Por Rodrigo Alves
Nesta segunda-feira, dia 27, acontece o Dia Mundial do Teatro, a arte tem sido utilizada como ferramenta terapêutica para pacientes de saúde mental na capital sergipana. Em entrevista, Audevan Caiçara, ator, professor e instrutor de teatro na Equilíbrio Clínica Dia, falou sobre o trabalho que vem recebendo notoriedade na saúde mental do estado.
Nas aulas de teatro na saúde mental, os pacientes são convocados a ocupar o papel de espectadores, termo que nasce do Teatro do Oprimido e que põe todos como sujeitos capazes de modificar as situações cotidianas com nossas ações, saindo da condição de meros espectadores passivos. Nesse sentido, todos são convidados a participar das atividades, expor suas opiniões, experimentar jogos e cenas, integrar elencos, quando necessário, estimulando o paciente a protagonizar sua história e assumir uma posição mais ativa diante da sua vida.
Segundo o ator, as principais técnicas aplicadas nas aulas vêm de uma grande alquimia criativa que abriga técnicas variadas adquiridas desde sua formação. “A improvisação é valorizada e abordada como elemento teatral presente desde a pré-história para compartilhar vivências pessoais e que foi se aperfeiçoando com o passar do tempo. Essa técnica está aliada ao Teatro Esporte, unindo ainda a criatividade, o uso de jogos e a interpretação para encenar situações do dia a dia ou fantásticas, já que o teatro não é apenas uma imitação da vida real, extrapola as possibilidades e fricciona o real e o imaginário. O Psicodrama e o Teatro do Oprimido nos dão ferramentas preciosas: a possibilidade de trabalhar no presente situações pessoais ou hipotéticas que precisam ser ressignificadas, e que encontram no grupo suporte para repensá-las. Os pacientes são os espectadores, à medida em que assistem aos colegas, mas são também os atores e atrizes, já que interpretam e trocam papéis”, explica.
Os pacientes têm obtido diversos avanços no tratamento. “São inúmeros os benefícios percebidos pela equipe e pelos próprios pacientes, entre eles a socialização e a integração com o coletivo, que acaba se perdendo durante o processo de adoecimento ou descuido de determinadas patologias. O teatro ajuda a acolher o outro e a respeitar sua condição presente e características físicas, emocionais e identitárias, ao olhar o outro com singularidade. A comunicação e a expressão qualitativa também são ganhos que se mostram ao longo do processo. A partir dos jogos teatrais, conseguimos trabalhar questões ligadas à organização e respeito às regras para que o jogo se desenvolva. O Teatro e sua pedagogia é uma ferramenta possível para auxiliar o indivíduo que queira adquirir habilidades socioemocionais, como empatia, respeito, confiança, autocrítica e inteligência emocional. E quem precisa dessas habilidades? Todos nós”, informa.
Um caso específico chamou atenção do Instrutor de Teatro na Equilíbrio Clínica Dia. “Pude presenciar a evolução de uma paciente que sofria crises quando se colocava em situações de exposição pública de sua imagem e que, a partir do teatro, adquiriu confiança, no seu tempo, com liberdade, com estímulo, até participar de uma apresentação pública em uma Jornada de Psiquiatria, com profissionais da saúde e estudantes na plateia. Eu ainda estava muito recente na área, mas naquele dia, ao vê-la apresentar-se e a dar entrevista diante de uma câmera, calma, com discurso organizado, o que eu estava fazendo profissionalmente ganhou sentido. Tivemos ainda outros grandes momentos, que vão desde as apresentações internas em datas comemorativas, como casamento matuto, auto natalino e afins, até a participação no Congresso Nordestino de Psicologia, na UFS. Sempre que possível, oficinas ou palestras são também oferecidas à comunidade em eventos de promoção à saúde mental, a fim de colaborar com as discussões e romper estigmas sobre a saúde mental”, detalha.
Em entrevista, alguns pacientes que não podem ser identificados responderam à pergunta sobre como as aulas de teatro auxiliam na promoção da sua saúde mental, veja quais foram as respostas.
“Antes eu tinha muita vergonha e hoje melhorei”. (T.M.M.V)
“Sinto que ficamos com mais vontade de interagir. Nos faz pensar, trazendo equilíbrio e raciocínio”. (A.N.)
“Proporciona que eu mostre o que está dentro de mim, como as emoções, por exemplo, sem me prender às críticas externas”. (M.)
“Me divirto muito, distraio minha mente, me ajuda a lidar com minha dependência química e outros problemas, como depressão, TDAH, ansiedade e bipolaridade”. (L.C.)
“O teatro é uma ferramenta dinâmica que nos ajuda a distrair da rotina, vivenciar algo diferente da realidade em que estamos habituados, o que para nossa saúde mental é de grande importância, pois no dia a dia a rotina eleva nosso estresse e atividades como o teatro mudam isso”. (L.M.)
