Por Joedson Telles
No dia 10 de abriu deste ano, escrevi uma análise com o título “A revolta silenciosa de aliados de João”. Ali, respeitando os personagens, evitei citar nomes. Passados três meses, um dos insurgentes, o deputado estadual Augusto Bezerra, vem para o Twitter falar que “a partir de julho, junto com todo o meu grupo político, vamos pensar e decidir o nosso futuro. Estamos cansados de dar apoio sem reconhecimento”. Explodiu. Augusto explica aos menos esclarecidos que faz parte da política governar com os aliados, mas tem dificuldades de servir ao povo com as ferramentas da Prefeitura de Aracaju.
Não sei porque Augusto e outros políticos joãozistas não abrem logo o jogo diretamente. A verdade é que, além das dificuldades mencionadas por ele para atender ao povo, aliados de João não conseguiram cargos na Prefeitura de Aracaju, como é praxe em qualquer governo. Na política, os cargos comissionados são ocupados por aliados que trabalham pela eleição. Nada de favor. E Augusto, a exemplo de outros, como Venâncio Fonseca, ajudou a manter João Alves vivo politicamente, mas foram “esquecidos”. Pior: a administração do mesmo João Alves está coalhada de caras de paus que nunca gostaram de João Alves, criticaram-no a vida toda.
Lógico que há técnicos sérios e competentes por lá. Mas há também quem chamou João de ladrão. Gente que pediu voto para adversários de João, eleição após eleição, inclusive em 2012, mas, sem coerência e, evidente, competência para arrumar um emprego em outro lugar, optou pela humilhação descarada de ter como patrão o mesmo homem que chamou de corrupto a vida toda com aquela história de Operação Navalha. E olha que nunca provaram nada contra João Alves. Eis o diagnóstico da doença que Augusto Bezerra e outros aliados não externaram ainda. Apresso-me aqui. E deixo o internauta com o texto que fiz há três meses.
“A revolta silenciosa de aliados de João”
Por Joedson Telles
Oferecer uma saúde de qualidade, pagar dívidas herdadas e resolver a questão do 17 de Março são os principais problemas que batem à porta do prefeito de Aracaju, João Alves Filho, neste momento. Correto? Trivial. Todavia é preciso que ele leve em conta também não apenas outros problemas menores, mas também as cobranças que já começaram a ser feitas por seus eleitores, como os taxistas e os desempregados.
Saindo do campo da obviedade, contudo, quem tem acesso aos bastidores da política discerne prontamente que há mais um problema a ser incluído na lista: uma revolta silenciosa por parte de aliados (ex-aliados?) do prefeito. Figuras – com ou sem mandato – que apostaram em João desde 2006, quando ele foi surrado por Déda pela primeira vez, continuaram com ele mesmo sem mandato, deram a cara para apanhar junto com ele na eleição seguinte para o mesmo Déda, até, finalmente, levá-lo de volta à Prefeitura de Aracaju.
Eleição encerrada, os joãozistas não perderam tempo: partiram para extravasar as duas derrotas impostas pelo petista. Lavaram a alma. O que teve de gente varando a noite movida por música, anarquia e cachaça… Outros mais comedidos comemoraram em silêncio junto à família. Mas todos esperavam pelo menos um naco do “filé”. Mas a ducha de água gelada, e bote gelada nisso, não tardou.
Muitas destas mesmas pessoas foram não apenas excluídas, mas obrigadas a engolir aliados e cabos eleitorais dos adversários históricos permanecerem nos cargos da Prefeitura de Aracaju, sob a batuta de João. Assistiram também a outros desembarcarem de pára-quedas. Gente que votou e pediu voto para Valadares Filho. Eleitor, inclusive, que chamou João de atraso, mesmice… Que zombou de João Alves com aquela história de “foi João quem fez”, literalmente, tomou o lugar dos tidos como “os da casa” – assim como se fosse algo descrito por Nelson como óbvio ululante.
Em uma entrevista recente, o próprio João disse ao Universo que é praxe ser abordado nas ruas por gente que joga em rosto que votou nele e pede um emprego. Sem ter como agradar a todos, ele aposta na atenção. Escuta os reclames pacientemente, explica não ter cargos na PMA para abrigar todos e encaminha-os ao treinamento. Mas cá pra nós: se pessoas que João não conhece se acham no direito de pedir emprego a ele dizendo-se seus eleitores, é possível imaginar o tamanho da indignação de quem caminhou com ele pedindo voto, o defendeu quando estava sem mandato e desacreditado e sempre demonstrou lealdade, mesmo quando teve oportunidades (no plural) de passar para o grupo adversário, e ainda ser contemplado por isso?
Pela experiência, tais políticos não estão a alardear o desprestígio abertamente. Sabem como funciona a política e optam pelo silêncio. Mas tem muita gente decepcionada com a postura do prefeito – sobretudo políticos que, alimentando a cultura eleitoral, precisam abrigar pessoas imprescindíveis em seus projetos políticos de 2014, mas são obrigados a aceitar eleitores dos concorrentes ocupando cargos conquistados com o suor dos que sempre velaram João.
O sentimento é que João Alves deve ter um pretexto inquestionável para adotar tal comportamento. Não deve ser fruto do acaso. João nunca foi tido como um político ingrato. Porém, como ainda não explicou a incoerência com sua história política publicamente, dá vazão a comentários dos mais diversos. Há quem diga, por exemplo, que ele pretende pendurar as chuteiras – ou a caneta – com sua gestão na PMA, e, portanto, não mais precisaria de apoio político. Outros entendem que ele, simplesmente, estar a apostar suas fichas em caminhar com os novos companheiros, quer dizer, aliados, rumo ao seu projeto para 2014. Nada de aposentadoria. Há ainda quem aponte vários caciques para poucos índios na tribo. Seja lá como for, João não contemplou aliados indispensáveis à sua vitória e isso gerou revolta. Uma revolta silenciosa. (Universo Político.com 10/04/13 às 06:52h). Precisamente.