Por Joedson Telles
Mesmo com a pesquisa Dataform apontando um empate técnico entre os pré-candidatos ao Governo do Estado – o senador Eduardo Amorim e o governador Jackson Barreto -, desavisados e a velha serventia, por certo, continuarão a soprar aos ouvidos do governador para ficar sossegado que pesquisas internas lhe são favoráveis para o êxito de suceder a si mesmo. Mesmo que João Alves esteja do outro lado, JB tem os números a seu favor e ponto final. Excesso de otimismo ou necessidade de manter viva a cultura de ignorar a realidade e apenas lisonjear o portador da caneta que nomeia e exonera também motivarão a tentativa de persuadir que o senador Eduardo Amorim não assusta por figurar na parte de baixo das pesquisas. Iludem-se e iludem terceiros velando a tese de que basta açoitar o adversário e pronto: o projeto de continuidade estará seguro.
Para ter mesmo chances reais de vitória, entretanto, Jackson Barreto depende, e muito, de reforçar seu time. Só pesquisas prematuras não resolvem – sobretudo se as demais lideranças estiverem no palanque do senador Eduardo Amorim. JB precisa de João Alves ou pelo menos repatriar o senador Antônio Carlos Valadares para ter chances reais de vitória. O problema é que João Alves, se é que já passou pela sua cabeça pedir voto para o histórico adversário, parece cada vez mais distante – à luz da animosidade que nutre com o PT. Se JB conseguir Valadares, ainda assim não terá moleza: impreterivelmente terá que enfrentar o mega grupo do PSC com o reforço do DEM, PSDB, PP, PPS, PMN… Ou seja, a pedra cantada pelo deputado federal André Moura, que vislumbra o maior arco de aliança da história da política sergipana em torno do projeto do PSC, estaria a vingar. Detalhe: toda esta engenharia pode seduzir o senador Valadares e transformar as eleições em W x O.
Longe de querer desmoralizar a lógica alheia da cozinha do governador, sustentada no delicado fio de pesquisas internas fora de época, acredito que Jackson Barreto, o experiente e rodado JB, precisa trabalhar duro para tentar evitar que o juízo exposto aqui seja resumido por ele mesmo como pedra cantada, após a contagem dos votos. Ironicamente, note-se, que esta história de “eleição tranquila” por conta de números prematuros pode ser o seu maior adversário.
Verdadeiros amigos do governador, contudo, já devem ter jogado na mesa o perigo de subestimar a força política do senador Eduardo Amorim. As duas eleições disputadas por ele, sobretudo a do seu mandato vigente, derrubam com certa facilidade qualquer argumento contrário à sua densidade eleitoral para, aí sim, desmoralizar pesquisas prematuras. Para quem sequer tinha vaga no grupo para disputar as eleições de 2010 (os pré-candidatos da chapa do saudoso Déda eram o senador Valadares e o próprio Jackson Barreto), Eduardo conseguiu mais votos que o governador – o que grita pela obviedade que o mesmo Eduardo Amorim, com ou sem João Alves, diga-se, não pode e nem deve ser subestimado. Já provou que sabe fazer política e, sobretudo, na hora certa dar o bote. Não envereda pelos caminhos do açodamento. Sabe o que quer e não recua. Sem falar que o fato de ser oposição lhe rende uma fatia do eleitorado sem esforço. E amealha outra talhada por ser o novo da política sergipana em se tratando de eleição para o Governo do Estado. Jackson pode cavar a própria cova, se subestimá-lo por conta de pesquisas internas açodadas e conselhos nocivos.
A sensação que se tem é que na cabeça do eleitor, ao menos da maioria, repousa a lógica que Eduardo Amorim continuará ao lado de João Alves como em 2012, por representarem a chamada direita, e JB do outro lado criticando duramente os dois. Seria um chute desrespeitoso perante o internauta ajuizar que João já bateu o martelo e vai mesmo com Eduardo Amorim. Não sei. Ele não me disse isso e garantiu não ter dito nem a sua sombra. Há tiros no escuro sobre o assunto. Mas as evidências levam à manutenção da aliança de 2012.
Além disso, talvez os desavisados não saibam – e os adversários de Eduardo não tenham motivos para explicar –, mas as tais pesquisas internas não representam a realidade. E nem poderiam. Pesquisa, agora, só serve mesmo para confundir eleitor desprovido de inteligência. Antecipa uma falsa realidade que não tem amparo em si mesma.
Primeiro porque ainda não aconteceram as convenções partidárias para que as verdadeiras chapas sejam apresentadas ao eleitor, e, assim, sabermos oficialmente quem vai com quem. Segundo pela própria distância que separa os números colhidos, hoje, do calor das vindouras campanhas nas ruas e, lógico, das próprias urnas em outubro. Terceiro é preciso definição dos partidos na esfera nacional. Também merece ser sublinhado que uma coisa é apresentar o nome de Jackson ou Eduardo Amorim ao eleitor e indagá-lo, neste momento, sobre sua preferência, e outra bem diferente é o próprio candidato bater à porta do eleitor e pedir o voto – inclusive na companhia de aliados que gozem de crédito junto ao eleitor.
Evito citar nomes para não soar partidário, mas convido o internauta a refletir sobre a densidade eleitoral de cada um dentro dos dois grupos para traçar o esboço. Além de Eduardo Amorim e Jackson Barreto quem tem voto nos dois grupos? Numa eleição majoritária a conta é sempre fechada levando em conta os votos de todos os políticos envolvidos no processo. Isso tudo computado, é hora de acrescentar o filé à receita: a cara dos candidatos na TV e a voz no rádio. O dedo dos publicitários para as mensagens desembarcarem nos lares sergipanos com a missão de tentar persuadir.
Note-se que neste momento, a oposição leva vantagem pelo fato de poder apontar as falhas da gestão – sobretudo em se tratando de uma oposição que nunca governou o Estado. Evidente que, por sua vez, o candidato do governo tem a seu favor obras e ações a serem apresentadas ou relembradas. Todavia, a humanidade tem o péssimo hábito de memorizar bem mais coisas negativas que positivas. Não duvidem se, assim como o fez com vários políticos, inclusive com João Alves, em 2006 e 2010, o eleitor leve bem mais em conta suas próprias demandas que os serviços prestados. E aí, sim, com tudo isso posto será possível usar as pesquisas contemporâneas como bússolas para sabermos quem chega lá. Mas pesquisa neste momento? “Sabe nada, inocente”.
P.S. Em tempo, lembro, entre vários casos, que o senador Valadares batia os 40%, segundo pesquisas açodadas para prefeito de Aracaju, em 2000. Mas Déda acabou eleito já no primeiro turno.