Por Joedson Telles
De mãos dadas, a prudência e a ética sempre ordenam esperar a decisão final da Justiça antes de sair por aí carimbando a testa de quem quer que seja com o vocábulo corrupto. É cafifento. Às vezes sem volta. Em se tratando de político, então, tende a destruir a imagem. A carreira. O Ministério Público tem o nobre papel de proteger o nosso dinheiro dos gatunos da vida. Entretanto, contrariando setores da mídia, o órgão não tem a palavra final. Tampouco a polícia a tem. Não canso de repetir.
A coisa muda de figura, contudo, quando os próprios acusados confessam de livre e espontânea vontade atitudes nada republicanas, verdadeiros crimes contra a administração pública. Aí, o que mais a Justiça pode fazer? Ecoar, óbvio.
A denúncia do MPE contra 26 pessoas, na tal Operação Caça Fantasmas, que visa jogar luz sobre quem cometeu a desfaçatez de não trabalhar, mas receber dinheiro da gestão do ex-prefeito de Aracaju, João Alves Filho, soa, neste momento, incontestável.
Pelo menos, se todos os 26 tiverem o mesmo comportamento de acusados que foram ouvidos pelos promotores e confessaram os crimes é bingo. As imagens foram veiculadas pelas TVs Atalaia e Sergipe para não deixar dúvidas. Não podem ficar impunes. É preciso também catar com uma lupa para termos o desprazer de atestar novos casos.
O que tem que ser visto com cuidado, entretanto, é se políticos ligados à gestão João Alves que foram denunciados pelo MP têm, de fato, participação no esquema. Ordenavam despesa? É bom esclarecer. Indicar e pagar são verbos distintos.
Indicar uma pessoa para preencher um cargo comissionado é algo comum em qualquer administração pública. Há os chamados CCs em todos os órgãos públicos. E só não indicam políticos da oposição. Ainda assim, em terra que tudo se sabe, na gestão João Alves tinha gente indicada pelo inimigo PT, sim senhor.
E a responsabilidade de acompanhar para saber se, de fato, essa pessoa ou aquela está trabalhando, evidente, não cabe, necessariamente, a quem indica, mas a quem paga. Quem ordena despesa. Não digo que o prefeito pessoalmente avoque para si a tarefa de fiscalizar quem trabalha e quem mama. Mas cabe ao boss escalar pessoas de sua confiança para a importante missão. E estas, sim, serem responsabilizadas por cada centavo que for pelo ralo.
A esta altura, está claro que o ex-prefeito João Alves das duas uma: pecou por deixar de mão sua própria casa ou escalou pessoas para a missão, mas foi, miseravelmente, traído.
Óbvio que ninguém melhor que o próprio João Alves, inclusive por ser um dos denunciados, para esclarecer dúvidas. O problema é que João Alves não emergiu nem quando da prisão da sua filha, a jornalista Ana Alves, por questões ligadas à mesma Operação Caça Fantasma.
O ex-prefeito mergulhou depois de ser derrotado nas urnas, em 2016. Sequer está em Sergipe. Pessoas próximas dizem que ele não anda bem de saúde e, por conta disso, foi poupado, inclusive, de ser informado sobre a prisão de Ana Alves. E faz sentido. João Alves não se afastaria das notícias se estivesse bem. E, logo, saberia do problema da filha ainda que pela imprensa. Imagine um João afastado das notícias diárias e deduza o seu estado de saúde…
Aliás, não falta quem diga que João Alves adoeceu justamente durante a gestão. Como não passou o comando para o vice-prefeito José Carlos Machado, a coisa ficou com vários comandos e sem nenhum. As sementes plantadas não foram boas, e podemos perceber em momentos melancólicos como a prisão de Ana Alves e a denúncia do MP sobre o pagamento de algo em torno R$ 1,2 milhão a pessoas que nunca deram um prego numa barra de sabão. Mas quer abrir a caixa preta de vez? Vá a fundo naquele inesquecível desabafo de Machado: o time rouba e João defeca.
P.S. Acreditar que apenas o ex-vereador Agamenon Sobral indicou gente para ocupar CC na gestão João Alves e aproveitar a época e esperar pelo velhinho Noel. Ho,ho,ho,ho…