Ideia supimpa para começarmos bem este final de semana, que, ao que tudo indica, sem precisar do Overland, o sol baterá forte: que tal criarmos outra atribuição para o Poder Judiciário, e deixarmos os julgamentos por conta de setores da imprensa que não medem as consequências do que jogam na mente da sociedade?
Boa, não? Poderíamos abrir mão da formalidade das togas e até adotar roupas esportivas. Seria uma forma simbólica de espelhar o desprendimento dos “novos” julgadores da responsabilidade inerente aos magistrados.
É! Jornalistas e não juízes. A Justiça é séria demais. Tem fama de morosa. Debate muito. Estuda demais. Está sempre preocupada em não errar e destruir um inocente. A Justiça zela pela decisão calçada na verdade factual mediante provas irrefutáveis. Os juízes metem a cara demais nos livros para amealhar conhecimentos antes de começarem a decidir a vida alheia. Juiz nunca decide na doida.
Além disso, não se chega ao posto de juiz sem ter preparo. De paraquedas – ou como se grafava antes, e é mais charmoso, de “pára-quedas”. Coisa chata, não? Num País onde os Poderes Legislativo e Executivo são comandados por qualquer um que seja eleito – mesmo que seja um incompetente ou um ladrão – vem o Judiciário exigir preparo intelectual, vasto conhecimento do ofício para se chegar ao posto de juiz. Não basta o concorrido concurso público substituir a eleição, que pode ser comprada?
O judiciário, óbvio, registra lá seus erros. Mas, acredito, bem mais pelo fato de errar ser humano do que pelo despreparo para a importante missão ou por ser inconsequente. É um poder que quer tudo certinho. Um poder chato em se tratando de um País livre, leve e solto. Bonito por natureza.
Com a mudança proposta aqui, colocaremos ponto final nos “problemas burocráticos”, batizemos assim, criados pelo Judiciário. O fato aconteceu – ou sequer isso -, vamos noticiar de qualquer forma. Com ou sem provas irrefutáveis apresentadas, joga-se no ventilador. Sem direito a defesa. Sem levar em consideração as consequências para os alvos. Azar de quem estiver na pauta: manda-se ao inferno bem ao estilo Clyde, o ator Gerard Butler no filme “Código de Conduta”. Se comprovada a inocência, posteriormente, que importância fará? Já estaremos em outra pauta e a sociedade “tem a virtude” de não ter memória. Como disse, azar de quem estiver na mira sensacionalista. Jornalismo moroso não combina.
Se dará certo? Quanto pessimismo. Olha agora, por exemplo. Bastou o ex-deputado Mundinho da Comase abrir a boca, e, após ferrar-se, jogar no bolo deputados e ex-deputado para o que verbete sigilo – criado justamente para evitar injustiças – fosse mandado às favas. Que sigilo que nada. Valeu o tesão de dar a notícia. Pra quê esperar provas de que deputado ‘A’ ou ‘B’ lavou dinheiro? Defesa? O que é isso? Esperar o Poder Judiciário fazer o seu papel? Nada. Página virada. Notícia dada, caso concluído. Próximo.
Olha aí? Setores da mídia resolvem o problema com simplicidade. Objetivamente. Sem toda aquela burocracia, morosidade do Judiciário – sempre à custa de não fazer injustiça. Uma vez os citados por Mundinho consigam provar inocência, a notícia será dada também. Sem problema. 1% do destaque dado ao estrago estará de bom tamanho. A opinião já estará formada, mas…
Não sou bacharel em direito – e muito menos fui submetido ao imprescindível exame da Ordem para sonhar em advogar. Tampouco posso afirmar que seria convidado pelos deputados Samuel Barreto, Augusto Bezerra, Goretti Reis, Gilson Andrade, Paulinho Filho ou pelo ex-deputado Zeca da Silva para entrar em cena. Mas admito a perplexidade que motivou deixar este registro como forma de demandar mais zelo com as informações, sobretudo com as pessoas, dada a forma impensável que as notícias são ventiladas – sem levar em conta que a palavra de Mundinho não é boca de forno. Que sigilo deve ser respeitado. Que qualquer pessoa ao ser acusada tem direito a apresentar defesa aqui e na China. E, por fim, que ao Judiciário, e somente a este respeitado poder, cabe julgar. Ao menos até o momento.