Por Joedson Telles
Convido o internauta a prestar atenção às frases entre aspas que seguem. São palavras assinadas pelo senador do PSB Antônio Carlos Valadares: “As minhas premonições me avisam: apenas estão inventando pretexto pra 2016 e 2018. Quem viver, verá!”, postou no seu twitter.
Para quem ainda se esforça em não perceber a crise aberta na sua relação com o governador Jackson Barreto, depois que optou pelo apoio a Aécio Neves, e que o endereço da sua twittada são os ouvidos do próprio Jackson, Valadares trata de, na mesma ferramenta, tirar a prova dos nove. O senador foi ao twitter tão logo soube que o governador havia resmungado por conta da sua presença no palanque tucano.
Reproduzo fielmente o que está no twitter do senador, depois retorno ao gramado. “Insinuar q apoiar Aécio é ficar do lado de @eduardoamorimse é querer agradar ao poder e anular o meu papel na vitória de @jacksonbarreto_. Na reunião/PSB nacional defendi a proposta da liberação total da escolha presidencial. Fui derrotado fragorosamente. Sigo a maioria e ponto. É preciso q se respeite o PSB, q sempre teve uma conduta ética, decente e leal com os seus aliados em várias eleições jamais fugindo da luta. A decisão do PSB Nac ñ compromete a honra nem o nosso passado face à realidade do Brasil de hoje. Ñ dei a palavra a ninguém sobre o 2° turno. Ainda está por nascer alguém que me faça recuar diante de uma decisão legítima e consciente tomada, democraticamente, pelo PSB nacional”, postou.
A política e a sua peculiaridade de necessidade podem promover o ar de tranquilidade sem o qual a aliança, e a consequente convivência harmônica entre Jackson Barreto e Valadares, inexistirá logo logo. Entretanto, fica evidente, não no seu apoio a Aécio, mas nas palavras que o próprio senador estacionou na rede social que ele não espera receber o mesmo apoio que deu ao então candidato Jackson Barreto nas próximas eleições.
Isso, lógico, no atacado – quando tanto ele quanto o deputado federal Valadares Filho podem se lançar candidato já em 2016 para prefeito de Aracaju, num aperitivo para a disputa de 2018, pleito que pode ser ímpar na biografia do senador dada as suas pretensões. Daí as frases “As minhas premonições me avisam: apenas estão inventando pretexto pra 2016 e 2018. Quem viver, verá!”. Eis o ponto mais importante da polêmica, embora quase tenha passado despercebido.
Fica difícil para os pobres mortais que não respiram política 24h como os próprios políticos, assessores e jornalistas voltados à editoria entenderem, mas a dinâmica do jogo exige dos seus participantes este grau de antecedência. A precaução que soa açodamento aos inábeis. Mal as urnas que amealharam os votos das eleições 2014 foram apuradas, ainda no calor do 2º turno presidencial, 2016 e até 2018 entram na pauta. Se é que podemos escrever que um dia estiveram fora dela. Mas é da política. Como canta Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz, “camarão que dorme a onda leva”.
Aos de curta memória, lembro, em tempo, que o senador Valadares, antes das definições para o pleito de 2014, provou não morrer de amores por governo e governador. Numa só tacada, entregou todos os cargos que o PSB tinha no governo Déda/Jackson, e assumiu uma posição de independência. Tentou um acordo com o prefeito de Aracaju, João Alves, que, se vingasse, apoiaria João para o governo ou ele mesmo seria o candidato contra Jackson Barreto.
A permanência de João no palanque dos irmãos Amorim, contudo, sepultou tais planos. E, aos olhos dos mais atentos, a reaproximação do governador Jackson Barreto, indicando o fiel aliado Belivaldo Chagas como candidato a vice-governador, deu-se, principalmente, pela necessidade de reeleger o deputado federal Valadares Filho. Seria complicada uma reaproximação do grupo liderado pelo senador Eduardo Amorim (PSC), para encaixar o projeto do PSB. Inclusive por conta de prefeitos ligados a Valadares sequer cogitarem deixar o grupo de Jackson para apoiar Eduardo. Maduro, Valadares, lógico, não colocaria em xeque a reeleição do filho, partindo para o isolamento. Optou, então, por retornar ao grupo de JB.
Com as twittadas, entretanto, Valadares deixa evidente que não confia no governador Jackson Barreto apoiar o seu projeto nas próximas eleições. Pode até dizer o contrário, mas que passa isso, passa. JB antecipou aposentadoria, mas pelo visto não deu garantia de que está fechado com os planos do PSB. Não confia mais em Valadares? Passadas as eleições presidenciais, governador e senador podem até aparar as arestas. O governador Jackson Barreto, sobretudo se Aécio Neves vencer o pleito, pode se dar ao luxo de ter os três senadores sergipanos como adversários políticos?
No caso do senador Valadares, existiria ainda o agravante de colocar Belivaldo Chagas numa posição constrangedora. O caminho é o diálogo. O socorro pode ser a falsidade que paira na política e permite uma convivência vigilante. O desafio, porém, provar que a frase que serve para relacionamentos amorosos pode ser descartada no mundo político: “café requentado não presta”.
P.S. Vale lembrar que o PC do B e o PMDB foram vices do PT e assumiram os governos municipal e estadual, respectivamente, com apoio de todo o bloco. Há dúvida que o PSB, que é vice pela segunda vez, aguarda o mesmo gesto?