Por Joedson Telles
Esbarro na capa do JC, edição desta quarta-feira 17, com a manchete que o candidato a governador Eduardo Amorim (PSC) exibiu em seu programa eleitoral imagens do Hospital governador João Alves Filho do ano 2000. A ideia do candidato é comprovar o caos na saúde pública. A do jornal, mostrar o equívoco da assessoria de Eduardo, ao tentar jogar o lixo no colo do candidato desafeto Jackson Barreto, que não era gestor na época. Aliás, o próprio Eduardo disse em seu programa que “na propaganda de Jackson, os hospitais e clínicas funcionam muito bem. Tem médicos, equipamentos e remédio”. E sentenciou: “Propagada enganosa”. Por sua vez, o jornal prontamente anexou a provocação à manchete.
De fato, se o vídeo foi gravado em 2000, a assessoria do candidato Eduardo Amorim vacilou. Usou de um expediente abominável e desnecessário para tentar persuadir a meia dúzia que ainda não percebeu que a saúde pública faliu. Que não atende em sintonia com as necessidades dos pacientes – e muito menos com o que o contribuinte arca do seu bolso via impostos. Uma vergonha a colocar vidas em xeque.
O caos na saúde, de fato, existe. Quem tem coragem de afirmar de público o contrário? O próprio governador candidato Jackson Barreto sabe tanto dessa verdade que quando é apertado tenta argumentar que Eduardo Amorim foi secretário do governo João Alves e destruiu a saúde. Subestima inteligências, contudo, ao não apresentar dados que comprovem sua tese, sonega que este governo está aí há praticamente oito longos anos e o mais grave: que criou o pior câncer de Sergipe: as tais das Fundações da Saúde.
Mas nem por isso, reside sentido em usar o tal vídeo, insisto, se realmente não foi feito durante a atual gestão. Com um pouquinho de astúcia, os assessores do candidato Eduardo Amorim visitariam o mesmo hospital, nos dias atuais, e atestariam os graves problemas que os pacientes enfrentam ali. Uma vez fossem impedidos de entrar, já que desagradariam o atual governador, ao tentar expor as vísceras, fariam um excelente vídeo jornalístico e atualíssimo com familiares de pessoas penando ali. Ainda poderiam tomar emprestados ao deputado Augusto Bezerra os inúmeros vídeos que o parlamentar exibiu na tribuna da Assembleia provando que a saúde publica não funciona em Sergipe.
Os assessores do candidato Eduardo Amorim poderiam também obter a lista dos pacientes que estão na fila invisível do Hospital João Alves. Pessoas que precisam de exames, cirurgia ou outros procedimentos, mas correm risco de morte em casa, enquanto o hospital não tem como conciliar as necessidades, às vezes urgentes, como o tempo dos atendimentos. Procurar a família de uma idosa que acusou o mesminho hospital de negar-lhe atendimento, e ela acabou morrendo. Ouvir pacientes que só conseguiram cirurgias graças ao trabalho social do deputado Adelson Barreto. Reprisar as matérias através das quais o programa Fantástico da Globo mostrou o caos ao Brasil e parte do mundo.
São tantas e tão variadas formas de provar que a saúde em Sergipe soa imoralidade que daria para ficar aqui escrevendo o dia todo. Aliás, os próprios políticos no momento em que adoecem, e sabem que não cabe discurso, provam na prática e na pele que o caos não é invenção da oposição. Tampouco de jornalista que não se curva ao sistema. Todos, ou 99,9%, para não correr o risco de ser injusto, quando a coisa aperta, querem distância do Hospital João Alves Filho. Portanto, imagens velhas para provar o óbvio atual? Que a saúde é um caos? E precisa? Basta lembrar que o próprio saudoso Marcelo Déda, quando foi torturado pelo câncer que o matou, acertadamente, recorreu ao Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Faria o mesmo. E o internauta, certamente, também.