Juízo é de Lucas Aribé. “Isso só dificulta qualquer tentativa de promover a inclusão”, diz
Por Joedson Telles
O ex-vereador Lucas Aribé (Cidadania) avalia que, em sua maioria, os políticos e as demais autoridades não dão a atenção que merecem as pessoas com deficiência. O ex-parlamentar salienta que o Brasil possui uma legislação rica e moderna sobre o tema, mas lamenta que a prática desses direitos ainda represente um grande desafio diário. “O principal motivo é a existência de barreiras atitudinais, a exemplo do preconceito e da discriminação, que são evidentes e constantes no nosso cotidiano. A classe política, em sua maioria, não respeita esse público, e isso só dificulta qualquer tentativa de promover a inclusão”, diz Aribé.
Qual a sua avaliação do processo eleitoral de Sergipe, em 2022?
O povo sergipano teve uma grande oportunidade de fazer a verdadeira mudança nos rumos do nosso estado, mas preferiu manter no poder o grupo político que perdura há muitos anos. Infelizmente, ao longo dos 45 dias de campanha no primeiro turno e, principalmente, os 30 no segundo turno, praticamente não se discutiram ideias, propostas, planos de governo. Ainda houve candidatos a governador que ficaram disputando o apoio de Lula, como se estivessem concorrendo a um cargo federal. Por outro lado, tivemos mudanças significativas na composição da Assembleia Legislativa e da Câmara Federal. Isso significa que a população não estava satisfeita com a maioria dos seus representantes. É claro que, quando essas mudanças ocorrem, somando-se ao modelo de votação proporcional vigente no Brasil, bons parlamentares podem não conseguir a reeleição, mesmo com votação expressiva.
O senhor esteve envolvido em alguma campanha?
Sim. Fui um dos integrantes do Coletivo Somos Mais, a primeira candidatura coletiva a deputado federal de Sergipe. Além disso, participei direta e ativamente da campanha de Alessandro Vieira para governador, Milton Andrade para vice-governador e Danielle Garcia para senadora. A experiência foi muito gratificante para mim. Apesar de não termos conseguido nossos objetivos, saímos com o sentimento de dever cumprido. Nossa campanha foi limpa, propositiva, respeitosa, ética e com ideias viáveis, justas e totalmente exequíveis.
Qual a sua expectativa quanto ao governo de Fábio Mitidieri?
Espero que ele cumpra tudo o que prometeu aos sergipanos e que não seja a continuidade da gestão atual. Fábio é jovem, preparado, já foi secretário e conhece a máquina pública. Espero que ele consiga ser mais gestor e menos político. Nosso estado precisa de alguém que tenha coragem para fazer as mudanças necessárias para que voltemos a ser uma referência no Brasil. Infelizmente, nos últimos anos, fomos ultrapassados por vários estados, principalmente no que diz respeito à educação, saúde, acessibilidade e segurança pública.
O que espera do governo Lula?
Lula terá algumas missões bastante complicadas para cumprir como presidente de um país literalmente dividido, conforme percebemos no resultado do pleito eleitoral. Estamos vivendo tempos de violência, desrespeito, intolerância, agressões de diversas formas, perseguições políticas, assédios e outras inúmeras práticas por conta de uma polarização ideológica. O presidente terá de encontrar caminhos para que nosso povo volte a conviver melhor com as diferenças. Lula também terá a missão de combater qualquer indício ou prática de corrupção na sua gestão. Outra promessa fundamental a ser cumprida é erradicar a fome no Brasil. A pasta do meio ambiente deve ter uma atenção especial no próximo governo. Lula prometeu zerar os índices de queimadas no Brasil. Precisamos de inúmeras outras ações, mas o abandono às questões climáticas está proporcionando momentos desastrosos em quase todos os estados brasileiros. Também acredito ser importante fazer as reformas tão esperadas pelos cidadãos brasileiros, a exemplo da tributária e da administrativa. Espero que o próximo presidente invista de verdade na educação e na saúde, pastas desprezadas pelo governo Bolsonaro. Espero, por fim, que o Brasil seja referência nas políticas sociais, no combate ao preconceito e à discriminação, no fomento à acessibilidade e no respeito aos direitos humanos. Lula tem experiência e condições de colocar em prática tudo isso.
