Por Joedson Telles
Nas entrelinhas da inútil animosidade entre os deputados Gilmar Carvalho e Gustinho Ribeiro, exposta desnecessariamente com direito a chula música do “lepo lepo” pra lá e amor platônico pra cá, em plena “Semana Santa’, estacionam dados bem mais pitorescos que sonegar à sociedade a informação que, após a confusão que gerou óbvias gargalhadas, Gustinho conseguiu, sim, retificar seu voto e acompanhou a bancada do governo como de praxe.
Começa pelo fato de o líder da oposição, o deputado estadual Venâncio Fonseca (PP), ao sair em solidariedade a Gustinho, na última quarta-feira 16, ter jogado em rosto que a presidente da Assembleia Legislativa, a deputada Angélica Guimarães, vem sendo achincalhada todos os dias em programas de rádio sem que a Casa tome uma providência. Sequer usou do mesmo expediente que atestou a solidariedade com Gustinho. Haveria deputados com o silêncio cúmplice respaldando os tais juízos contra a presidente da Assembleia?
A grita do líder Venâncio, na última quarta, obviamente, tem como endereço, sobretudo, o radialista George Magalhães, que vem fazendo duras críticas a qualquer mortal que se coloque ao lado do senador Eduardo Amorim. Mais tarde, por telefone, ao ser provocado pelo Blog do Joedson Telles, o deputado Gilmar Carvalho atestava a coerência do grupo dos irmãos, ao se queixar do mesmo. E foi além: tributou o coro contra ele na Assembleia ao fato de “mexer na ferida do governo”.
O episódio atesta também que, para uma gama de pessoas – inclusive tidas como inteligentes –, a notícia que um deputado se equivocou na hora de uma votação tem mais valor, precisa ser bem mais explorada (inclusive distorcida) que entrar no mérito de um documento que pode ou não revelar se há abusos com o dinheiro público. Aliás, autor do requerimento, Gilmar argumenta que como o Tribunal de Contas do Estado apontou irregularidades na Saúde, nada mais óbvio (e obrigatório) que a Assembleia Legislativa cumprir seu papel de poder fiscalizador, ecoando as ações do conselheiro Clóvis Barbosa.
O mais curioso, entretanto, é perceber que os deputados, ao se manifestarem solidários a Gustinho, não conseguiram esconder um sentimento negativo que nutrem contra o “colega” de parlamento Gilmar Carvalho. Não conseguem mais deixar latente. Desengasgaram o que já diziam há muito tempo fora da tribuna. Entre deselegante e antiético, os discursos deixaram manifesto a insatisfação dos deputados em ter Gilmar como colega. A bancada de situação por razões óbvias: Gilmar, mais que qualquer um neste estado, aponta erros do Governo do Estado, e até do governador Jackson Barreto. Bate com gosto. Como ele mesmo diz: “na jugular”. Ou como diz um deputado: “esfola”. E isso, óbvio, não desgasta apenas o governador. Deputados governistas vão no bolo.
Além disso, os deputados governistas, e a eles se somam, neste segundo caso, os aliados do próprio Gilmar Carvalho, resmungam fora dos microfones que Gilmar tenta passar aos seus ouvintes que é um grande parlamentar, mas os demais não o são. Ou nas palavras do líder do governo, Francisco Gualberto, com o microfone aberto: aproveita o fato de ter um programa de rádio para querer se sobressair frente aos demais. “Ser o sabidão. E que a Assembleia Legislativa é uma Casa de incompetentes”, disse Gualberto.
O fato de o deputado radialista ser o único a ter em mãos um microfone todos os dias, e ainda uma grande audiência no rádio, é visto como um jogo desleal pelos demais. “Ele faz a pauta aqui (Assembleia), mas a campanha lá, no seu programa de rádio”, afirmou Gualberto inflamado, durante o pronunciamento que fez em solidariedade a Gustinho, tendo o desabafo ecoado pelos demais presentes.
Por sua vez, Gilmar garante não ter problema com nenhum deputado. Todavia deixou claro para sua grande audiência, na manhã desta terça-feira 22, não ter medo de nenhum deles. Resumiu o episódio Gustinho Ribeiro observando que nenhum deputado é intocável, e mandou um recadinho sem querer querendo: enfrentou um governo todo quanto mais os deputados estaduais que estiverem em seu caminho. No máximo 23.