Por Jorge Carvalho do Nascimento
Acabei de receber a notícia da morte da professora Ada Augusta Celestino Bezerra. Viuva de Elizeu Silva, deixou dois netos (Pedro e Dimitri), dois filhos (Elizeu e Elisângela) e três irmãos (Augusto Bezerra, Augusto Junior e Fabiano). A sua irmã mais velha, Heloísa, assistente social, morreu alguns anos antes. Nascida no dia 25 de abril de 1949, com brilho intelectual invulgar, Ada marcou o cenário do debate educacional em Sergipe durante 47 anos consecutivos como professora, gestora educacional e pesquisadora.
Ada Augusta ingressou no ensino superior em 1968, na primeira turma do curso de Pedagogia da Faculdade Católica de Filosofia de Sergipe. Colou grau em 1971. No seu primeiro ano como estudante do ensino superior testemunhou a incorporação da Faculdade de Filosofia pela Universidade Federal, implantada no mesmo ano do seu ingresso. Na sua turma, conviveu com nomes que marcariam o cenário intelectual da vida sergipana. Jovens que, como ela, estavam matriculados naquela primeira turma: Angélica Vieira Donald, Ana Maria Soares, Clara Angélica Porto, Evanda Maria dos Santos, Ester Alves de Oliveira, Ione Pais, Gerson Vilas-Bôas, Janice de Oliveira Sales, Judite Oliveira Aragão, Lílian Leal do Lago, Luci Ferreira de Andrade, Luíza Nascimento Costa, Manoel Messias Porto, Maria José de Almeida Soares, Maria das Graças Tavares, Maria Ivanda Bezerra de Sant’anna, Maria Lúcia Souza Ramos, Nádia Fraga Vilas-Bôas, Vera Lúcia Sobral e Vera Lúcia Fontes. Essa turma teve como professores nomes igualmente importantes: Juan José Rivas Pascua, João Costa, Cacilda de Oliveira Barros, Maria Thétis Nunes, Dom Luciano José Cabral Duarte e Maria Olga de Andrade.
Depois de colar grau, Ada trabalhou como Professora da Faculdade Tiradentes, ministrando a disciplina Metodologia da Ciência. A partir de 1974, tomou posse como Técnica em Assuntos Educacionais na Universidade Federal de Sergipe, ingressando no quadro docente da mesma instituição na condição de professora de Administração Escolar, no curso de Pedagogia. Depois de aposentada trabalhou como professora visitante da Universidade Estadual de Feira de Santana e por último como professora e pesquisadora dos cursos de Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Tiradentes.
Colou grau, mas nunca parou de estudar, fazendo uma rica trajetória de formação. Concluiu o curso de Especialização em Metodologia do Ensino Superior na própria UFS, em 1973; Especialização em Planejamento e Administração de Sistemas Educacionais, pelo Instituto de Estudos Avançados em Educação da Fundação Getúlio Vargas, em 1974; Mestre em Educação pelo mesmo IESAE/FGV, em 1986; Doutora em Educação pela Universidade de São Paulo, em 1998; Pós-Doutorado pelo Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, em 2012.
Conheci Ada quando inciei minhas atividades como profissional de Educação, no final dos anos 70 do século XX. Eu, um jovem professor aspirando a carreira de docente e pesquisador da Universidade Federal de Sergipe, e Ada já profissional consolidada com larga credibilidade e reconhecida competência. Com ela aprendi, dela divergi em diferentes situações. Estivemos de mãos dadas na campanha eleitoral de 1985, após a queda da ditadura militar, quando das primeiras eleições para prefeito das capitais. Fizemos a campanha de Jackson Barreto de Lima. Após as eleições, fui designado Secretário Municipal de Educação, aos 29 anos de idade. Ada fez dura oposição ao meu período como gestor, nos anos de 1986 e 1987.
Em 1989, a situação se inverteu. Wellington Paixão se elegeu prefeito de Aracaju e nomeou a professora Ada Augusta para o mesmo cargo que eu havia exercido: Secretário Municipal de Educação. Ela se investiu no posto com brilho e competência durante quatro anos. Eu era, em 1989, fundador e primeiro presidente do Sindicato dos Profissionais de Ensino do Município de Aracaju – Sindipema. Tinha como companheiros de diretoria importantes nomes como Diomedes Silva, Tereza Cristina Cerqueira da Graça, Rosângela Santana Santos, Betisabel Vilar, José Ítalo Augusto Sobreira Correia e Adelmo Menezes, dentre outros. Fizemos oposição dura e rigorosa a gestão da professora Ada. Lideramos, em 1989, uma greve longa e muito difícil contra a então titular da Secretaria da Educação. Naquele processo Ada deu a todos nós, grevistas, fundamentalmente uma lição de equilíbrio, ponderação e temperança. Aprendi muito.
Em 1995, regressei do meu período de Doutorado Sanduiche, como bolsista na Johan Wolfgang Göethe Universität, em Frankfurt, na Alemanha, onde permaneci por quase dois anos. Fui trabalhar como consultor da Secretaria de Estado da Educação. À época, Luiz Antônio Barreto, o Secretário, montou um grupo especial para desenhar e implementar dois programas importantes: o Programa de Qualificação Docente – PQD e o projeto de criação da Universidade Estadual, com o qual ele sonhava. Do grupo, coordenado pelo professor Luiz Alberto dos Santos, participavam Ada, Consuelo Maia e Eduardo Ubirajara. Eu discutia permanentemente as ideias centrais da gestão com Luiz Antônio e fazia muita interlocução com Luiz Alberto e Ada Augusta. O PQD foi um sucesso e em quatro anos formou em nível superior quase três mil professores leigos da Educação Básica sergipana que atuavam em escolas estaduais e municipais. A Universidade Estadual nunca foi implantada e virou um desses projetos concebidos que nunca se transformam em realidade. Mas, as ideias de muitas pessoas estavam ali presentes. Em tudo era muito visível o gênio de Ada ao lado de outros tantos que nem sempre concordavam com ela, como eu e Luiz Alberto.
Concordando ou divergindo, o fato é que foram muitas as lições do ofício de professor e pesquisador deixadas por Ada Augusta. Ela se impôs diante de todos nós pela competência, pela capacidade de trabalho, pelo modo como sabia formar equipes e liderar. O fato é que, todos os profissionais da Educação que vivemos e trabalhamos em Sergipe temos consciência que ficamos hoje muito mais pobres.
Siga em paz, cara amiga Ada Augusta. Siga em paz, querida mestra. Dos encontros e desencontros, ficam as suas lições, o seu ensinamento.
* Jorge Carvalho é professor do Nascimento