Enquanto vereador, o senhor colocou o mandato à disposição de bandeiras importantes dentro da sociedade. Como tem sido este trabalho, depois que o senhor não conseguiu a reeleição?
Após oito anos de mandato, tenho dedicado boa parte do tempo ao trabalho social, algo que nunca deixei de fazer. A luta pela acessibilidade é frequente e não depende de mandato. Como assessor parlamentar do senador Alessandro, tenho auxiliado em todas as demandas concernentes à temática, inclusive sugerindo proposituras. A Semana Aracaju Acessível, idealizada por mim em 2013, continua sendo realizada pelo Iluminar, instituto que fundei no mesmo ano. Também sou consultor em audiodescrição e apresento programas em web rádios.
A Associação dos Deficientes Visuais de Sergipe conta, hoje, com a estrutura e o apoio que precisa?
Não. Trata-se de uma instituição que possui 23 anos de história e, após muita luta, conseguiu adquirir sua sede em setembro deste ano. Hoje em dia, o apoio que a Adevise recebe é o suficiente para tocar os projetos atuais, porém existe o desejo de ampliar os serviços oferecidos aos sócios e à comunidade sergipana em geral. Atualmente, a estrutura é muito pequena, resumindo-se a apenas duas salas, e o espaço pertence à Prefeitura de Aracaju. Com a conquista da nova sede, tenho certeza de que a Adevise receberá muito mais recursos, inclusive públicos, para ter uma atuação mais significativa na promoção da acessibilidade e da inclusão social.
Políticos e demais autoridades dão a atenção que merecem as pessoas com deficiência?
Não. O Brasil possui uma legislação rica e moderna em relação às pessoas com deficiência, porém a prática desses direitos ainda representa um grande desafio diário. O principal motivo é a existência de barreiras atitudinais, a exemplo do preconceito e da discriminação, que são evidentes e constantes no nosso cotidiano. A classe política, em sua maioria, não respeita esse público, e isso só dificulta qualquer tentativa de promover a inclusão. Outro grande entrave é percebido nos embates jurídicos, uma vez que muitas leis ainda protegem gestores que negam a promoção da acessibilidade. O trâmite jurídico é complexo, burocrático e demorado. Enquanto isso, as necessidades não são atendidas. Não podemos passar o tempo inteiro só tentando conscientizar os detentores do poder público. Esse caminho não está trazendo resultados positivos. Sei que não é fácil haver uma mudança de postura de uma hora para a outra, mas não consigo admitir que alguns gestores não compreendam que a pessoa com deficiência, antes de tudo, é um ser humano e deve viver de forma digna.
Projeta disputar a eleição, em 2024?
Sim. Acredito que tenho todas as credenciais necessárias para assumir um mandato, em janeiro de 2025, inclusive no Poder Executivo. Os aracajuanos confiam em mim e lembram de como eu defendia os seus interesses na Câmara durante os dois mandatos. Além de cumprir todas as promessas, não me limitei ao parlar, ou seja, busquei cumprir todas as minhas obrigações e explorei as inúmeras possibilidades de atuação como vereador.
O senhor foi um dos vereadores mais críticos da gestão Edvaldo Nogueira. O fato de não ter conseguido a reeleição deve ser entendido como a ausência de sintonia entre o seu pensamento e o do eleitor?
De forma alguma. Em 2016, quando fui reeleito, fazia oposição ao saudoso João Alves, inclusive de forma mais dura em relação a Edvaldo. Acredito que, em 2020, diante de uma pandemia, meu estilo de fazer campanha foi totalmente prejudicado, pois gosto de conversar com as pessoas, abraça-las, cumprimenta-las, em fim, o conhecido corpo a corpo. Por ser uma pessoa considerada do grupo de risco, tive de evitar tudo isso. É claro que uma parcela da população deixou de votar em mim por questões ideológicas, mas isso aconteceu em todas as quatro campanhas que disputei no âmbito municipal.