É factível na história, nos livros, nos filmes…: antes de o perigo chegar ao rei, os guardas do castelo sempre tentam antecipar a defesa. Às vezes de forma desesperada. Atabalhoada, é fato. Todavia, por fidelidade ao boss ou acossados pelo temor de perder o posto, vassalos estão sempre na linha de frente. Ariscam a própria pele. Põe a vida em xeque. Tudo romanticamente em nome da serventia.
O pensamento insurge, não antes de uma boa gargalhada, ao esbarrar na preocupação de conhecidas figuras com o registro da candidatura do empresário Edivan Amorim (PR) a deputado estadual. Sempre prontas a materializar a própria imaginação, quando o castelo velado sofre a menor ameaça de ser invadido, as tais figuras não tardam a manter viva a cultura de rechaçar quaisquer ameaças insubordináveis. São 24 deputados estaduais e oito federais. A maioria disputará as eleições. Temos também gente que já teve mandato e quer voltar a ter. Mas o foco é Edivan Amorim que nunca teve um mandato. Curioso ou óbvio além da conta?
Atônitos, os guardas tentam passar uma abissal surpresa com o fato de o empresário ter declarado um patrimônio de menos de R$ 80 mil. O suposto susto, obviamente, precede uma desinformação assustadora ou uma má vontade de igual tamanho, já que o empresário já explicou que se vale do chamado usufruto, mas todos os bens que lhe pertenciam foram passados para herdeiros quando o seu casamento ruiu.
Edivan, acredito, arquitetou um plano para calar a boca de adversários raivosos que argumentam que ele tem problemas com a Justiça e, assim, não poderia ser candidato. Se a candidatura não for impugnada, cala de tristeza. Se for, se cala por calar. Homenageemos, assim, o grande Zé Ramalho. O tempo dirá.
O fato é que os que não gostam de Edivan Amorim não têm coragem de admitir, mas temem que ele se empolgue com a ideia, a candidatura seja mantida e vitoriosa nas urnas – sobretudo se votação massacrante for algo de família, e Edivan ganhar ao estilo Eduardo Amorim. Aliás, como quem prevê a eleição adversária, ao estilo peru de natal, vassalos sofrem antecipadamente, acredito, imaginando o “deputado estadual” Edivan Amorim como presidente da Assembleia Legislativa. Diz o lugar comum: “um elefante chateia muita gente”. Digo eu: Venâncio e Edivan no mesmo plenário chateariam muito mais.
O ódio ao empresário Edivan Amorim e a pouca intimidade com o ofício, entretanto, ofuscam de boa o fato de o empresário não ter planejado a tal candidatura – algo imprescindível ao sucesso. Por conta disso, fica quase impossível articular forças em torno do projeto a esta altura do campeonato – sobretudo pelo fato de Eduardo Amorim precisar ter em torno de si o maior número possível de candidatos a deputado estadual. Uma candidatura de Edivan, evidente, está na contra-mão por motivos óbvios. Mas, como política não surpreende os mais lúcidos, o tempo, mais uma vez, está intimado a jogar luz sobre dúvidas. Restam?