir a candidatura, pode apostar, anuncia também (oficialmente) José Carlos Machado ao seu lado.
Vidente? Nada. Mas se nem o PSDB definiu quem supostamente seria o vice, e João já admite publicamente ter em mente quem é o seu nome, há dúvida que Machado é o cara, com respeito a Roberto Carlos? Aliás, para os mais atentos ele revelou isso, ao afirmar que Machado é o seu braço direito, e não um vice-prefeito comum. Como escolher outro nome? João Alves anunciou Machado antes de anunciar a si mesmo.
Machado, além da amizade de anos, da lealdade que já demonstrou neste tempo, é prefeito de Aracaju ao lado de João Alves. É aquela história de administrar com quatro mãos. João, inclusive, se permite ao luxo de focar mais a administração em si, ações e obras, deixando a parte política, a mais complicada, muitas vezes, a cargo de José Carlos Machado, que, aliás, faz muito bem. Tem jogo de cintura e experiência para lidar, inclusive, com o assédio de praxe oriundo do poder. João é mais impaciente.
Não entro no mérito se no grupo do senador Eduardo Amorim, no novo PSDB, tem ou não um nome que desempenharia tão bem a mesma função quanto Machado. Lógico que há quadros tucanos importantes. Mas não sei se capazes de superar toda a história que liga João Alves a José Carlos Machado.
João Alves, nas entrelinhas ou não, já tomou sua decisão. Cabe ao senador Eduardo Amorim ganhar tempo. Ou recuperar tempo. Reunir seu grupo, “ontem”, para decidir se aceita a aliança com a manutenção de Machado ou se rompe e busca outro caminho. Inclusive se apresenta um candidato próprio, e tenta derrotar o próprio João Alves nas urnas. Política é para profissionais. Como canta Arlindo Cruz, “camarão que dorme a onda leva”.