Por Joedson Telles
Apanho dois episódios vivos na memória do internauta para, juntos, refletirmos sobre a vida nesta terra onde a cultura intrínseca, equivocadamente, vela o negativo como uma escultura de mal gosto a enfeitar a sala de estar do adjacente. Emite a falsa sensação de imunidade frente aos problemas mais cruciais. A prisão e todo desfecho até a cabeça raspada do ex-prefeito de Capela, Manoel Sukita, e a precoce derrota do saudoso Marcelo Déda para um câncer, ironicamente, no momento que sentava na cadeira de governador do Estado, correspondem à expectativa do pressuposto pronto a ser sustentado por uma argumentação que visa persuadir sem, contudo, desrespeitar, a inteligência alheia.
A ironia da vida coloca lado a lado Sukita e Déda com seus dramas pessoais – dois políticos cujas imagens perante a opinião pública são controvérsias em si. Se por um lado, açodadamente ou não, Sukita já está julgado e condenado, não pela Justiça que tem o nobre papel, mas por setores da mídia e grande parte da opinião pública como um ladrão com direito a gozações, humilhações e novo visual, encontramos do outro extremo, mas, paradoxalmente, como disse, ao lado no drama, a história de um Déda cuja honestidade jamais foi colocada em xeque nem pelos mais ferrenhos adversários. São na verdade dois registros da história política de Sergipe que transitam caprichosamente da vitória nas urnas à solidão posterior – seja numa cadeia ou num cemitério. Para muitos, infinitamente menos traumática a situação de Déda, mesmo amargando a morte. Descansa em paz como um homem de bem. Desconheceu a melancolia de um sol quadrado.
Tanto num caso como no outro, cujos detalhes por serem por demais conhecidos desobrigam a alusão neste momento, contudo, obrigam com eloquência magistral uma reflexão aos mais lúcidos. Que bom seria se todos tivessem a consciência que estamos aqui de passagem, mas com a missão de, através de Jesus Cristo, é só através dele, carimbar a passagem para a salvação eterna mediante o plantio da boa semente. Pobre dos que fazem pouco caso disso e se apequenam na carne… E como nem todos conseguem perceber a importância da espiritualidade neste mundo, episódios como os mencionados emergem como uma ação pedagógica não apenas para os seus atores, mas também para qualquer mortal que tenha o mínimo conhecimento sobre os fatos e não calhe na armadilha de se achar inaccessível aos problemas.
Percebam que, ao vencerem as últimas eleições, Sukita e Déda projetaram um futuro bem diferente do filme ao qual Sergipe assiste neste momento. Político jovem e oriundo da camada mais baixa da sociedade, Sukita poderia não apenas ter feito seu sucessor em Capela, no caso sucessora, mas também seria um nome forte dentro do PSB para ser apontado, inclusive, como representante de uma chapa majoritária – sobretudo com a prioridade do partido em manter Valadares Filho na Câmara Federal. No mínimo, seria deputado estadual. Mas tão logo sentiu o poder em suas mãos, Sukita enveredou por caminhos que resultaram na maquina zero a deslizar sobre sua cabeça numa pequena cela. E Déda? Sem muitas palavras, governador duas vezes no primeiro turno contra o maior político de Sergipe, João Alves, Déda seria candidato natural do seu grupo ao Senado Federal com grandes chances de vitória.
Percebam como em pouco tempo – recorramos a Toquinho – “o futuro chegou, e, sem pedir licença, mudou a vida e depois convidou a chorar”. Evidente que, se Sukita não pensou em estar preso em pleno ano eleitoral, imagine se Déda cogitou a própria morte antes de sequer terminar o mandato? Entretanto, os fatos são frios e cruéis ao extremo. Se dentro de Sukita ainda pode ser passado um filme a levá-lo ao arrependimento, com Déda a coisa é inerte. Eternamente falecida, óbvio. Também não procurou a doença, evidente. Em suma: se estamos vivos na terra estamos sujeitos a tudo e não vale a pena tanto açodamento pelas coisas materiais. “Buscai o reino de Deus e a sua justiça, e as demais coisas serão acrescidas”, diz a Bíblia…
… A propósito, estamos num ano eleitoral. De praxe, o vale tudo sobe a níveis insuportáveis. Agressões – inclusive físicas – sempre fazem parte do cardápio. Falta ética, gratidão, vergonha, respeito – às normas e leis eleitorais e aos próprios concorrentes. Sempre falta dignidade para se evitar a compra de votos. E, em muitos casos, faltam as provas consistentes para calhar na punição do corrupto e corruptor. Falta vergonha na cara – inclusive dos eleitores que repetem o mesmo erro e caem em promessas enganosas e conhecidas. Há também os que votam por votar, mas dão de ombros para a política ou, na pior das hipóteses, trocam o voto por algum favorzinho.
Os casos Sukita e Déda deveriam acordar candidato e eleitor. Deveriam persuadir o candidato que promete servir à sociedade a honrar sua palavra – e ir além zelando pela coisa pública. Colocar os interesses coletivos acima dos individuais. Os eleitores, por sua vez, precisam não apenas escolher melhor como também cobrar as promessas. Acompanhar de perto e punir, se for o caso, nas urnas. Denunciar os corruptos. Os infiéis. Os incompetentes. Os que vivem de acordos imorais pendurados em cargos ou pendurando parentes.
Mas duvido que isso aconteça. Pessimismo? Nem tanto. Creio bem mais no verbete realismo. Lucidez. Conhecimento de causa normalmente filtra ilusões. Como dados viciados a favor do jogador, a história continuará se repetindo. E Déda, a cabeça raspada de Sukita e os exemplos que não deveriam ser jogados no lixo servirão apenas para título de texto totalmente fora da realidade de uma política cínica e egocêntrica voltada para os interesses de pouquíssimos e que cada vez mais que teima em permanecer ativa a qualquer custo.