*Por Paulo Márcio
O governo Dilma Rousseff respira por aparelhos desde meados de 2014, época em que começaram a ser feitas algumas das diabruras com o objetivo de ganhar a eleição que viria a se configurar no maior estelionato eleitoral da história republicana brasileira. No próximo dia 17, 513 deputados federais decidirão se desligam as máquinas, dando ao moribundo o justo descanso, ou se o mantêm preso ao leito de morte por mais dois anos e meio, aprofundando ainda mais a crise com DNA petista e, quem sabe, comprometendo o futuro do país e de toda uma geração cuja esperança foi tragada pela incompetência, pela cupidez e pela imoralidade sem precedentes.
À exceção do PT e seus puxadinhos ideológicos, cuja manutenção do governo sitiado representa sua própria sobrevivência, não se justifica por parte dos demais partidos com representação na Câmara a defesa de um projeto malsinado e criminoso, rejeitado por mais de dois terços da população. Aliás, a prevalecer a mesma lógica verificada no impeachment de Collor, em 1992, os deputados dos partidos que não integram o bloco político-ideológico conhecido como Frente Brasil Popular terão muita dificuldade em explicar aos seus eleitores por que cargas d’água votaram a favor da presidente denunciada. Ainda que os motivos sejam lícitos, o julgamento popular fatalmente será no sentido de que foram comprados pelo ministro informal Luiz Inácio Lula da Silva.
Os últimos levantamentos indicam que a oposição obterá mais do que os 342 votos necessários à abertura do processo, que prosseguirá no Senado Federal, sob o comando do Presidente do Supremo Tribunal Federal. Não havendo nenhuma chicana jurídica que altere o calendário do impeachment, prevê-se que antes do dia 15 de maio a presidente Dilma Rousseff já deverá estar afastada de suas funções pelo prazo de 180 dias. Em seu lugar, assume interinamente o vice-presidente Michel Temer (PMDB), cuja função será comandar um governo de transição focado na recuperação da economia e em uma agenda política pautada no fim da reeleição e na instalação de um sistema parlamentarista ou semipresidencialista.
Espera-se de Temer a postura de verdadeiro estadista, capaz de reunir as mais diversas tendências em torno de um projeto nacional, colocando os interesses públicos acima das aspirações pessoais e partidárias. Isso dependerá, fundamentalmente, da escolha de um ministério composto por pessoas não só notáveis como desapegadas e comprometidas com as mudanças necessárias. O tempo será exíguo, não havendo espaço para ensaios e experimentos heterodoxos. Logo, será necessária uma alta dose de austeridade fiscal e muita ênfase no combate à inflação e ao desemprego, o que só poderá ser alcançado por meio das reformas estruturais e da consequente retomada do crescimento econômico em um médio espaço de tempo.
Os governistas podem espernear, maldizer a classe média, o juiz Moro e os grandes veículos de comunicação, chamar de fascistas pessoas indignadas com a corrupção endêmica e os desmandos patrocinados pelo governo, acusar de golpe um processo fundado em normas constitucionais cristalinas… Nada disso irá mudar os acontecimentos que nos levaram a esta quadra histórica. Nada disso apagará a estupefação de uma sociedade que descobriu que, enquanto os ministros Carlos Ayres Britto e Joaquim Barbosa travavam uma batalha contra a organização criminosa responsável pelo mensalão, um esquema ainda mais grandioso, nefasto e cruel operava nas sombras e tomava de assalto a Petrobras, a Eletrobras e o BNDES.
O PT de Dilma e Lula é o retrato da desolação, o avesso do que pregou em seus primeiros 25 anos de história. Pego com as calças arriadas, será apeado do poder para dar lugar ao PMDB, que, embora considerado o mais fisiológico dos partidos políticos, desfruta de uma melhor imagem perante a opinião pública. Esse, talvez, seja o grande drama vivido pelo PT: a constatação de que, na luta entre a decência e o vício, será eternamente associado ao segundo. Uma sina terrivelmente triste, mesmo para um jurássico bando de vestais e paladinos da moralidade guiados por um gângster acumpliciado com empreiteiros bandidos.
*Paulo Márcio Ramos Cruz é presidente da Associação dos Delegados de Polícia Civil de Sergipe (ADEPOL)