Na manhã do domingo da eleição, esbarro no senador Antônio Carlos Valadares e tento obter os detalhes daquela história “mal contada” de abutres que ele ateou no face, recentemente. Bem humorado, o senador abriu um sorriso e frustrou curiosos: “No dia da eleição, não vamos pensar em abutres. Vamos pensar na pombinha da paz que é melhor. Deixe os abutres de lado (kkkk)”.
Horas depois, contudo, não é que a suposta pombinha bate asas? “Passei 15 anos na oposição em Sergipe. Se querem me colocar para fora sem respeito e gratidão pelo que fiz, não me acovardarei. Começarei tudo de novo”, postava o senador do PSB no seu Twitter, já com Dilma reeleita. Mais um pedaço, voltava Valadares à rede: “Havia acordo que não foi contestado de que apoiaríamos o candidato do PSB a presidente. Estou sendo apunhalado pelas costas. Aguardem prova”.
Aí eu pergunto: e o que segura o senador Valadares no agrupamento do governador Jackson Barreto? Quem está a apontar uma arma para sua cabeça ao ponto de obrigá-lo a optar por morrer apunhalado, escapando, assim, da bala? Eu mesmo respondo: ninguém. Absolutamente, ninguém, exceto o próprio Valadares, o obriga a permanecer num ambiente que ele mesmo descreve como o pior possível.
Evidente que, como já disse neste espaço, há prefeitos e outras lideranças do PSB que não querem se distanciar de Jackson. E isso seria um problema para Valadares. Se já não queriam na época da campanha, imagine agora com as urnas dando a JB o direito de permanecer como governador até dezembro de 2018? É fato. Mas, como o próprio Valadares diz, não dá para ser covarde. Aceitar tudo que condena em nome de não perder aliados – se é que os têm nas atuais circunstâncias.
Outro detalhe a ser observado, já que estamos a tratar da política e as suas, são os cargos no futuro governo. Ninguém dá apoio sem querer cargos posteriormente. Ou pelo menos quase ninguém. Ao abrir mão, como, aliás, já o fez num passado não tão distante, Valadares também colocaria em xeque a permanência de outros cabos eleitorais sob sua batuta. A turma do CC ficaria ‘p’ da vida com ele.
Todavia, como o próprio Valadares salientou, talvez o momento seja propício para começar tudo outra vez. Reconstruir não apenas base de apoio como a própria aliança necessária ao seu projeto político para 2016, já pensando em 2018. É praxe: quem porta a caneta cheia atrai paixões. E a bola da vez é JB, e não Valadares.
O senador da pombinha, como já disse neste espaço, é um dos políticos mais inteligentes de Sergipe. E já percebeu que, da forma que estão servindo a mesa a mando do rei, ao menos é o que ele passa nas redes sociais, seu prato não será dos melhores. Olhe lá se não ficar vazio. E encarar as futuras eleições neste clima pode lhe trazer sérios prejuízos eleitorais. Aliás, a ele e ao deputado Valadares Filhos e a todos que lhes forem fiéis, como o próprio Belivaldo Chagas, vice-governador eleito.
Valadares tem ciência de que é um líder e não um liderado. E demonstra não estar nem um pouquinho disposto a reescrever a história – para concluirmos lembrando o chavão de Aécio, quando apertado por Dilma nos debates cujo resultado está sendo vastamente divulgado.